Ministro Unger
"Em encontro amanhã no Palácio do Planalto, Lula convidará Roberto Mangabeira Unger, professor titular de direito na Universidade Harvard, a assumir a Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo, órgão com status de ministério a ser criado pelo presidente. Fundador e vice-presidente do PRB, partido de José Alencar, Mangabeira coordenou o programa de governo de Ciro Gomes na campanha de 2002. Ficarão sob o guarda-chuva da nova secretaria o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), hoje vinculado ao Ministério do Planejamento, e o NAE (Núcleo de Assuntos Estratégicos), órgão criado em 2004 e que já foi chefiado pelo petista Luiz Gushiken." (Renata Lo Prete, Painel, Folha de São Paulo, 18/04/07)
Belo upgrade para quem, em 15/11/2005, escreveu:
"Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. (...) Afirmo ser obrigação do Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente. (...) Afirmo que o presidente, avesso ao trabalho e ao estudo, desatento aos negócios do Estado, fugidio de tudo o que lhe traga dificuldade ou dissabor e orgulhoso de sua própria ignorância, mostrou-se inapto para o cargo sagrado que o povo brasileiro lhe confiou." (Folha de S. Paulo, 15/11/2005, íntegra abaixo).
Será que foi a amizade com Zé Dirceu ou o fato de ser advogado e amigo de Daniel Dantas que influenciou a martelada final da nomeação, depois de uma aproximação que começou a ser costurada nas últimas eleições? Resta saber também se Mangabeira, agora no poderrr, vai deixar o cargo de consultor da Santos Brasil, empresa da qual Dantas é acionista e que opera o terminal de contêineres no Porto de Santos.
Ah, de bônus para vocês, abaixo, depois do artigo do Unger, um trecho imperdível da filósofa do Pê Tê, Marilena Chaui, falando sobre o novo Ministro do Lula.
Folha de S. Paulo
São Paulo, terça-feira, 15 de novembro de 2005
ROBERTO MANGABEIRA UNGER
Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. Corrupção tanto mais nefasta por servir à compra de congressistas, à politização da Polícia Federal e das agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de dobrar qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus desmandos.
Afirmo ser obrigação do Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente. As provas acumuladas de seu envolvimento em crimes de responsabilidade podem ainda não bastar para assegurar sua condenação em juízo. Já são, porém, mais do que suficientes para atender ao critério constitucional do impedimento. Desde o primeiro dia de seu mandato o presidente desrespeitou as instituições republicanas. Imiscuiu-se, e deixou que seus mais próximos se imiscuíssem, em disputas e negócios privados. E comandou, com um olho fechado e outro aberto, um aparato político que trocou dinheiro por poder e poder por dinheiro e que depois tentou comprar, com a liberação de recursos orçamentários, apoio para interromper a investigação de seus abusos.
Afirmo que a aproximação do fim de seu mandato não é motivo para deixar de declarar o impedimento do presidente, dados a gravidade dos crimes de responsabilidade que ele cometeu e o perigo de que a repetição desses crimes contamine a eleição vindoura. Quem diz que só aos eleitores cabe julgar não compreende as premissas do presidencialismo e não leva a Constituição a sério.
Afirmo que descumpririam seu juramento constitucional e demonstrariam deslealdade para com a República os mandatários que, em nome de lealdade ao presidente, deixassem de exigir seu impedimento. No regime republicano a lealdade às leis se sobrepõe à lealdade aos homens.
Afirmo que o governo Lula fraudou a vontade dos brasileiros ao radicalizar o projeto que foi eleito para substituir, ameaçando a democracia com o veneno do cinismo. Ao transformar o Brasil no país continental em desenvolvimento que menos cresce, esse projeto impôs mediocridade aos que querem pujança.
Afirmo que o presidente, avesso ao trabalho e ao estudo, desatento aos negócios do Estado, fugidio de tudo o que lhe traga dificuldade ou dissabor e orgulhoso de sua própria ignorância, mostrou-se inapto para o cargo sagrado que o povo brasileiro lhe confiou.
Afirmo que a oposição praticada pelo PSDB é impostura. Acumpliciados nos mesmos crimes e aderentes ao mesmo projeto, o PT e o PSDB são hoje as duas cabeças do mesmo monstro que sufoca o Brasil. As duas cabeças precisam ser esmagadas juntas.
Afirmo que as bases sociais do governo Lula são os rentistas, a quem se transferem os recursos pilhados do trabalho e da produção, e os desesperados, de quem se aproveitam, cruelmente, a subjugação econômica e a desinformação política. E que seu inimigo principal são as classes médias, de cuja capacidade para esclarecer a massa popular depende, mais do que nunca, o futuro da República.
Afirmo que a repetição perseverante dessas verdades em todo o país acabará por acender, nos corações dos brasileiros, uma chama que reduzirá a cinzas um sistema que hoje se julga intocável e perpétuo.
Afirmo que, nesse 15 de novembro, o dever de todos os cidadãos é negar o direito de presidir as comemorações da proclamação da República aos que corromperam e esvaziaram as instituições republicanas.
Roberto Mangabeira Unger escreve às terças-feiras nesta coluna.
www.law.harvard.edu/unger
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BRASIL DE FATO (Pê Tê)
São Paulo - Brasil
Domingo, 27 de Novembro de 2005
Edição Nº 143 - De 24 a 30 de novembro de 2005
BF - Como viu o artigo que constata “a falência de Marilena Chauí”, escrito por um moleque de 28 anos, que vive nos EUA? Como a senhora vê o papel de gente como Roberto Mangabeira Unger?
Marilena - Pensei: puxa vida, a grandiosidade que me foi dada. Isso é formidável, é maravilhoso. Quanto ao Mangabeira Unger, ele é o mistério planetário. Uma vez, nos EUA, quando ele estava começando a aparecer com algumas coisas no Brasil, meu marido e eu fomos num desses lugares em que o Mangabeira dava aula. As pessoas estavam entusiasmadas, mas também diziam que ele era muito “piradão”. Aí, ele começou a escrever, veio, fez o programa do Brizola, depois se afastou, e se aproximou do PT. Eu lembro que quando alguns amigos me disseram que o Mangabeira Unger viria para o PT, para a campanha do Lula, eu disse: “Ichh”.
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