lit.
O Marcelo Benvenutti volta e meia esbraveja alguma coisa em relação à nova literatura, e eu concordo tão discreta que nem ele nem ninguém fica sabendo. A penúltima foi numa mesa redonda da Feira do Livro, aquela que eu não consegui abrir a boca de fobia social. A última foi na comunidade orkuteana Literatura do Anônimo, iniciativa interessante da Mara Coradello, um espaço para postar textos anonimamente e receber críticas. Com nome. O Pedro Mandagará também ralhou do pessoal com mania de lamuriar-se demais e não contar porra nenhuma, que vejo como um dos maiores problemas das pessoas que estão escrevendo e sobre o que eu queria falar agora. Pois bem. Me parece que as pessoas andam muito mais preocupadas em soltar suas angústias, traumas e inquietações do que propriamente contar uma história. E literatura, perdoe, é história. Portanto pegue essas coisas que incomodam, que entristecem, que irritam e jogue dentro de uma trama. Conte, não chore.
Dentro dessa comunidade intelectualizada que escreve ou ao menos se propõem a, me parece que é visto como pecado pensar em um elemento essencial da literatura. O leitor, obviamente. Não há por parte da maioria nenhuma preocupação em ser claro, por exemplo. E, por favor, não confunda ser claro com ser óbvio, que isso sim é problema (se bem que assim é muito mais fácil que você tenha sucesso, uma coluna no jornal e um livro nos mais vendidos. Mas não estamos discutindo soluções para o sucesso, e sim para uma literatura de qualidade, o que são coisas completamente diferentes).
O escritor dificilmente admite que ele é grande parte artesão, e que lirismo e sensibilidade se faz mexendo em sintaxe, verbo, vírgula, paralelismo, vocabulário, pronome. Que da vida se tira naturalmente um punhado de referências, mas não há nada de mal em ler um livro técnico sobre o transtorno bipolar do humor para construir um personagem mais consistente. O escritor não, é melhor que eu diga o pretenso escritor, porque nos já grandes se vê o trabalho em cada frase, a pesquisa em cada capítulo, ou da onde sai um troço tão tocante como "Uma casa no fim do mundo" (Michael Cunningham), se não é de muito esforço para resultar em sensações?
Sensações que o autor constrói, mas que quem sente são os outros. É pra isso que se faz literatura.

postado por Carol Bensimon as 17:00 | pitacos (15) | trackBack (0)

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