Balanço da derrota
O Brasil vai dormir esta noite com uma sensação de derrota à qual já está se acostumando. O abatimento quase não é sentido, falar em desilusão agora seria pura demagogia. A absolvição de Renan Calheiros seguiu quase um protocolo - teve amigo meu que celebrava, no final da tarde, por ter apostado uma cerveja pela cara-de-pau do senado.
- Apostar contra o Brasil sempre é um bom negócio - comentou ele.
Apesar de tudo, há sim considerações a serem feitas. Acabo de assistir à cobertura feita pelo Jornal da Globo, e a equipe de William Waack, desfrutando de mais tempo para apuração e de uma maior liberdade crítica que a do Jornal Nacional, trouxe detalhes interessantes sobre os bastidores da votação secreta. Entre eles, uma entrevista exclusiva com o petista Aloizio Mercadante, que revelou ter sido dele um dos seis votos "em branco" - os seis votos que faltaram para cassar Renan. Os argumentos de Mercadante são um deboche sem precedentes: afirma que não havia provas suficientes para condenção, mas, por outro lado, havia muita coisa mal explicada. Há quem diga que o senador foi, na verdade, o grande articulador da absolvição. Nem entro na questão. Essa explicação estapafúrdia dada ao Jornal da Globo já basta para que o senador encarne para todo o sempre a desfaçatez estratosférica a que chegou a classe política brasileira em 2007.
Mercadante não foi o único petista dando a alma por Renan. Na sessão secreta de hoje à tarde, 14 senadores discursaram contra o presidente da casa. Apenas quatro a favor. Um destes foi Ideli Salvatti. Não contente em articular o apoio a Renan nos bastidores, Ideli se humilhou ao ir à tribuna implorar pela absolvição. Poucas vezes se viu alguém descer tanto, tão ao fundo do poço, quanto Ideli Salvatti fez hoje à tarde - como aliás vem fazendo ao longo de todo o governo Lula. Faço essa crítica não como um antipetista, mas como um ex-petista que, apesar de cinco anos de governo Lula permeados por este tipo de coisa, não consegue se acostumar à incoerência dessa gente e que também não consegue ver outra explicação para que alguém se humilhe tanto e se contradiga tanto, a não ser a sede pelo poder ou por dinheiro público. Os petistas do Fora Collor não apenas articularam a absolvição de um dos braços direitos de Collor, como deram a cara a tapa para defendê-lo.
Há alguns anos - não muitos - em uma conversa rápida no pátio da faculdade de comunicação da PUCRS, comentei com a então vereadora Manuela D'Ávila (PCdoB) como podia ela estar compactuando com as incoerências do governo Lula, especialmente no que tange às alianças com Sarneys e Renans que, naquela época, já se desenhavam. A resposta de Manuela me deixou intrigado, depois preocupado.
- Se não formos acreditar no Lula, em quem vamos acreditar? - resumiu ela.
Lembro dessa conversa com a Manuela porque a estimo - sempre próxima de seus eleitores ou críticos, nunca negou um bom debate, inclusive aqui neste blog. Lembro da Manuela nesta noite em que Renan Calheiros foi absolvido e o país dorme mais uma vez derrotado porque não consigo deixar de me preocupar ao traçar um paralelo entre ela e Ideli Salvatti. Uma ainda jovem, ainda merecedora de alguma confiança, ainda tentando manter alguma coerência - apesar de estar no limite, ao apoiar o governo Lula. A outra, afundada em uma miséria e contradição ética que envergonharia qualquer ser humano. As trajetórias de ambas carregam algumas semelhanças em sua origem - espero que não no destino. A tropa de choque de Lula conseguiu desmoralizar a esquerda brasileira por muitos anos, a partir de agora. Resta saber se jovens políticos como Manuela D'Ávila assistiram ao espetáculo de hoje à tarde tão estarrecidos quanto qualquer cidadão brasileiro. Se sim, então talvez tenhamos a reconstrução de uma esquerda minimamente digna no Brasil. Se não, Ideli Salvatti se tornará referência na política brasileira em poucos anos.
PS.: O Terra traz um bom levantamento de como votou cada um dos senadores. O detalhe, como bem observou o amigo Eduardo Lorea, é que 38 senadores dizem ter votado pela cassação. Mas o placar marcou apenas 35.
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