paris-sonho.
paris-sonho

Ruim com ilusões. Pior sem, disse a realista. Eu vezenquando sou mesmo a menininha. Vai um cabelo recolhido pra trás da orelha, ruborizo, foco o chão. Pauladas não me impedem os sonhos. Sonho acordada Paris. Só cabem nela os milagres da vida, realejo, cafés, telhados de ardósia. Até metrô vira romance, por cheiro lembrado, sax soando, conto do Cortázar. Não sei como é que o tempo deixou intacta Paris no plano das minhas idéias, como fuga possível e desejada e promessa de felicidade. Talvez porque algum lugar tem que ser, de preferência um que não se possa alcançar (ainda que temporariamente, acreditamos nós).
Paris-sonho guarda o melhor de todas as épocas. Toda a baguette vem com camembert e todo o garçom gosta de falar. Todo mundo se beija na frente da Torre Eiffel e por todos os lados só tem cheiro de perfume. Ou no máximo de prédios que contam séculos, aquele cheiro gostoso de velho.
Em Paris-sonho, eu não trabalho lavando prato, servindo mesa ou cuidando de criança. Eu não trabalho at all, nem sequer estudo, porque não me agradam as pós (pela tese do final). Nas noites ou nas tardes, mas nunca de manhã, eu faço uma oficina literária qualquer. Eu tomo depois un chocolat chaud falando de literatura com os meus colegas. Eu me culpo um pouco por não ser um esteriótipo total (café&cigarros), mas sigo com as minhas meninices.
As horas eu passo olhando Paris pelos que estão nos escritórios ou num vagão de metrô. Se me param na rua (na Paris-sonho, as pessoas gostam de interagir umas com as outras), eu digo que sou flâneur, que é o mesmo que dizer É, eu só ando por aí achando que assim posso contribuir pro mundo, mas na verdade não passa é de vadiagem.
Eu não moro na banlieu (periferia), com os caras do novo hip-hop francês. Pra mim, contato direto com o legado de Haussmann, a simetria do romântico. Na janela bem no meio do telhado, claro. Com um imac, que é o mudérrno pra máquina de escrever. Se bobear, até começo a consumir um vinhozinho e compro um gato. Ouvir o accordéon, nem precisa esforço, já me vou em piruetas mentais quando deliro com a Paris-sonho.
E eu posso estragar tudo só apertando um botão aqui na cabeça. Mas por que eu faria isso? Sei o roteiro exato do primeiro dia. Discman (até lá, talvez ipod) rodando a trilha do Amélie, e eu com a minha vida nova margeando o Sena.

postado por Carol Bensimon as 18:20 | pitacos (3) | trackBack (0)

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