Demência moral profunda
O Träsel, membro desta Nova Corja, narra em seu blog pessoal a terrível experiência de ter sido vítima de um assalto. Talvez o mais revoltante de passar por uma situação desta é saber que, independente da raiva, em um total sentimento de impotência, só nos resta agradecer quando nada mais grave nos acontece. No caso do Träsel, nem ele nem sua mãe ficaram feridos. A parte que fala da “resposta pública” mostra a situação deplorável em que nos encontramos:
“Telefonamos para o 190 e uma viatura da Brigada Militar [vazando litros de óleo do motor] chegou em 15 minutos. Foram atenciosos, mas não deram falsas esperanças. Um dos policiais informou que, dali, a rota mais óbvia seria descer a Terceira Perimetral, pegar a BR e ir para Esteio ou Sapucaia. Disse que em geral eles põem um carro para vigiar a rótula que leva ao aeroporto. Perguntamos se tinham feito isso e ele riu meio sem jeito, contando que a única viatura disponível para isso era aquela em que ele chegou até o local do crime.”
A matéria de capa da Zero Hora de hoje mostra que a Brigada Militar prendeu “8,3 mil pessoas desde o início do ano” em blitzes que pararam o equivalente a 1/3 da frota de veículos do RS. Apesar disso, “o roubo de veículo aumentou 13,5% em janeiro” de 2007 e, como fica claro no post do Träsel, as condições de trabalho da polícia são sofríveis. Ter viaturas nos principais cruzamentos das cidade é o mínimo que se pode fazer. Se a Brigada estivesse posicionada estrategicamente, seria impossível os bandidos fugirem com o carro.
O Träsel acerta na mosca: “o Estado é inoperante porque o brasileiro tem pouca fibra moral”.
Morando desde outubro na França (que está longe de ser uma sociedade sem violência em termos europeus), percebo nitidamente a assustadora diferença em relação à compreensão de LEI das pessoas. Lei é para ser obedecida e é claro o sentimento de “não vamos fazer merda, senão vamos nos dar MUITO mal”. Paris, por exemplo, tem uma desigualdade social mesclada com uma exclusão geográfica, claramente visível nas ruas, muito maior do que Porto Alegre. Não vou nem começar a comparar os índices de criminalidade daqui com os de Porto Alegre porque não precisa...
É preciso superar de vez a idéia demente de que violência é resultado de pobreza. Mendigo e catador de papel, por exemplo – que são realmente miseráveis –, não saem por aí assaltando pessoas. Quem sai por aí assaltando e roubando carros tem grana para comprar arma, sabe dirigir um carro, sabe planejar minimamente a fuga, sabe negociar o produto do roubo. E pratica crime porque sabe que não vai dar em nada, porque não respeita a lei.
As coisas só vão melhorar se algum dia o Bananão conseguir chegar perto de uma noção que, no “primeiro mundo” é simples, por mais que choque a covardia moral brasileira: “se você pega em uma arma para cometer um crime, você pode até ter sucesso. Mas você tem altas chances de mofar na cadeia quando a polícia chegar em você depois. Se a polícia te pegar no meio do caminho, armado e cometendo o crime, você será morto”.
Nos últimos dias estive envolvido em uma discussão em uma lista, a propósito do artigo de um professor de Direito de uma das principais universidades do país que defendeu em um grande jornal que “é legítima a ação de membros do MST e da CUT no Estado de São Paulo”, ocorrida durante o carnaval.
As invasões, como todo mundo sabe, foram comandadas pelo José Rainha, condenado pela Justiça e atualmente em liberdade provisória. Escrevi uns 5 ou 6 emails para a lista dizendo a mesma coisa: pode ser o Lula, Deus, Jesus, o MST ou quem quer que seja, não é legítima, em hipótese alguma, a violação da lei (que, no caso, proíbe a invasão de propriedade privada, como proíbe tantas outras coisas). A legitimidade ou não do MST como "movimento social" não tem absolutamente nada a ver com a questão e não pode ser usada para justificar a violação legal. Vários adevogados da lista saíram em defesa do ilustre professor, juntando-se a ele na apologia pública do crime.
Isso mostra da forma mais nítida possível qual é relação do brasileiro com a lei e explica muito bem porque todo mundo faz o que bem entende neste país, desde invadir terra, praticar assalto, roubar banco, até chegar no crime do colarinho branco.
É a covardia moral profunda que toma conta do país.
março 2008
fevereiro 2008
janeiro 2008
dezembro 2007
novembro 2007
outubro 2007
setembro 2007
agosto 2007
julho 2007
junho 2007
maio 2007
abril 2007
março 2007
fevereiro 2007
janeiro 2007
dezembro 2006
novembro 2006
outubro 2006
setembro 2006
agosto 2006
julho 2006
junho 2006
maio 2006
abril 2006
março 2006
fevereiro 2006
janeiro 2006
dezembro 2005
novembro 2005
outubro 2005
setembro 2005
agosto 2005
julho 2005
junho 2005
maio 2005
abril 2005
março 2005
fevereiro 2005
janeiro 2005
dezembro 2004
novembro 2004
outubro 2004
setembro 2004
Cara de pau (167)
Copa do Mundo (17)
Crise Política (139)
Demência (2)
Demência moral (536)
Demência seletiva (107)
Deputado Cloclô (31)
Desgovernada Yeda (54)
Dose diária de demência (158)
Dose Diária de Transparência (9)
Eleições 2004 (31)
Eleições 2006 (387)
Eleições 2008 (26)
Eleições francesas (30)
Esquadrão da Morte Moral (19)
Filó$ofa Chiuaua (22)
Gaúcho é melhor em tudo (20)
Gente inútil (443)
Guerra nuclear sudamericana (4)
Havaianas da Adidas (33)
LatinoDisney (29)
Mangaba Unger (46)
Mensalão: ele existe (52)
Mídia má (18)
Mondo estudo (25)
Mondo Fristão (58)
Pandemência (4)
Petistas (116)
Porto-alegrenses (54)
Povo Bovino (119)
Pulíticu$ du Braziu (23)
Só no Biriri (71)
TÊ VÊ PÊ TÊ (4)
The Mensalão Chronicles (6)
Agência Estado
Folha Online
O Globo
Zero Hora
BBC Brasil
No Mínimo
Veja
Istoé
Época
Carta Capital
Blog do Noblat
Josias de Souza
Merval Pereira
Jorge Moreno
Fernando Rodrigues