Saneamento Básico - O seu dinheiro na vala

O cinema brasileiro volta a atacar hoje com a estréia de Saneamento Básico - O Filme, de Jorge Furtado. O que poucos sabem - ou se lembram - é que o diretor gaúcho recebeu R$ 30 mil para realizar o longa-metragem de um concurso que o Ministério da Cultura promoveu para incentivar a formação de novos profissionais de roteiro, conforme noticiado aqui em dezembro de 2004. Dos 16 vencedores, pelo menos 15 não eram novos profissionais.

Apesar de escrever filmes há mais de vinte anos, Furtado teria que participar de duas aulas de roteiro. Além de receber 700 mil do Banco do Brasil para fazer um curta-metragem louvando o povo brasileiro àquela época, entrou na seleção do BNDES em janeiro de 2006, que envolvia o patrocínio de 18 projetos cinematográficos com R$ 10 milhões - imagino o belo quinhão recebido que para finalizar o filme, já que com R$ 30 mil mal dá para pagar o cachê da Camila Pitanga, mas faz toda a diferença para os cinemeiros famélicos de Porto Alegre.

Algumas semanas depois, ameaçou processar todo mundo que reproduzisse essa coluna de Diogo Mainardi. Foi uma celeuma digna do Bovinão, que não deu em nada.

Mas convenhamos, Furtado é - merecidamente - um diretor multipremiado. Seus primeiros filmes, como Ilha das Flores e O dia em que Dorival encarou a guarda são memoráveis. Pena que sejam da década de 1980 e ele tenha se contentado em fazer filmes para a Sessão da Tarde e propagandas partidárias para o PT.

Em entrevista à Folha de S.Paulo de hoje, Furtado se saiu com essa:

Folha - É um comentário sobre o cinema brasileiro ou sobre o modo de produção do cinema brasileiro?

Furtado - Sobre como se faz cinema no Brasil também. Não quero ficar criticando colegas, mas falta um pouco de autocrítica. Acho o cinema brasileiro, na média, melhor do que o americano. É mais adulto, mais conseqüente, mais interessante. Não saio de casa para ver "Transformers" nem "Harry Potter". São uma fórmula industrial, sem cara, resultado de 600 reuniões e testes de público, feitos para chegar a algo que agrade a todo mundo.

Pelo visto, Furtado falha em aplicar essa autocrítica que falta aos outros no seu próprio trabalho e não assistiu seus últimos filmes, que abusaram dessa fórmula industrial, sem cara e feitos para agradar todo mundo.

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