Doutor Marcola
"Ávido leitor, Marcola PCC gosta de indicar aos amigos de cárcere a leitura de "A Arte da Guerra", livro escrito há mais de 2.500 anos pelo filósofo chinês Sun Tzu. Marcola também gosta de indicar a leitura do poeta italiano Dante Alighieri. Carombola, Macarrão, Júnior e Gegê [líderes do PCC], assim como o mentor Marcola, quase nunca falam gíria e sempre sabem, de acordo com agentes penitenciários que cuidaram deles, como negociar moderamente aquilo que desejam." (Folha de São Paulo)
Já leu mais livros do que o Lula e o Lembo juntos.
Bandido carioca é tudo chinelão.
Folha de São Paulo
São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 2006
GUERRA URBANA/ PERFIL MARCOLA
Líder máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camargo começou no crime como batedor de carteiras no degradado bairro paulistano
Das ruas do Cambuci à "Arte da Guerra"
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Punguista. Foi nessa função, ainda na segunda metade da década de 70, que Marcos Willians Herbas Camacho, 38, o Marcola, hoje o líder máximo da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), começou sua vida no crime pelas ruas decadentes do bairro do Cambuci, na região central de São Paulo.
Hoje, Playboy, como também é chamado pelos amigos criminosos, é o responsável pela maior onda de atentados já ocorrida no Estado de São Paulo e tem fama internacional, muito parecida com a que teve o traficante colombiano já morto Pablo Escobar, líder do Cartel de Cali.
Ávido leitor, Marcola PCC gosta de indicar aos amigos de cárcere a leitura de "A Arte da Guerra", livro escrito há mais de 2.500 anos pelo filósofo chinês Sun Tzu e que também é a obra de cabeceira do ex-técnico da seleção brasileira de futebol Luiz Felipe Scolari.
Com base no ensinamento máximo da obra, "para derrotar um inimigo, é preciso conhecê-lo", Marcola conquistou o respeito da massa carcerária e conseguiu a façanha de mobilizar milhares de detentos ao mesmo tempo, até mesmo fora de São Paulo. No início da década, numa tentativa de isolá-lo e diminuir seu poder, o governo paulista o mandou passar temporadas em um presídio do Rio Grande do Sul e em um outro de Brasília (DF).
A receita do isolamento teve efeito contrário e Marcola, que também gosta de indicar a leitura do poeta italiano Dante Alighieri, conseguiu difundir ainda mais as "filosofias" do P.J.L. (Paz, Justiça e Liberdade), que, teoricamente, regem a conduta daqueles que fazem parte da organização criminosa, criada em agosto de 1993, durante uma partida de futebol disputada por oito amigos de Marcola, dentro da Casa de Custódia de Taubaté (130 km de SP).
De fala mansa e muito galanteador, segundo as pessoas que mantêm contato mais direto com ele, Marcola tem uma filha. Atualmente, ele namora uma moça que estuda direito. Marcola foi casado com a advogada Ana Maria Olivatto Herbas Camacho, 45, assassinada com dois tiros na cabeça, em 23 de outubro, em Guarulhos (Grande São Paulo).
O crime foi cometido, segundo a polícia, a mando de outros membros da facção criminosa que estavam revoltados com a postura da advogada em tentar impedir que os integrantes do PCC cometessem atentados como os dos últimos dias.
Antes de ascender ao posto de líder do PCC, Marcola teve de destituir do poder os ex-companheiros e fundadores da facção José Márcio Felício, o Geleião, e Cesar Augusto Roriz, o Cesinha, ambos considerados "radicais" por defenderem ataques contra às forças de segurança do Estado.
A rede de proteção de Marcola no comando da facção é formada por homens que também têm poder de manipulação junto à massa carcerária: Júlio César Guedes de Moraes, o Julinho Carambola, também conhecido por gostar de fazer citações de livros, Orlando Mota Júnior, 34, o Macarrão, com quem o governo estadual negociou durante os últimos dois dias o fim da onda de violência, Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, 34, irmão de Marcola recém recapturado pela polícia, e Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, apontado como um dos envolvidos na assassinato, em 2003, do juiz Antonio José Machado Dias, 47.
Carombola, Macarrão, Júnior e Gegê, assim como o mentor Marcola, quase nunca falam gíria e sempre sabem, de acordo com agentes penitenciários que cuidaram deles, como negociar moderamente aquilo que desejam.
Para manter a facção, Marcola e os seus "irmãos", como são tratados os membros do PCC, cobram R$ 500 dos criminosos que estão em liberdade e R$ 50 dos que estão presos, em troca de proteção. Essa verba, sempre depositada em contas bancárias de pessoas ligadas aos líderes, serve para financiar o tráfico de drogas, o resgate de presos e atentados.
"Bin Ladens"
Quando um "irmão" do PCC, ou um "primo", denominação dada aos simpatizantes da facção, não consegue dinheiro para quitar sua contribuição mensal com o grupo, ele passa a ser aliciado para cumprir missões a mando dos "pilotos" do grupo, que são os detentos que têm contato mais direto com Marcola e seus subordinados imediatos.
Pela hierarquia de comando criada em 1993, pilotos são aqueles detentos que cuidam das "faculdades", ou seja, das prisões onde há domínio do PCC. São eles também quem repassam, com o uso de telefones celulares, as ordens para que ataques ou mortes em nome da facção sejam cometidos pelos "bin ladens" ou homens-bomba, em referência a Osama bin Laden, líder da Al Qaeda, e aos membros de organizações terroristas islâmicas.
Para pressionar um "bin laden" a cometer crimes, os pilotos da facção dão um "salve" (aviso) em que apresentam duas opções aos arregimentados: ou ele acerta o valor que deve ao grupo ou cumpre a missão, seja ela no seu bairro ou em uma outra área; caso contrário, ele passa a ser considerado um traidor do "Partido do Crime" ou do "15.3.3" (por causa das posições das letras "P" e "C" no alfabeto), as outras nomenclaturas da facção paulista.
Em muitas situações, os ataques são cometidos por jovens que tentam "fazer o moral" perante os criminosos do bairro onde vivem e que são membros do PCC. Isso é uma maneira de demonstrar a vontade de entrar para o grupo.
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