Manuela d'Ávila fala sobre o PT
Continuando a entrevista com a vereadora porto-alegrense Manuela d'Ávila, abordam-se as diferenças entre o PCdoB e o PT, partido no qual ela já militou. A parlamentar comunista fala também da sua experiência nas universidades pública e privada e sobre a União da Juventude Socialista.
Träsel: Mas qual é a tua avaliação do intercâmbio de idéias da elite pensante na universidade? Foi lá que teve mais contato com idéias...
Manuela: Tem muito limite, tem muito limite. A universidade foi pensada na última década, pelo Fernando Henrique, para ser um ambiente acrítico. É só tu ver a redução do investimento em pesquisa. Nas Humanas teve um fracasso de investimento. Por quê? Pra formular menos. Então tu sai de uma ditadura militar, tem um processo de redemocratização com um turbilhão de idéias. Todo mundo querendo a queda do Muro do Berlim. Pô, um monte de coisa. Tem gente que se abala. Fim da Esquerda, [Francis] Fukuyama, acabou a História. E aí vem um ambiente muito propício ao pensamento. E aí vem quem? Vem o tio FH e não investe mais nisso. E tu tem uma resistência dentro da faculdade, de pesquisadores, mas tem um limite que é pensado. Não é pensado, assim, maquiavelicamente, mas que é fruto de uma política, que é o neoliberalismo, que pensava um desenvolvimento dependente para o Brasil. Então, para responder à tua pergunta. Eu comecei a militar na greve. Nos apitaços, acampamentos - que inclusive depois geravam muitos filhos. Tinha vários namoros, casamentos, que aconteciam depois. É bom, né? Eu, pelo menos, luto para que o jovem de esquerda seja igual aos outros. Bom, mas aí eu me filiei na UJS [União da Juventude Socialista], que é a nossa organização de juventude do movimento estudantil.
Träsel: Da qual tu é presidente.
Manuela: Agora eu sou presidente estadual. O nosso presidente foi para a Executiva da UNE. Eu tinha sido presidente da UJS de Porto Alegre, bem antes. Nem me lembro o ano. 2001, acho. Em que ano a gente tá, 2006? Então foi em 2002. [Confirma com uma assessora]. Aí foi isso. Eu me organizei, depois de um ano, eu me filiei ao PC do B, porque eu não tinha convicção, queria entender a diferença entre o PC do B e do PT do ponto de vista de militante mesmo. Eu queria militar em um partido que...
Träsel: E qual é a diferença?
Manuela: A principal é para que serve tudo que a gente faz. Acho que essa é a principal. Nós não perdemos esse horizonte. Eu consigo entender a visão de vários petistas que não compreendem - não da direção, digo de pessoas que se identificam com o PT -, se identificavam com o PT e estão extremamente frustradas, porque não entendem o governo Lula historicamente. O governo Lula, pra gente, tem um objetivo claro: acumular força. Acumular força para quê? Para o nosso país crescer, se desenvolver. Para criar um ambiente democrático, né, porque o ambiente que o Fernando Henrique pensava não era um ambiente democrático. Um momento em que movimento social toma pau do exército, para não se manifestar. Então, criar um ambiente democrático para tu chegar no objetivo mais além, que é o Socialismo. A gente tá acumulando forças. Se eu entendesse como um fim nele mesmo, falava "porra, ele é o fim dele mesmo e não tá fazendo nenhuma transformação radical".
Gallas: Então, historicamente, o PT tenta acumular forças, mas de uma forma democrática.
Manuela: O PT, eu não sei. Nós fazemos isso, né? Nós queremos construir o Socialismo. O Socialismo é o nosso norte. Vamos fazer de conta que a gente tá numa estrada, tá? A nossa estrada, mas o mais longe que a gente consegue enxergar agora é o Socialismo, a gente é comunista. Vamos falar até o Socialismo.
Gallas: Mas qual o horizonte do PT, na tua opinião?
Manuela: Eu acho que alguns setores do PT defendem o Socialismo. E acham que o PT é um partido que constrói o Socialismo. Enfim, é legítimo que eles achem isso. Tem muito comunista no PT. Não acho que os comunistas todos estão no PC do B e tal. Agora, o PT, historicamente, é um partido em disputa. Tem um setor mais avançado e tem setor que defende uma Social-Democracia com direitos, talvez parecida com o que existiu em alguns momentos na Europa, mas que se mostrou fracassada. Mas acho que é isso, uma disputa.
Gallas: Tu acha que no PCdoB não tem disputa?
Manuela: Não, pra nós é muito claro isso. Essa é a diferença de um partido que não tem tendências. Então, nós temos isso muito claro. O PT é um partido que reivindica a construção de uma outra sociedade mas não aponta o Socialismo como a única alternativa deles. Acho que isso é o que melhor define.
Gallas: Por que a Câmara como espaço de atuação política?
Manuela: Porque a gente fez uma avaliação na época da eleição. Eu era da UNE. Tanto que eu me afastei da gestão quando concorri. A gente fez uma avaliação de que Porto Alegre... Primeiro, a gente sempre teve uma visão crítica com relação ao tratamento dado à temática de juventude. Há algum tempo a gente desenvolve isso. Subestimam mesmo o papel da juventude, com uma visão eleitoreira. De "bom, o quanto se tem que trabalhar essa temática porque é um contingente eleitoral grande". Essa é uma lógica que predomina no Brasil. E a gente fez a avaliação de que não existia esse espaço, porque nós, nos 16 anos de Administração Popular, embora a gente tenha tido alguns avanços na temática, tudo ainda foi muito limitado. A prova maior disso veio depois, né? Acho que a eleição confirmou que existia esse espaço. Confirmou mais: que poucos enxengarvam na esquerda algum tipo de renovação. Renovação política. É muito mais arejada a nossa campanha. Alguns tentam desqualificar, porque têm uma visão dogmática do que é esquerda. Reproduzem o dogmatismo da esquerda da década passada. Tentam desqualificar dizendo que é despolitização, porque transformava a política em algo mais simples para as pessoas compreenderem. Isso marcou a nossa idéia de que havia necessidade de renovar e de que havia a necessidade de trabalhar a juventude de uma maneira séria e sistemática em Porto Alegre. Não só eventualmente, quando desse na telha. E a maior prova disso é que depois que a gente veio para cá tudo, tudo, tudo, qualquer coisa que tu pensar relacionada à juventude, nunca existia em Porto Alegre. Nada. Tinha idéia, a gente ia conversando, fazendo reunião. Tínhamos as nossas propostas de candidatura. Depois que a gente encaminhou todas elas, bem, aí nos seis primeiros meses de mandato a gente tinha projeto com o que a gente propôs na campanha. Aí qualquer idéia que surgisse, a gente ia e lia para ver se algo a respeito tinha ou estava sendo feito, e não tinha nada. Única coisa que existia era o Dia Municipal do Grafite.
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