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Tenho a nítida sensação de estar fazendo tudo ao contrário na "carreira" literária, e nessas vezes que penso coisas do tipo, tento encontrar o conforto na negação do maniqueísmo, "não, não, não há um caminho, cada um encontra o seu jeito" e etc e tal. Mas a verdade mesmo é que tudo está estranho. Cadê o livro publicado? Pois é precisamente a partir daí, da falta desse livro, que reside a bizarrice da situação. Não há livro, mas a Zero Hora me procurou há uns meses. Não há livro, mas estou lá na Bravo, e no começo havia um certo medo em escrever a pequena nota bibliográfica de pé da página. Eu disse assim pra um amigo: "Pô, que vergonha, eu tenho 23 e os outros escritores mais, eles tem sempre mil livros e coisas pra colocar nos pés de página, mas e eu?, vou dizer o quê?". E o meu amigo, talvez sábio ou talvez equivocado, disse assim: "Então quem tem que ter vergonha são eles por tu ter conseguido o mesmo espaço".
Mas e o livro? Pois a falta dele vem de turbulentos conflitos psicológicos. Bem, e a auto-crítica é destruidora sometimes, o que faz com que contos escritos há seis meses já sejam julgados como completo lixo. Além do mais, não tenho vontade de publicar um livro de contos.
Então estou trabalhando numa novela, mas, do jeito que vai, levará anos. Familiares já comparam a empreitada à eterna espera de Penélope, tecendo ao infinito sua tapeçaria enquanto espera o homem amado. Eu faço e refaço, procuro um método, acho só confusão. Já tentei por exemplo colocar cada capítulo num arquivo, evitando assim que eu leia o MONTANTE toda vez que sento no computador, o que leva inevitavelmente a uma nova reescritura. Isso também não funcionou. Outra: meu estilo econômico criou dificuldades no início para tentar a narrativa longa. Depois de escrever uma página, acontecia d’eu perceber que aquela ação ou descrição deveria durar umas cinco. Isso está se consertando, ao menos. Ok, dito isso, você leitor vai com certeza pensar algo do tipo "então desiste e volta pro conto". Mas a situação não é tão trágica quanto minha descrição: há avanços, e particularmente o último resultado me deixou bem satisfeita, a ponto de gritar a alguns: ENCONTREI O TOM! Ainda assim, não há certeza de que a próxima releitura manterá a mesma opinião, justamente aí reside o problema central.

postado por Carol Bensimon as 13:25 | pitacos (13) | trackBack (0)

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