Cobertura eleitoral no RS: Zero Hora
Em entrevista concedida ao site Coletiva, a editora executiva de Política da Zero Hora, Rosane de Oliveira, falou sobre o planejamento do jornal para a cobertura das eleições desse ano:
Os blogs de jornalismo político tiveram uma explosão em todo o Brasil depois do escândalo do Mensalão por apresentarem alternativas de cobertura. Jornais do centro do país começaram a apresentar os seus formatos de blogs jornalísticos nessa época. Por que a RBS demorou tanto tempo para entrar nesta?
Olha, basicamente é porque nós temos um problema de estrutura, mesmo. A nossa prioridade não é o blog. Por que a nossa prioridade não é o blog? Porque nós temos um compromisso com os nossos leitores - compromisso com os leitores que pagam para receber um produto que tem de ser de primeira qualidade. Então, por que eu, por exemplo não tenho um blog? Porque eu tenho que escolher. Eu não tenho tempo para fazer. Então, eu teria que ter uma equipe só para fazer um blog. O Ricardo Noblat, por exemplo, não faz sozinho seu blog. Ele tem uma equipe do tamanho da minha editoria inteira para fazer só o blog. Então, a gente tem que fazer umas opções. Ou se tem estrutura para fazer bem, ou nem começa. Agora nós abrimos os blogs da eleição contando com a participação das outras mídias, dos repórteres das rádios, dos repórteres da TV. E, mesmo assim, a gente não consegue - eu, pessoalmente, não consigo – dar a atenção que eu gostaria porque eu tenho que eleger alguma coisa como prioridade.
Quanto tempo o jornal levou para planejar a cobertura das eleições?
Foi em três fases. Na primeira, a gente fez um planejamento básico, que foi para vender a cobertura para o Comercial. Nós somos um dos poucos jornais do Brasil que consegue patrocinador para a nossa cobertura. Então, na primeira fase - isso foi lá no ano passado -, em setembro e outubro, nós fizemos esse roteirão básico do que seria nossa cobertura. E esse ano, lá por março, abril, a gente fez uma coisa mais interativa com o resto da redação. Primeiro, reunimos a nossa equipe com algumas pessoas que tinham feito o planejamento da Copa do Mundo, para a gente ver o que poderíamos aproveitar das experiências deles. Dessa reunião, nós resolvemos consultar pessoas de diferentes editorias na redação para perguntar o que eles achavam que deveria ter na cobertura. Nós tínhamos um conceito básico, já, que era: essa cobertura deveria ter três vertentes. Que era o leitor no centro da cobertura. A segunda coisa era a interatividade conseqüente. Quer dizer: nós vamos colocar o leitor a participar muito dessa cobertura, mas que seja uma interatividade que trate de mostrar os problemas do Estado e não só dar palpite. Essa do leitor no centro da cobertura significava o quê? Que a gente queria mais do que os candidatos aparecendo com as suas propostas, eles tratassem daquilo que o eleitor quer saber, daquilo que a gente acha que é importante para o leitor. A terceira vertente seria também o foco no jovem.
Recorrer ao leitor para dar as soluções que a sociedade precisa e deseja não é uma forma de desviar a cobertura às propostas objetivas dos candidatos?
Não, não é que a gente queira que o leitor dê as soluções. Queremos que o leitor aponte para os problemas que o preocupam. E, ao apontar esses problemas, a gente faz os candidatos falarem sobre os assuntos que eles não vão falar de livre e espontânea vontade na propaganda. Na propaganda, eles vendem o peixe deles. Agora, se o leitor nos manda dizer que tem uma ponte lá na cidade dele, que todos os candidatos prometem, nós temos que fazer esses candidatos falarem sobre esses assuntos que são incômodos para eles. Para completar sobre a questão do planejamento, reunimos os jovens da redação, os auxiliares de redação - porque são todos mais jovens do que nós na editoria - para que eles dessem sugestões. Recebemos sugestões também da equipe da Copa do Mundo, do Marcelo [Rech], da Marta [Gleisch]. Dos outros veículos, porque nós queríamos uma cobertura muito integrada com as outras mídias, e aí sim, então, nós montamos nosso planejamento que tá aí, pronto, desde antes da Copa do Mundo.
Até que ponto a interação com os leitores não fica engessada em relação à linha editorial do jornal? Onde fica a linha para separar o informativo do folclórico, quando se interage dessa forma com o leitor?
É que nós temos as sessões bastante específicas, assim, para a parte do folclore. Por exemplo, o Baú Eleitoral é uma sessão onde o folclore entra muito, que eles contam as coisas das eleições passadas. Nós temos um blog, que é chamado Voz das Ruas, que está sendo feito pelo Marcelo Fleury, que é um olhar estrangeiro sobre a cobertura. Tanto que não é um repórter da Política, é um repórter que sai com uma câmera na mão e um bloquinho na outra atrás de histórias que passam pela eleição. Mas isso não significa que a gente não tenha um foco superforte na coisa "hard" da eleição. Por exemplo, nós fizemos agora nossa primeira série - temos várias séries programadas -, que foi a das finanças públicas. É um negócio altamente pesado, denso, que tentamos publicar de uma forma compreensível para a maioria das pessoas, porque não adianta ficar fazendo matéria sobre as finanças públicas com um linguajar estratosférico, de déficit primário. Não é por aí. Então, a gente tentou comparar, mostrar sempre onde a crise das finanças dá o estouro lá na vida real das pessoas. É mais nesse sentido que a gente fala em botar o leitor no centro da cobertura.
