A expressão clara do lulismo

O comício do PT ontem à noite no Largo Glênio Peres, apesar de tudo, passou a impressão de que a militância petista ganhou fôlego em relação à última campanha eleitoral, a municipal de 2004, ainda que isso possa parecer absurdo. Lembro de, em 2004, ver um melancólico cenário no mesmo local, com Raul Pont e Maria do Rosário discursando para meia dúzia de bandeiras, no comício petista mais vazio dos últimos anos. Estava ali retratada a desilusão petista, tínhamos apenas dois anos de um governo que já mostrava que não daria a guinada à esquerda que a militância esperava. O mensalão ainda não tinha chegado, mas a impressão que dava era de que o petismo estava morto.

Pois para meu espanto, ao chegar ontem à noite no centro da cidade, vi um largo completamente lotado – alguns dizem que foi o maior comício da campanha de Lula até agora.

Quer dizer, depois do mensalão, do dólar na cueca, do dossiê e do diabo a quatro, mesmo assim o Glênio Peres estava muito mais cheio que em 2004, sentia-se a vibração da militância como há muito não era possível sentir. Crianças cantando, bêbados gritando "viva Lula!" e gente que, ao contrário de 2004, não parecia estar recebendo dinheiro para agitar sua bandeira. No discurso, Lula mostrou que em pelo menos uma coisa não mudou: continua um monstro do carisma, hipnotizando a multidão durante quase uma hora, fazendo ela rir, gritar, se emocionar. Terminou o discurso lendo um poema de Darcy Ribeiro, em meio aos fogos de artifício. Voltei para casa meio sem entender o que se passou. O texto de Moisés Mendes na Zero Hora de hoje oferece algumas pistas para explicar a noite de ontem. Se o petismo morreu, o lulismo surge com uma força inimaginável – e que deve se comprovar nas urnas no próximo domingo, com Lula obtendo uma votação recorde na história do Brasil.

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