A demência autista do PT
Devido a problemas espaço-temporais na revista e minha falta de vontade para escrever um texto alternativo ao que seria publicado na Rolling Stone sobre o 3º Congresso do PT, aqui vai o registro dos dois primeiros dias da demência generalizada:
Quarta-feira, 29/08
A porta de vidro fumê do diretório paulista do PT escondia um recepcionista cheio de dedos para entregar minha credencial de imprensa: "O que a Rolling Stone quer fazer no Congresso?". "Cobrir o evento, oras", retruquei. Ele começou a procurar pelo meu nome e a cada vez que levantava a cabeça para mim soltava frases cheias de estranheza e desconfiança.
- Qual é a sua pauta?
Ainda não pensei em nada. Tem algum problema?
- É que todos os jornalistas daqui estranharam que uma revista como a Rolling Stone tivesse algum interesse no Congresso.
Ah, isso acontece. É normal.
Enquanto eu tateava o mármore sintético do balcão à espera do Pedaço de Papelão Sagrado, uma última pergunta: "A Rolling Stone escreve sobre política?". "Claro que sim. E esse congresso trata sobre qual assunto?".
Era de se esperar tamanho prurido dos petistas. Antes de ir embora, peguei um exemplar do jornal Hora do Povo que tinha a seguinte manchete: "STF cozinha mídia e aceita julgar petistas (mas vai absolvê-los)". Apesar do otimismo do periódico - e pessimismo meu -, o PT não poderia ter escolhido um momento pior para reunir seus pares.
Quinta-feira 30/08
Os garçons e manobristas da churrascaria escolhida para o ato de desagravo do deputado federal João Paulo Cunha (PT/ SP) às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) vibravam com a possibilidade de aparecer na TV. Os carros da Rede Globo e do SBT estavam estacionados desde as 18h – o jantar estava marcado para as 20h. Jantaram lautas fatias de carne enquanto nenhum convidado chegava para agüentar o tranco que estaria por vir.
"Eu, por mim, fechava várias TVs e jornais por aí", confessa um evangélico petista que chegou mais cedo do devia de Osasco, base eleitoral do ex-presidente da Câmara. Para ele, o caixa 2 é uma prática normal na política, mas não admite o mensalão sob forma alguma.
Fechada para o encontro, a churrascaria impediu a entrada de uma família em um carro cuja placa indicava que vinham de Itanhaém (SP). O funcionário que mandou-os embora me explica, exaltado: "Foi avisado a semana toda o que ia ter aqui". Talvez algumas pessoas não acompanhem tanto o noticiário quanto o PT apregoa. Ou talvez estejam mesmo é se lixando para o partido.
O irmão do sócio do estabelecimento circula entre os jornalistas presentes para anotar seus nomes e respectivos veículos de comunicação. Sutilmente, os repórteres começam a ser varridos para fora do salão. A lista iria passar pelo crivo dos políticos petistas para que decidissem quem entraria ou não, "embora quem vai pagar não seja do PT", confessa.
Os garçons instalam uma mesa do lado de fora, à beira da avenida e no caminho dos carros que passariam por ali. Pergunto se é ali onde a imprensa vai ficar durante o ato. "Sim", ele diz, com a cara fechada. "Hã, eu estava brincando", respondo. O contratante exigiu nossa saída até a hora da liberação.
Constrangidos, não é de se admirar com a suposta animosidade que alguns profissionais nutrem em relação à atitude do partido. "Depois, a ditadura é da mídia", diz uma jornalista estarrecida depois que lhe contei as regras do jogo.
O cardápio, com pizzas e carnes, não entusiasmou a presença de petistas mais graúdos. Delegados do congresso descem dos táxis. Todos desconhecidos. "Só vai ter pé-rapado, gente", reclama outra repórter.
Como até jornalistas têm as funções gastro-intestinais iguais às de qualquer ser humano, digo que preciso usar o banheiro e passo pela barreira de seguranças. Lá dentro, quase todas as cadeiras estão ocupadas, com gente que olha com desprezo para mim e meu bloco de anotações.
Quando chega, João Paulo Cunha esnoba a imprensa e é aplaudido ao entrar na churrascaria. Finalmente, a passagem é liberada para nós, mas uma corrente humana restringe ao máximo a área de ação. A cena toda é bizarra: era como se estivéssemos em um aquário, com direito a uma sonoplastia New Age.
De uma das mesas, um delegado visivelmente bêbado acena para mim, debochado. Como não posso reagir, percebo que essa é a senha para ir embora do rega-bofe. O lado positivo disso foi medir a temperatura do que me esperava no congresso, no dia seguinte.
Amanhã: "O RS tem mais é que queimar no inferno depois de eleger aquela mulher"
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