Re$$u$cita em Brasília, Reagan

Da Folha de S. Paulo de hoje, sobre como se resolvem as coisas lá no Império do Mal:

"Em 1981, Reagan enfrentou greve de controladores

Era 3 de agosto de 1981, e o presidente Ronald Reagan enfrentava a maior crise aérea dos EUA até então. Em protesto por melhores condições de trabalho, maiores salários e redução da jornada para 32 horas semanais, os controladores de vôo de todo o país fecharam o espaço aéreo para aviões de carreira.

Sob o argumento de que o ato colocava em risco a segurança nacional, Reagan deu um ultimato de 48 horas para a categoria voltar à ativa. Mas ele tinha um plano B.

Descumprida a determinação (só 10% dos controladores da época voltaram ao trabalho), o presidente exonerou 11.359 grevistas, que também foram banidos, ao menos temporariamente, do serviço público.

Nos EUA, greve em serviços públicos essenciais é crime, de acordo com a Taft-Hartley (sobrenomes do deputado e do senador que a redigiram), de 1947.

O plano B do então secretário de Transportes, Drew Lewis: convocar operadores aposentados, militares da Força Aérea, deslocar engenheiros de vôo para as torres em terra e nomear controladores em treinamento. Resultado: 80% da frota foi mantida no ar, e Reagan saiu fortalecido da crise". (VQG)

Além desse texto, Folha traz mais dois (íntegra abaixo) falando sobre o controle aéreo americano, desmilitarizado há 67 anos, e sobre a demora em passar o controle aéreo para o setor civil na Argentina, que adotou a desmilitarização há 15 dias.

Folha de S. Paulo

São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2007

Nos EUA, controle de vôos é civil há 67 anos

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos EUA, a transferência do controle de vôos a civis ocorreu há exatos 67 anos, em plena Segunda Guerra Mundial.
Seguindo a orientação de todos os mecanismos internacionais de aviação, a Argentina anunciou no fim do ano passado a desmilitarização do controle do seu tráfego aéreo.
O controle de vôos norte-americano é civil para vôos de carreira e militar para a frota da Força Aérea.
Um controlador americano ganha, em média, US$ 10 mil por mês (R$ 20,4 mil). Um profissional brasileiro com as mesmas funções ganha R$ 2.000, no caso dos militares, e R$ 3.200, no caso dos civis.
A Associação Nacional de Controladores de Tráfego Aéreo dos EUA (Natca, na sigla em inglês) disse ontem ser "solidária" às reivindicações dos colegas brasileiros e recomendou a desmilitarização do setor, que, para o órgão, deve ser de responsabilidade do governo.
"O Brasil deveria levar a sério a segurança aérea e investir maciçamente no setor", diz Doug Church, diretor de comunicações da Natca.
"Somos solidários aos problemas brasileiros, mas os EUA não têm nenhuma dificuldade na área, o que torna difícil conceber a dimensão do caos", completa Church.
Na Europa, o controle também é civil. Há um modelo unificado de procedimentos e de padronização de equipamentos de controle do tráfego aéreo, coordenado por uma entidade chamada Eurocontrol.
Os civis cuidam da aviação comercial, e os militares só dos vôos de suas aeronaves. Mas não há um modelo único de empresa que opera o sistema.
Entre os países de maior tráfego, a França é a única em que os controladores são servidores públicos, ligados ao Ministério dos Transportes. Na Itália, há uma empresa pública, com 3.237 empregados. No Reino Unido, há uma empresa mista, em que parte do capital é controlado por um consórcio de sete companhias aéreas.
O salário na beira da aposentadoria, 7.000 a 8.000 (R$ 18.900 a R$ 21.600), é similar nesses países. O que varia é o salário inicial, bem mais alto na Alemanha (R$ 13.500) que na Itália (R$ 8.100).
Os alemães têm jornadas semanais mais puxadas, com até 36 horas, enquanto os franceses são os que trabalham menos, em torno de 20 horas.
O modelo italiano, com 14 sindicatos atuantes, é igualmente o mais sujeito a greves. Há dois anos, paralisação de quatro horas cancelou 144 vôos no aeroporto de Roma.

**

Argentina não mudou ainda o controle aéreo

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

Em meio a uma crise no transporte aéreo, a Argentina formalizou há quinze dias a transferência do controle do tráfego aéreo das mãos dos militares para as de civis, em órgão ligado à Secretaria Nacional dos Transportes. A mudança, entretanto, ainda não ocorreu na prática.
Nos últimos dias, os atrasos e cancelamentos de vôos causados pelo apagão aéreo brasileiro se misturaram aos problemas locais e transformaram o aeroporto internacional de Ezeiza, o mais importante da Argentina, em um completo caos.
No Aeroparque Jorge Newbery, em Buenos Aires, de onde partem vôos nacionais e para o Uruguai, também têm havido atrasos freqüentes. Defeitos nos radares dos aeroportos potencializaram a crise.
Em setembro de 2006, quando o compromisso de fazer a mudança de comando foi anunciado pelo governo, a expectativa era a de que a demora fosse de até um ano. Em seis meses, porém, o presidente criou a Anac (Administração Nacional de Aviação Civil), que coincidentemente tem a mesma sigla da Agência Nacional de Aviação Civil, do Brasil.
A nova unidade ficou subordinada a Julio De Vido, atual ministro do Planejamento e homem-forte do governo Kirchner. Não há data precisa de quando estará finalizada a transição no controle de vôo.
O governo nega que a mudança fora precipitada pela crise ou pelas denúncias do documentário "Fuerza Aerea Sociedad Anonima", do cineasta Enrique Piñeyro, que expôs riscos e erros do controle de vôo militar.
Ex-piloto de aviões da empresa Lapa (Líneas Aéreas Privadas Argentinas) e investigador de acidentes aéreos, Piñeyro revelou que alguns controladores nem sequer falavam inglês, língua em que é feita a comunicação com os aviões. Agora, o governo informa que está capacitando os controladores.

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