Manuela: "parece a União Soviética"
Publicamos hoje a quarta parte da entrevista com Manuela d'Ávila, em que a vereadora comunista compara a burocracia da Câmara à da União Soviética. Manuela também faz um balanço de seu primeiro ano de mandato e critica a separação entre o povo e seus representantes.
Manuela: Essa burocracia, eu até brinco. Ali na SEC parece a União Soviética. Um negócio imenso, com um monte de salinha que é óbvio que ninguém consegue produzir como produziria num ambiente mais silencioso, mas tudo bem. Tu tem isso, e tu tem uma concepção, na minha opinião, antiga de fazer política. Eu vou dar um exemplo para vocês: eu tenho outros vereadores que compartilham dessa opinião. Já propus mil vezes: eu preciso de menos papel, eu uso muito a Internet. Por quê? É mais ágil, é mais barato para o poder público. Não gasto selo. Eventualmente, óbvio, tu tem que usar. Agora vai ter conselho do meu mandato daqui a um mês, reunião do conselho do mandato, para dar idéias, para prestar contas do que tá fazendo. Aí tem que usar selo, porque tem muita gente que não tem e-mail ainda, tanto que uma das coisas que a gente trabalha é a inclusão digital. Eu não preciso receber as coisas impressas, gasta papel, é burocracia, eu abro o e-mail de dez em minutos. Eu levo o laptop pro plenário, sabe? A lógica é uma lógica antiga de fazer política, entende? Isso passa pela estrutura material, mesmo. Tudo bem, então eu faço a opção. Ao invés de aplicar X de papel nesse mês, eu quero investir esse dinheiro no poder público e comprar um computador. Vai ficar para o patrimônio da Câmara. Eu falei: "eu preciso de mais dois computadores". Então, eu comprei com o meu dinheiro. Dois computadores [originais do gabinete] não tem como num ambiente que é contemporâneo. Não é porque eu sou jovem. Em qualquer lugar, cada pessoa tem um computador. Em qualquer lugar de trabalho. Não, aqui tu tem dois. A estrutura é uma estrutura pensada numa concepção velha de política.
Gallas: Hmm-hmm.
Manuela: Eu tenho site. Eu sou a única parlamentar que tem o site atualizado todos os dias aqui. É a ferramenta mais ágil de comunicação, mais dinâmica e mais barata. Não é a Internet? É isso.
Gallas: Hmm-hmm.
Manuela: Então tem uma concepção que também, para além da questão, óbvio. O Parlamento não muda a vida das pessoas todas. As mudanças que eu acho que tem que acontecer na sociedade são do povo organizado, são do povo querer. Não acho que a gente vai decretar aqui: tem dia de falar o PSTU. Revolução sem o povo querer é ditadura como a que a gente viveu há 200 anos atrás. O povo tem que querer as coisas.
Gallas: Hmm-hmm.
Manuela: Às vezes, tu vai botar um projeto. É de interesse do povo, tem um PL [Projeto de Lei] meu que é com os grupos de teatro de Porto Alegre. "Gente, tudo bem. Não sou eu que quero. São vocês que querem. Vocês têm que se dar conta disso".
Gallas: A minha pergunta era mais assim tu, hoje, um ano e quatro meses depois, tu acreditas que esse caminho, esse projeto, a aprovação, toda essa mecânica da Câmara de vereadores, se ela é eficaz? Porque essa é uma das reclamações que muitas pessoas têm.
Manuela: Genericamente: não é, e é. Eu acho que ela pode avançar muito. A minha perspectiva com isso aqui pode avançar muito, entende? Muito. Tem vários aspectos. Relação com a população. A prefeitura me enche o saco quando eu tento colocar meu gabinete na rua. Tem o Gabinete Itinerante. Toda a semana a gente leva o gabinete para algum lugar. Por quê? Porque isso aqui é mal localizado, porque as pessoas não têm dinheiro para o ônibus, porque as pessoas não têm o hábito de procurar as pessoas que elas votaram. E a gente não quer isso. Eu não consigo botar onde eu quero. Uma porra duma banca, entendeu? Porque é uma visão velha de política. "O que é que ela tá fazendo lá? É campanha”. Não é campanha, gente. Eu levo só pau. As pessoas vão lá e reclamam.
Gallas: A prefeitura enche o saco?
Manuela: Enche. É uma burocracia, leva um mês. Eu faço toda semana. Então agora, eu tenho um calendário para um ano.
Träsel: Para liberar um espaço?
Manuela: Para liberar um espaço.
Gallas: E onde é que é, a banca é itinerante?
Manuela: Itinerante. A gente vai, conversa com as pessoas, elas perguntam as coisas que elas querem perguntar. Eu fico lá, às vezes eu fico três horas do dia lá. Tenho que vir pra cá. Então, é uma estrutura que tem que ser melhorada. E a gente tem pouco processo de participação na elaboração de leis, tipo o Plano Nacional da Juventude que a gente fez agora em Brasília foi um processo tri-interessante, porque a gente conseguiu juntar as coisas, porque quem vai votar são os deputados. Os deputados foram eleitos para isso. Eu não sou a favor das discussões de "não, o povo decidiu...". O povo já decidiu. Elegeu pessoas que são legítimas para decidir. O que a Câmara Federal fez? Vamos fazer debates nos 26 Estados e no DF, ouvir os movimentos juvenis, aí vão vir delegados para Brasília, para a gente apresentar o relatório do Projeto de Lei, aí eles vão poder opinar. Aí depois que eles opinarem, eles não votam nada. E tem todas as nossas opiniões para votar o Projeto de Lei. Aí é óbvio, eu vou pressionar os parlamentares do PCdoB, do PT, eu como militante do movimento juvenil. Não existe verdade absoluta, entendeu? Eu me dou bem com quase 90%, 95% dos parlamentares.
Gallas: 95%? Um número bom, esse. Bem preciso.
Manuela: É que eu calculei. Tentei fazer um cálculo.
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