Editorial

Esse é o seu país

Depois de ver todo o circo montado por causa da visita mequetrefe de George W. Bush, deu para tirar a conclusão definitiva: ninguém nesse país presta. A começar por vocês e os passos que seguem de seus pais, avós e quetais.

A política está uma decepção, o PT enganou todo mundo e tu não queria votar em ninguém no ano passado. Mas foi votar porque pode dar algum problema quando quiser ou se estiver em um emprego público, porque precisa pagar as contas, claro. Antes o teu do que o dos outros. Senta no pudim e espera a aposentadoria para sustentar as inscrições dos teus filhos em mais concursos públicos. Quem sabe assim eles saem das tuas costas e vão, sei lá, se sustentar.

Aliás, essa é outra coisa chatíssima: pagar as próprias contas. Deve ser por isso que pouca gente se dispõe a participar de atos públicos contra um idiota que não está nem aí para eles.

Mas gostaria de saber onde esse pessoal das manifestações esteve desde maio de 2005, no estouro do Mensalão. Não havia necessidade de protestar contra algo que nunca existiu. Claro que o PT se esqueceu de apagar os traços do aparelhamento e a jumentice da maioria dos seus membros e depois eles caíram em desgraça. Mas não sem antes perder a pompa de bastião da moral política do Brasil - ilusão que voltou no segundo mandato.

Fui ameaçado física e judicialmente por petistas por conta do que publicávamos no blog - isso mesmo, nem eu acredito -, acusações que depois foram provadas e confirmadas pelo presidente do diretório gaúcho, por exemplo. Desde então, mas nunca os vi portar a bandeira ou vestir a camiseta do partido. Essas coisas só se discutem internamente. Quando finalmente concluírem o que aconteceu, seus netos vão pagar o preço por terem mentido e enganado milhões de pessoas para alcançar o poder pelo poder - e a grana que vem na cueca.

Muita gente ficou surpresa com Entreatos. Era exatamente o que eu esperava. O João Moreira Salles deveria lançar uma versão sem cortes daquele documentário, mas imagino que editar a Piauí dê menos incomodação. Não existe razão para um banqueiro se estressar com Lula.

Você reclama da elite má que dominou o país por 500 anos, mas não questiona o engessamento intelectual do qual a esquerda se aproveitou desde o Golpe de 64. Hoje, o que existe é um vácuo de atualização intelectual que é para dar medo mesmo. Um tempo atrás, encontrei um ex-colega de colégio que começava o curso de Direito da PUC-RS e perguntei como eram as aulas: "Se meia dúzia dos meus colegas fossem cachorros, elevaria o QI da sala".

As décadas de 80 e 90 foram perdidas enquanto os petistas esbravejavam contra todos e questionavam a moral das pessoas com as quais estão agora aliadas ou que agora lhes acusam de corrupção. Nesse papel, também sobra a academia.

Um país que tem pós-doutores e seus asseclas aceitando o que Mangabeira Unger diz só pode estar condenado. Bastou o Walter fazer uma pergunta durante a palestra, que o cara se enrolou todo. Nem vou escrever dos "intelectuais" gaúchos (insira nome aqui).

Há alguns meses, teve uma palestra sobre o Situacionismo - ou algo do gênero, o Brust estava lá -, e, ao final, um professor da Fabico reconhecidamente marxista pergunta: "De onde vocês tiraram esse Guy Débord? Nunca ouvi falar desse cara".

Devia ser brincadeira, mas acredito que ele realmente não soubesse sobre o autor de um livro escrito há quase 40 anos e que devia ser leitura obrigatória em um curso de comunicação. Mas como o francês fazia uma crítica "leve" ao marxismo, os esquerdistas daqui - e da França - trataram de expurgá-lo da Academia até o fim da década de 90. Maldita internet.

Nessa parte entra a Mídia Má. Para quem não sabe, o blog existia antes de entrarmos para o Insanus. Montei uma coisa capenga em algum hospedor que nem existe mais (valeu por avisar) enquanto estagiava no gabinete de um deputado petista na Assembléia Legislativa do RS. Na entrevista, deixei bem claro que votava no PT mas não levantaria bandeira por ninguém. Queria saber se minhas suspeitas de que os petistas também eram mortais conferiam. Deu certo, e pulei da barca quando percebi que eram até demais.

Lembro de conversar com o Träsel logo depois da vitória de Lula, em 2002. Questionei se a Carta Capital denunciaria escândalos de corrupção no governo Lula. Ele acreditava que sim. Eu não tinha tanta certeza, o que se confirmou durante a cobertura da crise do Mensalão. Lia a Veja por diversão - textos tecnicamente inferiores. Ainda são -, mas não deu para deixar passar batido e concordar com algumas coisas publicadas ali depois que Lula assumiu. Coisas que não eram surpresa para quem acompanhou o PT na prefeitura de Porto Alegre por 16 anos e 4 no governo do Estado.

Todos têm o Pasquim como referência de jornalismo irreverente durante a Ditadura. Pois bem, quando chegou a Redemocratização, o jornal acabou e todos foram ganhar dinheiro. Pessoas com diferentes orientações não conseguiram lidar com a liberdade de escolhas quando a "luta" encerrou. Foi a mesma coisa com a Caros Amigos e a Bundas. Quando Lula venceu, elas perderam a razão de existir.

Esse tipo de exemplo deixa a coisa ainda melhor. Todos os jornalistas brasileiros querem o seu Watergate. São ensinados na faculdade e adestrados nas redações a sempre publicar a fonte, por pior que seja a informação em off - mas que poderia ser útil à sociedade caso publicada. Mas, ao contrário da escola americana que lhes serve de modelo - a prática do jornalismo aqui não é e nunca vai ser como lá.

Ensinam que jornalismo objetivo não pode se misturar com o opinativo. Na cabeça dos doutos, opinião é dar uma coluna para alguém emprestar sua grife ao jornal. Qualificar os alunos para que depois eles tenham autonomia de texto nas suas reportagens seria uma heresia. Enquanto isso não ficar claro mesmo, será inútil discutir o assunto no Brasil.

Nenhuma pessoa que escreve aqui tem uma posição política convergente com a das outras. Foi por isso que as convidei para participar desse problema. É duro viver em um lugar onde as opiniões viram ofensa para quem as lê mas não sabem direito o que responder - quando conseguem.

Bem-vindos ao A Nova Corja. Tenho certeza de que tu consegue encontrar a porta de saída.

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