Exportando a banana moral
Quem diria que o Bananão iria se envolver no que promete ser um dos fatos bombásticos na França a um mês do primeiro turno das eleições presidenciais (22 de abril)?
O país está em chamas com a notícia da prisão do ex-terrorista de esquerda italiano Cesare Battisti, ontem, no Rio de Janeiro. A prisão foi manchete principal de TODOS os jornais, portais (Le Monde, Libération, Le Figaro, L'Express, Nouvel Observateur, 20 Minutes) e noticiários de TV na França.
Pequena cronologia da coisa toda:
- 1979 - Battisti, membro do grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), ligado às Brigadas Vermelhas, é preso na Itália, acusado de participação na morte de um joalheiro;
- 1981 - Primeira condenação a 12 anos e 10 meses de prisão. Battisti foge e vai para a França, depois para o México, onde fica até 1985;
- 1985 - 1990 - Volta para a França. Durante o governo do petis... digo... do socialista François Mitterrand, consegue asilo político na França, o que provocou o caos político no país. Era a chamada "doctrine Mitterrand", política de fornecer asilo aos ex-militantes de esquerda que haviam renunciado à violência. Publica vários romances: Les habits d'ombre, Buena onda, Dernières cartouches;
- 1993 - Em um julgamento polêmico, é condenado à prisão perpétua na Itália por quatro homicídios: de um carcereiro em 1978 em Udine, de um policial em 1979 em Milão, de um militante neo-facista em 1979 em Mestre e por cumplicidade no assassinato do joalheiro, também em 1979;
- 2002 - Começam os problemas para os ex-militantes italianos na França. O Ministro da Justiça de Berlusconi, Roberto Castelli, acusa as autoridades francesas de dar abrigo a criminosos. Já sob a presidência de Jacques Chirac ocorre a primeira extradição, de Paolo Persichetti, ex-militante das Brigadas Vermelhas, professor na Universidade de Paris VIII. É pedida a extradição de Battisti;
-2004 - Em fevereiro, a pedido da polícia italiana, Battisti é preso em Paris. Em março, com uma campanha maciça de intelectuais e políticos esquerdistas (Partido Socialista, Partido Comunista e Verdes) Battisti é posto em liberdade provisória. Em junho é aprovada a extradição. Em agosto, foge para o Bananão;
- 2006 - Publica o livro Ma cavale, onde insiste na sua inocência;
- 18 de março de 2007 - Preso na Avenida Atlântica, Copacabana, Rio de Janeiro.
O circo político está montado porque dois policiais franceses participaram da operação, que também contou com a participação da polícia italiana. Nicolas Sarkozy, Ministro do Interior (responsável pela Polícia francesa) e candidato à presidência pelo partido de "direita" UMP, já confirmou a participação dos policiais franceses. A esquerda acusa Sarkozy, que sairá do Ministério em breve, de ter envolvimento direto no caso, com o objetivo de trazer à tona um dos assuntos que mais constrangem os socialistas franceses. Ségolène Royal, candidata do Partido Socialista, segunda colocada nas pesquisas, atrás de Sarkozy, por exemplo, jantou em fevereiro com Fred Vargas, presidente da associação que apóia Battisti. Seu marido, François Hollande, presidente do PS, visitou o italiano na prisão em 2004 e reiterou ontem seu apoio.
Mas o melhor de tudo é a cobertura da imprensa francesa. Eles até tentam chegar perto da imparcialidade, coitados, mas usando imagens do Rio de Janeiro provavelmente feitas na década de 80, não tem como não passar a impressão de República das Bananas - ou république bananière, como dizem aqui.
Ontem ouvi no rádio a entrevista do adevogado francês de Battisti, Eric Turcon, antes de pegar o avião para o Rio. Obviamente insistiu que "agora está tudo nas mãos da Justiça brasileira". O que pode ser mais desesperador?
E, claro, o seqüestrador do embaixador americano Charles Elbrick e atual deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), que se apressou ontem em defender a não-extradição de Battisti, já virou notícia por aqui também.
Qualquer que seja a decisão da Justiça brasileira - se conseguirem tomar alguma -, a confusão será certa.
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