Domingo, chegando ao teatro, meu lugar de plebéia foi transferido para um assento da alta sociedade: o movimento era tão fraco na peça (Baque) que sentaram todo mundo nas poltronas chiques do São Pedro. Era divertido ficar tentando adivinhar quem tinha desembolsado os 45 pila e quem, como nós, tinha se dado bem por esse triste fato do vazio. A peça começou com um executivo em poltrona modernosa, monologão, e eu tentando me reacostumar com o teatro, que sempre me deixa inicialmente constrangida (parece que estou espiando pelo buraco da fechadura). Pelo início, eu tava meio desgostosa. Pelo meio dessa primeira história (eram três, independentes, mas todas com um baque), eu já tava naquele estado transtornado de tontura positiva: quando a obra é boa, me sobe uma empolgação e eu tento concentrar nos mínimos detalhes. E havia muitos. Como teatro: alguns detalhes de pés batendo o chão, uma projeção interessante, Fiona Apple cantando Across the Universe, cenários muito bem cuidados. Como história: a lot of subtexto, elementos que iam e voltavam, personagens que começavam como vítimas e depois se revelavam filhos da puta de primeira. Humanos, enfim. Desse cara, o Neil Labute – que é canadense, não americano – eu não esperava outra coisa. O sujeito joga ali o podre, para o choque e apreciação (ou não necessariamente. As senhoras talvez esperassem outra coisa). Uma pena toda aquela falta de público.
postado por Carol Bensimon as 09:56 | pitacos (2) | trackBack (0)