A demência autista do PT - Última parte
Última parte da tortura a que me submeti no congresso do PT:
Domingo 02/09
A sensação de chegar ao Complexo no domingo pela manhã era equivalente a testemunhar a debandada de um grupo de hienas depois de destroçarem uma carcaça na savana africana. Um cenário de final de festa, como se quem foi embora depois de ver o presidente Lula já tivesse se dado bem. Dezenas de bancas vendiam camisetas ou livros para liquidar o estoque. As camisetas que pediam a nacionalização da Petrobrás eram vendidas a R$ 2. Entre os sebos, livros como "Prelúdio da cachaça", "A fantástica corrupção no Brasil" e "Vida de estagiário".
Descubro que o PT realmente aprovou o apoio para a realização de um plebiscito "popular" para reestatizar a empresa Vale do Rio Doce, privatizada durante o governo FHC. Claro, é tudo o que o país precisa: mais uma estatal com orçamentos bilionários para ser aparelhada até o sexto escalão e funcionar como trunfo político-financeiro na hora de fechar acordos governistas.
No corredor que leva os jornalistas ao curral, vejo uma jornalista, que discute à entrada do galpão com um segurança. Como ela não havia aparecido antes no Congresso, fica surpresa e se rebela. Esbraveja que aquilo "parecia um congresso de direita" por causa da impossibilidade de transitar livremente por ali.
A fila de petistas que queriam largar suas bagagens no maleiro dava curvas no saguão. A razão, quem diria, era prática: com a maioria dos vôos marcados para Congonhas, todos marcaram suas passagens bem cedinho, para não arriscar eventuais atrasos aéreos. Menos da metade das cadeiras da platéia estavam ocupadas para a votação das moções definidas pelas tendências nos dois dias anteriores. Os mais interessados liam jornais da Mídia Má ou cochilavam.
Quando havia um quórum mínimo para deliberar e votar as moções, a mesa diretora tratou de agilizar a função, pois todos precisavam fazer o check-in no aeroporto. Berzoini iniciou os trabalhos e chegou a parar tudo para reclamar da mesa de som e das conversas de alguns militantes, que verbalizavam suas opiniões tão alto que dava para ouvi-las misturadas à voz do deputado. Para ele, o PT mostrou força e união aos opositores "políticos e midiáticos". No que soltou a frase, boa parte da platéia voltou a encarar os jornalistas.
Então, começou a falar sobre a antecipação do processo eleitoral dos diretórios, incluindo o presidido por ele: o nacional. Datas de primeiros e segundos turnos foram postos para que os delegados decidissem. A confusão deles para entender o que estava sendo proposto me intrigou. Seria possível que muitos ali estivessem a turismo e sequer leram todos os textos e proposições publicadas pela sigla antes do encontro? Claro que não. Era o fuzuê provocado pela chegada de José Dirceu. Durante a votação, militantes – especialmente os da Juventude do PT – faziam fila para tirar fotos com o ex-ministro, alheios ao que era discutido sobre o futuro do partido.
A bagunça dominou toda a votação, para desespero de Berzoini. Cada um dos temas eram discutidos à exaustão. Àquela altura do campeonato, cheguei a agradecer pela restrição imposta aos jornalistas. Acompanhar as reuniões que levaram a cada moção teria me causado danos irreparáveis.
Antes mesmo do final, José Dirceu foi ao espaço reservado para coletivas na entrada da imprensa. Cercado por dezenas de repórteres, seria um desperdício de energia me enfiar no meio deles para fazer alguma pergunta. O ex-capitão do time do presidente Lula é o anti-popstar do PT. Ao contrário do senador Eduardo Suplicy, ele não precisa fazer muito esforço para aparecer nos jornais e revistas. Aquela foi a verdadeira solenidade de encerramento do Congresso.
Notei que a melhor questão teria de ser feita ao modo petista: cheia de retórica. Quando Dirceu conseguiu se livrar dos jornalistas, me aproximei dele e lhe pedi que autografasse meu crachá de imprensa. Um pouco esapantado, escreveu seu nome logo abaixo da assinatura feita por Suplicy. Resolvi mostrar o troféu a um dos poucos deles que acompanhou toda aquela loucura desde o jantar de João Paulo Cunha, ao que ele respondeu e se afastou: "Cara, não faz uma coisa dessas. Tá louco?".
"Nunca antes na história desse partido houve um Congresso tão bom"
- Ricardo Berzoini, parafraseando Lula
Com as votações encerradas e o Complexo quase vazio, aproveitei o desleixo dos seguranças e entrei na parte reservada aos petistas durante todo o fim de semana. Alguns faziam turismo no palco. Posavam para fotos na tribuna utilizada para os discursos. Subi e me sentei para observar a atuação de dezenas de militantes. Nada mais esclarecedor. Posaram por mais de meia-hora, como se falassem para um auditório lotado ou a eleitores em um discurso. A cena deixou claro o verdadeiro desejo dos petistas: ser idolatrado pelas massas, mesmo que elas não tenham nada para escutar.
O resultado final é esse. A certeza de que eles ainda não aprenderam que a presidência da República não é do PT, dos aliados políticos e muito menos de Lula. Ela não pertence aos 60 milhões de eleitores que o elegeram em 2006. Pertence a 180 milhões de brasileiros. Enquanto isso não acontecer, todos estarão relegados à derrota.
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