california
Esses dias eu quase dormindo e o Red Hot Chili Peppers começou a tocar na tevê uma música chamada California qualquer coisa. Anthony Kiedis cantava e se travestia de Marilyn Manson, Kurt Cobain e outros. Eu queria mesmo ter capturado todas as referências, mas não foi possível. Sobretudo no final fiquei meio em dúvida, ele de bermudão e gravata vermelha, não sei se era pra ser a Avril Lavigne ou se ele próprio.
Mas depois fiquei é pensando "porra, mais uma música com California no nome", a mítica é mesmo forte. Tem Joni Mitchell falando que está em Paris e louca pra voltar pra California, depois temos garotas com flores no cabelo (Led Zeppelin) e até gente que diz que nunca chove num pedaço lá da California. Tá bem, o Rufus Wainwright detona na sua California. E muitas outras obras tratam do lugar como um grande engodo: Pergunte ao Pó, Sunset Boulevard, Crash, a lista nunca termina.
E tem o Dia do Gafanhoto, a novela de Nathanael West. Ele morreu num acidente de carro em 1940 e por isso não publicou muita coisa. A wikipedia diz que ele era um péssimo motorista. O Dia do Gafanhoto é um ótimo livro e um bom filme. A cena final parece funcionar melhor no filme, é chocante. Curioso é que (e pouca gente sabe) um dos personagens do Dia do Gafanhoto, um homem com algum dinheiro e totalmente pobre de espírito, ou talvez com um certo retardamento mental incluso, chama-se Homer Simpson. É ele que vai surpreender no desfecho. Fica aí com um pedaço do livro no qual ele fala sobre os aposentados que lotam a California. Um perigo atingir os desejos.

"Haviam passado a vida matando-se de trabalhar em algum emprego monótono e cansativo, atrás de escrivaninhas ou balcões, no campo ou à frente de máquinas repetitivas de todos os tipos, contando tostões e sonhando com o lazer a que teriam direito quando tivesse economizar o bastante. Finalmente chega o dia esperado. Já podem ter uma renda semanal de dez ou quinze dólares, e não há lugar melhor para onde ir do que a Califórnia, terra de sol e de laranjas.
Quando chegam lá, descobrem que o sol não basta. Enjoam de laranja, até mesmo de abacate e maracujá. Não acontece nada. Eles não sabem o que fazer com o tempo livre. (...) Então se mataram de trabalhar por tanto tempo só para poderem fazer um piquenique de vez em quando? Vêem as ondas quebrarem na praia em Venice. A maioria deles veio de lugares onde não há mar, mas quem já viu uma onda já viu todas. Isso acontece também com os aviões em Glendale. Se de vez em quando um avião caísse, e eles pudessem ver os passageiros sendo consumidos num 'verdadeiro holocausto', como diriam os jornais... Mas os aviões não caem.
O tédio que eles sentem se intensifica. Percebem que foram tapeados, e ardem de ressentimento. Diariamente, durante toda a vida, eles leram jornais e foram ao cinema. Os filmes e os jornais lhes encheram a cabeça de linchamentos, assassinatos, estupros, explosões, naufrágios, adultérios, incêndios, milagres, revoluções, guerras. Essa dieta diária tornou-ou sofisticados. O sol é uma piada. As laranjas não podem estimular seus paladares embotados. Nada é violento o suficiente para retesar as mentes e corpos flácidos. Eles foram enganados e traídos. Mataram-se de trabalhar e economizaram dinheiro à toa".
(The Day of the Locust, Nathanael West)

postado por Carol Bensimon as 13:17 | pitacos (13) | trackBack (0)

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