Alguém precisa dar um jeito na Veja

Uma palhaçada sem limites a resposta do diretor de redação de Veja sobre as críticas de Lula à acusação de que o presidente teria uma conta no exterior com míseros US$ 38 mil.

Merecem destaque sobretudo dois pontos da réplica. Primeiro, que "a revista, na reportagem, não afirma que a conta bancária atribuída ao presidente Lula é verdadeira. Também não diz que é falsa, por não dispor de meios suficientes para fazê-lo". Ora, se não tem certeza, publicou por que a informação? Isso vai contra qualquer regra básica de ética jornalística. Uma coisa é publicar um fato errado por engano, o que pode acontecer nas melhores redações, mas publicar um fato sobre o qual não se tem certeza é um crime.

Segundo, a explicação da revista para a publicação de um fato duvidoso sobre o presidente da República é "evitar o uso das supostas contas como elemento de chantagem". Obviamente, a revista se arriscou a difamar o mais alto funcionário da nação apenas por espírito cívico. O fato de que a Editora Abril doa dinheiro às campanhas de candidatos tucanos e provavelmente apoiará Alckmin não tem nada a ver com isso. Sei. Nem o governador Cláudio Lembo acreditaria nessa.

Leia a íntegra da réplica abaixo.

Em Viena, onde participa da cúpula entre países latino-americanos e europeus, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou neste sábado a reportagem A Guerra nos Porões, publicada na edição de VEJA desta semana. VEJA informa que o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) apresentou à CPI dos Bingos um documento no qual o banco Opportunity, controlado pelo banqueiro Daniel Dantas, diz ter sofrido perseguição do governo Lula por rejeitar pedidos de propina de "dezenas de milhões de dólares" feitos por petistas em 2002 e 2003.

O documento redigido por advogados de Dantas diz ainda que cardeais petistas manteriam dinheiro escondido em paraísos fiscais. Entre eles estão o presidente Lula, os ex-ministros José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda), Luiz Gushiken (Secom), o atual titular da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, e o senador Romeu Tuma (PFL-SP). (*Leia a íntegra da reportagem.)

Lula disse: "A VEJA não traz uma denúncia. A VEJA traz uma mentira. Se tivessem me avisado antes que eu tinha 38 mil euros, eu teria comprado um presente para a dona Marisa. Vamos ser francos, a VEJA tem alguns jornalistas que estão merecendo o prêmio Nobel de irresponsabilidade. Eu só posso considerar isso um crime praticado por um jornalista ou por uma revista. Eu não posso comparar isso a jornalismo."

Ainda segundo o presidente: "Sinceramente é de uma leviandade, é de uma grosseria, um ser humano comum não pode admitir isso, quanto mais o Presidente da República. Eu acho que quando as pessoas têm o poder de
escrever alguma coisa, aumenta a responsabilidade dessa pessoa", disse o presidente.

Diante da reação do presidente Lula, VEJA responde:

1) O presidente Lula não leu e não gostou do que não leu. Ainda assim reagiu intempestivamente à reportagem de VEJA. Insultou jornalistas e a publicação. É uma atitude imprópria para um presidente da República. É imperioso ler antes de criticar.

2) VEJA chegou ao posto de mais respeitada e lida revista brasileira e quarta revista semanal de informações do mundo pela qualidade de suas reportagens.

3) Houvesse o presidente Lula lido a reportagem, teria percebido que se trata de um trabalho de investigação sobre o banqueiro Daniel Dantas, com o qual seu governo mantém uma relação tão conflituosa quanto incestuosa — relação que vem sendo objeto de reportagens de diversos veículos de comunicação.

4) O presidente disse que o autor da reportagem poderia ser chamado de “bandido e malfeitor”. Disso Lula entende. Nada menos do que 40 de seus companheiros mais próximos foram descritos pelo procurador-geral da República como uma “quadrilha”.

5) A reportagem em questão é fruto de seis meses de investigação. A divulgação do resultado do trabalho de apuração, como a própria reportagem ressalta, foi feita justamente para evitar o uso das supostas contas como elemento de chantagem.

6) A revista, na reportagem, não afirma que a conta bancária atribuída ao presidente Lula é verdadeira. Também não diz que é falsa, por não dispor de meios suficientes para fazê-lo.

7) Para concluir, VEJA reafirma seu compromisso com os leitores e com o Brasil de prosseguir em sua tarefa de fiscalizar o poder em todas as suas esferas, para impedir que "sofisticadas organizações criminosas", ainda nas palavras do procurador-geral da República, continuem a corroer a democracia brasileira,

Eurípedes Alcântara
Diretor de Redação
VEJA

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