Jamais SEALOPRArá
A demência é tanta que nem deu para dar destaque à matéria do Guilherme Barros na coluna Mercado Aberto da Folha de S. Paulo de ontem (trecho lá no "Continue lendo...") sobre o último lance do filó$ofo Mangabeira Unger (PR), escolhido para a Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo (SEALOPRA):
"Dez dias depois de aceitar o convite do presidente Lula para chefiar a Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo, Mangabeira Unger protocolou no estado de Massachusetts (EUA), no dia 30 de abril, uma ação contra a Brasil Telecom requerendo pagamento de serviços de curador ou "trustee" referente ao período de 1º de abril de 2006 a 31 de março de 2007."
Um resumo vagabundo de tudo: trustee, basicamente, é um lobista refinado, geralmente um adevogado. Mangabeira, amigo de longa data do banqueiro Daniel Dantas, atuou como trustee da Brasil Telecom de 2002 até, pelo menos (era o que se sabia), 2005, quando a empresa ainda era controlada pelo grupo Opportunity, de Dantas.
A função de Mangaba era gerenciar as ações judiciais da Brasil Telecom contra a Telecom Italia e os fundos de pensão Previ, Petros e Telos. Atualmente, a Brasil Telecom é controlada pela Solpart Participações S.A., através do grupo Techold Participações S.A., dos quais fazem parte os fundos de pensão Sistel, Telos, Funcef, Petros e Previ, e o Citigroup Venture Capital.
Como pagamento, Mangaba recebeu US$ 1,176 milhão (fora despesas de hospedagem, refeição e aluguel de um apartamento no Rio), mais US$ 269 mil relativos aos anos de 2003, 2004 e 2005, fora os US$ 675 mil pagos diretamente ao trust comandado por Mangaba.
A Brasil Telecom, depois que o Opportunity foi chutado do controle da empresa, entrou com ação contra Mangaba, afirmando que ele teria atuado deliberadamente para prejudicar a empresa em benefício do Opportunity. Mangaba sempre negou. Temos um post de 15 de janeiro de 2006 sobre isso.
Bom, a questão é que a Folha de hoje dá seqüência ao caso Mangaba:
"Lula quer que Mangabeira desista de cargo
Presidente espera que filósofo, que move processo contra Brasil Telecom, recuse convite para secretaria
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva gostaria que o filósofo Mangabeira Unger desistisse de assumir o posto de ministro da Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo, segundo apurou a Folha. A posse está marcada para 13 de junho. No Palácio do Planalto, há um "mal-estar", nas palavras de um auxiliar direto de Lula, a respeito do processo judicial que Mangabeira move contra a Brasil Telecom, empresa de telefonia que tem fundos de pensão estatais como seus principais acionistas." (Folha de S. Paulo, 31/05/07)
Segundo a Folha, "o presidente deixa claro que não gosta de Mangabeira, que classificou o primeiro mandato do petista com o mais corrupto da história". A Casa Civil já botou Mangaba na parece para dar explicação. O problema, evidentemente, é o conflito entre estar no governo - em um cargo que supostamente contará com informações privilegiadas - e, ao mesmo tempo, mover uma ação contra a Brasil Telecom, que pertence a fundos de pensão estatais.
Se Mangaba for pro ABRA$$O antes mesmo de tomar posse, será a Secretaria criada por Lula com o melhor desempenho: as ações são tão de "longo prazo" que o nomeado para o cargo não toma posse NUNCA.
Aproveitando a diversão, lá vai a Retrospectiva Mangaba feita pelo Conselho Editorial da Nova Corja:
- 15.04.05 - Mangaba lança candidatura à presidência em propaganda do PHS, ao qual não era nem filiado (nenhum sentido). Quem aparece falando bem de Mangaba é seu conterrâneo Caetano Veloso. No post não tem o vídeo. Mas AQUI tem. Imperdível.
- 30.09.05 - Junto com o pagodeiro Netinho, Mangaba se filia ao PMR, que virou o atual PR. O bispo/senador Marcelo Crivella (RJ) abençoou a filiação.
- 15.01.06 - "Nunca beneficiei Daniel Dantas", afirma filósofo.
- 26.01.06 - Mangaba afirma que se José Alencar entrasse na disputa presidencial, o Braziu estaria salvo.
