Desandou
As mini-entrevistas da seção Holofote da Veja são, sem dúvida, uma das grandes atrações da revista. A repórter Heloisa Joly, responsável pela maioria das entrevistas, sempre faz perguntas provocativas para encurralar os entrevistados. A legenda da foto da "vítima" serve para coroar as bobagens. Mas na edição desta semana a revista se perdeu miseravelmente.
O entrevistado é o ator Raul Gazolla (íntegra da entrevista abaixo), que cuspiu em uma adolescente depois que esta se irritou e exibiu o dedo médio para o ator após ser advertida ao atravessar a rua sem olhar para os lados.
A legenda da foto de Gazolla é "Gazolla: aos 52 anos, nada na cabeça". Gazolla afirma que errou, que não tem orgulho do que fez e pede desculpa por ter perdido a cabeça. Mesmo assim, a revista coloca na legenda que o ator não tem nada na cabeça.
Como a Veja toma o relato de Gazolla por verdadeiro (em nenhum momento contesta o ator), cabe perguntar o que a revista acha que é ter algo na cabeça. Atravessar a rua com fones de ouvido é ter algo na cabeça? Ser advertida por isso e mostrar o dedo médio é ter algo na cabeça? Dizer que mostrou o dedo médio simplesmente porque quis é ter algo na cabeça?
Ou talvez o fato de ser adolescente e/ou mulher constitui uma espécie de categoria isenta de qualquer responsabilidade e, portanto, não sujeita à eventual explosão das pessoas agredidas? Para perguntar "Isso é motivo para cuspir em alguém?", Heloisa Joly, com seus 24 anos, provavelmente ainda não entendeu um dos princípios básicos de convivência em sociedade: não se sai por aí agredindo - verbal, gestual ou fisicamente - as outras pessoas. E isso vale para quem tem 16, 24, 52 ou 90 anos.
Se o ator errou - e ele mesmo confessa isso -, o mínimo que se pode dizer da revista é que se perdeu miseravelmente na pregação moral.
A facilidade e o destemor bananístico que levam alguém a agredir gratuitamente e sem razão uma outra pessoa estão na origem da demência moral que permitiu a compra de votos para a reeleição de FHC, a roubalheira petista ou o mensalinho severinístico - para atender aos mais diversificados gostos. Como se vê, para adotar os princípio morais do Pê Tê basta um saltinho.
Analfabetismo moral correndo solto. Detector de Pê Tê djá! (Já vou avisando que cobro caro.)
Na novela Vidas Opostas, que a Record apresentou até agosto, o ator Raul Gazolla interpretou um policial currupto. Na semana passada, protagonizou um episódio digno de seu personagem: cuspiu no rosto de uma adolescente depois de uma discussão no trânsito. Ele falou sobre o assunto com a repórter Heloisa Joly:
Veja - Por que você cuspiu em uma menina?
Gazolla - Ela estava atravessando a rua na frente do colégio dela. Como usava um fone de ouvido, buzinei para que ficasse atenta ao trânsito e ela fez aquele gesto de erguer o dedo.
Veja - Isso é motivo para cuspir em alguém?
Gazolla - O gesto dela foi gratuito. Minha filha de 5 anos estava comigo e perguntou: "Por que ela fez isso?. Eu disse que ela deve ter me confundido com um amigo dela.
Veja - Aí, você desceu do carro e cuspiu nela?
Gazolla - Errei. Deveria ter ido embora, mas quis perguntar por que ela fez aquilo. Ela respondeu: "Porque eu quis." O sangue subiu e eu cuspi. Ela cuspiu de volta, mas desviei.
Veja - Você se envergonha desse episódio?
Gazolla - Não tenho orgulho nenhum do que fiz. Peço desculpas. Mas não cuspi nela, cuspi nos jovens que estão crescendo sem limites, roubam vizinhos e espancam domésticas.
Veja - O que passou pela sua cabeça?
Gazolla - Nada. Se tivesse passado alguma coisa, não teria tido essa reação. Até eu estou chocado com minha atitude. Não sou um marginal, um criminoso.
Legenda da foto de Raul Gazolla: "Gazolla: aos 52 anos, nada na cabeça."
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