Chega um mail de uma linha do amigo paulista. "e aí, carol, novidades? vives ou sobrevives?". Pois. Tenho sobrevivido, o que não é lá grande coisa. Quero saber se todo mundo tem a mesma quantidade de energia, e pra onde vai a minha, que eu só vejo de passagem. A vida passa num ritmo constante, tem que ter força pra correr quando tem que correr e colocar a mão na frente quando tem que colocar a mão na frente. Mais ou menos isso. Era o que eu tava dizendo pra Lisbon sister, ó, passei numa praça a uma da manhã e de repente deu uma vontade de descer. Mas eu não tinha companhia. Okay, isso daí é um SEGUNDO problema. Mas supondo, continuo dizendo pra Lisbon sister, supondo que tu tivesse ali comigo e eu quisesse parar na praça. Então. Me demanda energia fazer esse convite, por mais simples que ele pareça assim exposto. Me demanda energia porque corro o risco de que tu me ache idiota, se a proposta não agradar at all, e demanda energia e RISCO de fato executar a ação, pois há na cabeça uma alta expectativa de que esse será um bom momento, mas pode muito bem não ser coisa alguma. E o outro risco é questão concreta mesmo, isso de estar na praça na madrugada, energia pra largar um pouco do bom senso e aceitar a possibilidade do perigo. Para a companhia em questão, também há energia desprendida, mais no sim do que não (pois o não é a constante, é o não sair da rotina e, portanto, não demanda esforço).
Eu achei um bilhete outro dia, desses trocados no meio da aula. Eu a geradora. Pra Laurinha. "Vamos pra Mostardas no fim de semana?". Sim, era a crazy idea, e ela disse vamos lá, mas a idéia morreu entre a preguiça e a estrada que demandava tração nas quatro rodas. Se não Mostardas, que tinha esse problema, havia, há, tanta estrada que sai daqui e vai pra outro lugar, e embora tenha esse sítio do vô tão perto, e os almoços que o Gabriel idealiza no húngaro de Portão e nas massas de São Francisco de Paula, sempre alguém esquece, sempre alguém não liga, sempre alguém acorda tarde demais e daí vai pros mesmos bares, com os mesmos garçons, as mesmas bebidas, as mesmas pessoas, e isso já não me consegue tirar de casa como antes, porque é um script que, se não se pode saber precisamente o final, ao menos se PREVÊ.
Acho que me sobram bares na vida e me faltam momentos outros. Falta uma casa enfumaçada rolando Doors, almofadas no chão e coisa e tal. Falta grama, água, correr no supermercado sem parar de rir, essa química toda que às vezes a gente acerta a mão, se aceitar o risco, mas que não se mede nem se sabe, é um troço de juntar pessoas e de repente dar certo. É uma coisa de tirar o carro dos mesmos caminhos e as gentes do seu círculo de segurança.
Se o cérebro solicita exemplos de puro êxtase, me descem uns e eu paro no número quatro, pra não ser excessivamente chata. Lembro do Animals (Pink Floyd) rolando no carro de portas abertas e os guris sentados num maldito sofá listrado no meio da grama, depois o Rica TREPANDO na árvore e fingindo tocar, lá de cima do galho, um violão imaginário. De um dia dizer pra K, olha, o que será que tem desse lado da cidade que a gente nunca passa?, e esse prédio aí na frente do Beira-Rio com esse elevador na diagonal?, vamos lá ver. De vinho derramado no tapete da Laurinha e eu acabando com uma garrafa de Amarula nos colchões rodeados de velas. De tomar conta d’um pedaço de grama da Zona Sul e, incrível, aparecermos os quatro com uma cara lavada de felicidade em TODAS as fotos, que eu aindei olhando ontem.
Não tem segredo pra isso. Pode dar pé, pode não dar. De novo a gente tá falando de riscos, de energia e coisa e tal (esse papo de energia tá soando meio hippie. Hehehe). Cadê, hein? Eu tô guardando pra quê? Que é isso. Vai ficar tarde. Prepara e canga e vambora.
postado por Carol Bensimon as 11:03 | pitacos (3) | trackBack (0)