o último.
Se alguém de menos de 35 se mata ou é morto, é bastante possível que ele tenha um perfil no Orkut e que esse fique morbidamente resumindo uma vida que acabou, enquanto o seu scrapbook se enche de xingamentos ou pêsames, vai depender do caso. O curioso é que, caso você decida perder um mínimo tempo de investigação fingindo que é CSI, é possível descobrir muito mais do que os jornais te dizem. E há gente que perde um bocado de tempo com isso, é verdade. Tanto que há até uma comunidade chamada Perfil de gente morta ou coisa parecida.
O caso da vez é o da garota e o professor de piano no motel. Pra quem não é de Porto Alegre: garota de 13 anos e seu professor, de 31, são encontrados mortos em um motel, em cujas paredes escreveram uma série de mensagens etc e tal. O curioso no perfil dele (o dela foi deletado) é que claramente confirma o que tenho visto: quando o sujeito faz uma merda dessas, o seu about já estava indicando o quão insano o sujeito andava nos momentos antecedentes ao crime/suicídio. O que me leva à pergunta: como é que quem está próximo nunca percebe que algo está muito errado e a merda é para já? Veja que esse começa assim: 'UM ANJO ADORADO PELOS DEMÔNIOS JAMAIS "EVOLUIREI"'. E o que dizer disso: "(...)um verdadeiro sábio na hora de fazer a escolha ao se entregar a fatalidade na hora certa...". E mais: "par perfeito: Quem pertenca ao meu mundo que com certeza...........NAO E ESSE!!!!!!"
A maioria desses que tenho visto se matarem estão impregnados desse discurso de demônios e assemelhados, adoram citar coisas em latim e coisas do tipo, mas achei curioso o fato do professor de piano ser um obcecado pelo jazz. Se parte do gênero pode de repente se relacionar com a confusão mental do sujeito em questão, confesso que nunca imaginaria um suicídio com toques de pedofilia e trilha jazzística. Imagino mais um vernissage e pessoas segurando sobre guardanapos alguns canapés impossíveis de serem identificados. De qualquer forma, foge um pouco do clichê metal, embora não tenha conseguido fugir do clichê demônios e "eu não pertenço a esse mundo".
O motel agora é que vai se dar muito mal por ter deixado uma menina de 13 anos entrar. E pelo Orkut teve até gente dizendo mesmo qual era o motel, por supostamente ter lidado com os corpos num hospital não lembro o qual. É que invadiram a comunidade de alunos do professor para sair comentando do caso. Há uma profusão de tópicos e alguma tentativa de passar adiante histórias inventadas, como "ah, ele tinha aids e passou para ela". Os alunos mesmo do professor acho que deram no pé. De qualquer forma, descobri assim que entrei no perfil do sujeito que temos UM AMIGO EM COMUM. Assustador, mas só mais uma das razões para a gente se sentir tão incomodamente próximos dessas tragédias, coisa que tevê ou jornal nenhum faria. A própria idéia de "vi na tevê" já cria um inevitável afastamento. No Orkut ele é o cara ali do lado.

postado por Carol Bensimon as 12:02 | pitacos (8) | trackBack (0)

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