Vocês acreditam que utilizando uma linguagem de internet dentro do jornal impresso é possível aprofundar melhor?
Não, nós achamos que utilizar a linguagem da internet não é exatamente a questão do aprofundamento. Usamos a linguagem da internet porque temos a idéia de que esse leitor hoje é um "e-leitor". A gente usa até essa simbologia da internet porque a maioria das pessoas tá super-conectada. Então, a gente faz ela interagir. E nós assuntos que são sérios também, que ela tenha participação, que ela não fique só com aquela idéia do "Li, e agora?", que não acabe na leitura do jornal. Que ela vá no ClicRBS, que ela opine, que ela participe dos nossos murais, que ela dê sugestões de pautas que ela quer que a gente aborde. Então, nós estamos sempre fazendo esse link. Não tem área proibida para o leitor. Isto é a nossa linha editorial. Não tem o que conflitar. O editorial, que é a opinião da empresa sobre as eleições, tá lá, esse sim, no "cercadinho", que a gente chama, do editorial. Agora, a nossa linha editorial prevê exatamente isso que nós estamos fazendo.
Os blogs de jornalismo político tiveram uma explosão em todo o país depois do escândalo do Mensalão por apresentarem alternativas de cobertura. Jornais do centro do país começaram a apresentar os seus formatos de blogs jornalísticos nessa época. Por que a RBS demorou tanto tempo para entrar nesta?
Olha, basicamente é porque nós temos um problema de estrutura, mesmo. A nossa prioridade não é o blog. Por que a nossa prioridade não é o blog? Porque nós temos um compromisso com os nossos leitores - compromisso com os leitores que pagam para receber um produto que tem de ser de primeira qualidade. Então, por que eu, por exemplo não tenho um blog? Porque eu tenho que escolher. Eu não tenho tempo para fazer. Então, eu teria que ter uma equipe só para fazer um blog. O Ricardo Noblat, por exemplo, não faz sozinho seu blog. Ele tem uma equipe do tamanho da minha editoria inteira para fazer só o blog. Então, a gente tem que fazer umas opções. Ou se tem estrutura para fazer bem, ou nem começa. Agora nós abrimos os blogs da eleição contando com a participação das outras mídias, dos repórteres das rádios, dos repórteres da TV. E, mesmo assim, a gente não consegue - eu, pessoalmente, não consigo – dar a atenção que eu gostaria porque eu tenho que eleger alguma coisa como prioridade.
É uma rotina pesada no dia-a-dia?
Eu tenho duas tarefas que são pesadas. Uma é fazer a Página 10, e a outra é a coordenação geral da cobertura de eleições, que também é minha responsabilidade. Eu tenho que estar toda hora conversando com as equipes e participando de reuniões.
E o blog de Brasília?
Brasília tem o dela, o Diários de Brasília, que existe faz tempo. Nós temos, na verdade, quatro blogs. Criamos o Votolog, que é uma espécie de cozinha da eleição, e que todo mundo pode postar ali. Temos outro, o Corpo a Corpo, que é um blog onde só os repórteres que estão nas ruas postam com as coisas que eles acompanharam dos candidatos e põem ali material que não sai no jornal também. Temos o Voz das Ruas, que é o do Marcelo Fleury, e começaremos agora o Palanque Eletrônico, que é com a propaganda eleitoral, uma análise política da propaganda. Acho que o blog é uma ferramenta superlegal, mas que ele te exige estrutura. E assim, também, nós não podemos perder de vista que a nossa tarefa número um, que o nosso compromisso é a produção de conteúdo.
Quantos repórteres estão escalados para a cobertura?
Nós temos um núcleo básico, os dez da Política. E nós temos uma força-tarefa que cresce à medida em que a eleição avança. Então, nesse momento a força-tarefa é composta de 20 pessoas. Aliás, nossos dez mais dez que vieram de outras editorias, que já estão aqui trabalhando conosco. Se a gente precisa de uma matéria extra, puxa-se mais alguém de outro lugar. Estamos fazendo os perfis dos candidatos - tem dez repórteres que não são da força-tarefa nos ajudando a fazer. Então, como a Zero Hora, a RBS, é muito grande, nós temos essa mobilidade, de pegar um aqui, outro lá. Isso para fazer a produção do conteúdo que vai para a Zero Hora. Cada mídia tem as suas equipes, e tem aquilo que a gente faz de uma forma integrada. No caso dos blogs, por exemplo, é o ClicRBS que mexe com isso. E daí ali eles recebem de várias pontas - inclusive da nossa equipe aqui da Zero Hora.
O jornal pretende publicar cadernos especiais sobre as eleições?
Não. Nesse ano, nós decidimos fazer no corpo do jornal para não desidratar o jornal. Porque senão ficava assim: a gente tira o caderno, e o principal assunto tá fora, que é a eleição. A eleição é tão importante que a gente quer ela junto, no corpo do jornal. A cobertura começa quase sempre na página 4 e 5, que é a nossa página especial (folheia o jornal). Agora, quando começar esquentar a campanha, vai indo e aí não tem limite. A gente vai, se for o caso, até a metade do jornal (mostra a matéria), aqui na 4 e 5, "O alvo dos candidatos". Então tá aqui, é assunto eleitoral. Se nós tivéssemos um caderno, isso aqui estaria lá desplugado no meio do caderno, e de repente a página principal do jornal estaria com um assunto deslocado de eleições. Talvez tenhamos que dar um caderno no dia seguinte à eleição, porque aí tem muita lista de resultados que precisa estar organizada. É inevitável.
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