O dia em que o Metal pôs o Suado a correr

O post do Parada sobre a Teoria e Prática da Falência Moral do Brasil Suado me lembrou outro episódio que envolve o compositor Carlinhos Brown na tese. No Rock in Rio de 2001, os organizadores do festival escalaram o baiano para o abrir o dia do show destinado ao Heavy Metal. O autismo foi recompensado – para mim, que é o que importa – ao vivo quando Brown entrou no palco e começaram os apupos ao afoxé. Ele não se intimidou e começou um daqueles discursos idiotas sobre "Tolerância e Pós-modernidade no Brasil Multiculturalista e Cibernético (isso em um evento patrocinado pela America Online brasileira, exemplo copioso de fracasso)".

As vaias grassaram. Os camisa preta haviam invadido o Rio de Janeiro. Quando saí do show dois dias antes, já tinha filas com a espécie acossando os fãs de Britney Spears e Sandy & Júnior. A rodoviária do Rio foi tomada de assalto e decretada Zona Livre do Metal durante três dias. A última coisa que queriam ouvir era batucada e conversa mole. Mas Brown não se conteve. Começaram as voar as primeiras garrafas de caçulinha com água mineral da Schincariol. Quem foi deve se lembrar do artigo raro – logo, caro – que era. Carlinhos avançou na rampa de 50 metros que ia ao meio do público da Cidade do Rock. Foi um fiasco. Urrava coisas como "Vocês não podem me atingir porque eu sou do Axé (Bahia, PT, Candomblé, Caetano etc). Sou melhor do que vocês e vou até o fim".

A galera do Metal não se medrou e metralhou o Dr. Pangloss da Bahia com centenas de garrafinhas da Schincariol. Na maioria cheias, voavam com uma raiva espantosa. A aerodinâmica da embalagem ajudava: formato de bolinha de papel do colégio. E se uma bem atirada doía na têmpora, imaginem a aflição e dor do bom selvagem fulminado pelo plástico. Brown não caminhou metade da pista. Voltou correndo e tratou de encerrar o show. Eu me deleitava, via satélite, de Parati. Aquilo sim era show de Rock.

Creative Commons License