Na periferia tucana

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O saguão do aeroporto Salgado Filho estava cheio de jovens com adesivos de Yeda Crusius e Geraldo Alckmin grudados ao corpo. A militância petebista – partido que compôs a chapa de Germano Rigotto (PMDB) indicando a candidata a vice – compareceu em peso. Procurei, mas não encontrei Roberto Jefferson. Aglomerado é o termo mais adequado para nominar as pessoas que esperavam a saída de Alckmin da Sala de Imprensa. Pobres jornalistas. Seguranças fazem um corredor de isolamento para conter uma turba enfurecida que eles imaginam existir. Por alto, pouco mais de 100 militantes esperavam os candidatos dentro do hall.

Ser um jornalista periférico tem suas vantagens. Como não preciso prestar contas e declarações a ninguém, dou um passo para trás e observo a cena. A porta é aberta e o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB) passa de maneira furtiva pelo lado de fora do cordão de isolamento. A um metro de distância de nós, Serra tenta chegar à saída mas é constrangido a dar beijinhos e receber afagos de quem consegue reconhecê-lo.

A entrada de Yeda empolga mais que a de Alckmin a militância multipartidária. A claque os escolta até o palco onde será feito o comício, do outro lado do riacho que divide a avenida: o Pepsi On Stage. Acompanhamos o séquito. Para a vergonha dos repórteres, gritam "Ah, ele é gaúcho" para o Chuchu. Ao passar pela vala, vemos uma bandeira do PT jogada no esgoto e uma mendiga tentando fazer artesanato hippie com latas de alumínio ao lado dela.

No meio do caminho, decido comprar uma cerveja para agüentar a demência iminente. Mas o ambulante não podia abrir o isopor. Aliás, ele nem estava cuidando da banca. De costas para mim, preocupava-se em tirar fotos dos tucanos com sua câmera digital do que atender bem o cliente. Dentro do pavilhão da Pepsi, balões, cartazes, gente querendo colar adesivos em ti e dois balcões de comida da AM/ PM. Por alguma razão, me lembrei do último Rock in Rio. A impressão era que cada um lá dentro empunhava sua própria bandeira, fosse ela do PRONA à Força Sindical.

O locutor do evento diz que o candidato a vice, Paulo Feijó (PFL), iria começar o discurso em cinco minutos. Mas quem apareceu foi o governador reeleito de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). Apático, falou rápido para se livrar do fardo: "Começa a soprar o vento que vai acordar os adormecidos. É preciso dar um fim definitivo nesse perverso governo Lula". Nada do Feijó. O lucutor aproveita o intervalo e compele as pessoas a cantar de maneira comovente: "Vamos mostrar que a gente sabe o jingle de cor".

"Yeda, todo mundo aqui ficou com inveja da sua música", diz Serra, no início de seu discurso. Tenho o telefone do Chico Santa Rita, caso o paulista queira entoar mantras maneiros contra o PCC. "O Aécio ganhou do PT, eu ganhei do PT e a Yeda também vai ganhar do PT". A massa delira, mas os dois líderes tucanos fazem discursos breves.

Quando chega a vez de Yeda, o pavilhão está ocupado com no máximo 3 mil pessoas. O TIM Festival de 2005 com os Strokes e o Arcade Fire tinha muito menos espaço, mas estava apinhado de gente que pagou caro pelo show. O de ontem era gratuito. Yeda declara que "estamos juntos com o PMDB, PDT e PP". "Vamos mandar o PT para onde ele deveria ir: para casa". Em mais um arroubo do estado mais politizado do país, escuta-se novamente: "Ah, eu sou gaúcho". Ela aproveita para enfatizar que será a primeira governadora gaúcha "apesar de viver um estado machista". Vi até o Mano Changes (PP-RS) e o Gaúcho da Copa no palanque. Mas nada do Feijó.

Por último, Alckmin. "A Yeda pediu pra mim vir aqui. E a parte mais importante da minha vida são as mulheres". Foi a surpresa da noite. Quem organizou a ordem da apresentação cometeu um erro incrível ao deixar Alckmin por último. Clarões começaram a se abrir na platéia. A fuga da manada começou na metade do discurso do tucano e não parou. Vergonhoso. Sobrou até para o Hino Rio-Grandense. Todos se dão as mãos e cantarolam. Aí não dá. Com esse set list tu mata qualquer festa.

Ao menos, descobri o problema: todos falam o tucanês. Um pesadelo para os para jornalistas, pois os tucanos não conseguem discursar nem no mais básico lead de uma matéria. Explicar o porque, quando, onde e como é banal demais. As pessoas já deveriam saber o que eles falam, mas é inútil. Quem concorda não sabe explicar muito bem as razões para votar no PSDB. Mas agora é tarde. E se tu questionares mais um pouco, pronto: surge o Xiita Tucano. Se antigamente os petistas seguravam o bastão da Ética, cumpre agora aos tucanos a obrigação de questionar o caráter de quem faz muitas perguntas sobre o Eduardo Azeredo (PSDB/ MG). No fim das contas, tudo não passa de uma corrida de revezamento. E adivinhe em quem eles vão enfiar o bastão depois que essa eleição acabar.

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