- 20.05.06 - A Veja divulga gravações envolvendo a empresa de espionagem Kroll. Nos trechos, Daniel Dantas garante que José Dirceu vai defender os interesses do Opportunity. Um dos participantes da conversa, obviamente, é Mangaba, amigo de Dirceu, que vive indicando seus artigos.
- 28.10.06 - Mangaba é contratado como consultor da Santos Brasil, empresa que opera o terminal de contêineres no Porto de Santos. Um dos controladores da empresa - obviamente - é Daniel Dantas. O Conselhor editorial da Nova Corja avisa: ainda vai aparecer muita merda envolvendo o Porto de Santos.
- 18.04.07 - Mangaba é escolhido para assumir a SEALOPRA. No post, o imperdível artigo, de novembro de 2005, no qual o filósofo chama Lula de "avesso ao trabalho e ao estudo" e "orgulhoso de sua própria ignorância".
- 21.04.07 - O Luiz Antonio Ryff, em um post no no mínimo, descobriu que Mangaba havia retirado especificamente o famoso artigo de seu site em Harvard.
- 24.04.07 - Lula descuLLpa Mangaba pelos xingamentos de apedeuta.
Folha de S. Paulo
São Paulo, quarta-feira, 30 de maio de 2007
Mercado Aberto
@ - guilherme.barros@uol.com.br
Mangabeira move ação contra tele controlada pelos fundos
O professor de direito de Harvard Roberto Mangabeira Unger, que aceitou convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ocupar um cargo com status de ministro no governo, está no meio de batalha judicial com a Brasil Telecom, empresa de telefonia que tem como seus principais acionistas fundos de pensão de estatais.
Dez dias depois de aceitar o convite do presidente Lula para chefiar a Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo, Mangabeira Unger protocolou no estado de Massachusetts (EUA), no dia 30 de abril, uma ação contra a Brasil Telecom requerendo pagamento de serviços de curador ou "trustee" referente ao período de 1º de abril de 2006 a 31 de março de 2007.
O "trustee" é uma figura que existe nos EUA mas não é reconhecida no Brasil e que trabalha para um beneficiário com um determinado fim.
A briga de Mangabeira Unger com os fundos de pensão estatais não é nova. Em janeiro de 2006, a Folha publicou notícia informando que ele atuou até o final de 2005 como consultor e "trustee" da Brasil Telecom, quando era controlada pelo Opportunity, e recebeu cerca de US$ 2 milhões pelos serviços. O objetivo do contrato de "trustee" era gerenciar as ações judiciais da Brasil Telecom contra a Telecom Italia e os fundos de pensão.
Na época, Mangabeira Unger enviou carta à Folha na qual ele afirmava que a notícia trazia informações difamatórias a respeito de suas atividades profissionais como "trustee" da Brasil Telecom. Na carta, ele ataca os fundos de pensão:
"Os fundos de pensão estão no centro da corrupção na política brasileira. O governo Lula descobriu os fundos de pensão. Em vez de demolir o núcleo de corrupção ali já existente, decidiu usá-lo para ir além. Perceberam os novos governantes a oportunidade de assumir, em proveito de sua própria perpetuação no poder, o controle político do dinheiro imenso reunido naqueles fundos...Eu sou inimigo mortal desse sistema. Quero vê-lo destruído. Quero ver os responsáveis na cadeia".
Depois da destituição do Opportunity, no final de 2005, a administração que assumiu a Brasil Telecom, controlada pelos fundos de pensão e pelo Citigroup, decidiu questionar na Justiça e na CVM os serviços de Unger, mas não o fez. A Brasil Telecom teria feito um acordo verbal com ele. O que se sabe, no entanto, é que ele não presta serviços para a empresa desde então.
A resposta da Brasil Telecom à ação de Mangabeira Unger do dia 30 de abril foi ter entrado com um processo contra ele, também em Massachusetts. A tele requer para si o direito conferido ao "trustee" pela gestão Opportunity sob a alegação de negligência das obrigações do curador, violação do dever fiduciário e atuação contra os interesses da Brasil Telecom.
A tele questiona também, na Justiça americana, o uso inadequado de recursos do "trustee" em despesas com viagens e hospedagem no Brasil.
Procurados, Mangabeira Unger e a Brasil Telecom não quiseram se pronunciar.
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