181 pessoas morreram assassinadas em abril no Ro Grande do Sul e a Zero Hora resolveu fazer uma matéria sobre isso. Disseram que é o "mês mais sangrento" dos últimos sete anos. Fico feliz que tenham deixado de lado aquele papinho ó como as estatísticas referentes a crimes caíram nas primeiros meses do governo Yeda (e aí olhando no detalhe era coisa assim insignificante, na margem do erro estatístico). 181 pessoas em um mês e só no Rio Grande do Sul deve ser mais do que a quantidade de gente que morre assassinada na França inteira POR ANO. Mas estou só chutando, de toda a maneira. Um trecho:
A investigação jornalística constatou que os assassinatos no Estado seguem um perfil de acordo com a região. No Interior, predominam as desavenças ou brigas, parte delas resolvida a facadas. Já nos grandes centros urbanos, prevalecem as execuções com armas de fogo - usadas em 82% dos casos de abril. O narcotráfico é o combustível que alimenta grande parte desses crimes.
Esse interior me pareceu um conto do Simões Lopes Neto, por Deus. Matar por duas garrafas de cerveja, por uma calça emprestada ou por um olhar enviesado no jogo de futebol? Fico pensando a que ponto chegou o barbarismo e se duas pessoas se matariam discutindo Aristóteles. Estou numa fase de achar que tudo se resolve com educação. Estou provavelmente certa. No caso do PAMPA, creio que pesa o histórico do barbarismo.
Homicídios como esses, provocados por desavenças instantâneas ou adubadas pelo tempo e pelo ódio, foram os campeões em abril. No Interior, essas rixas são comuns e muitas vezes resolvidas na faca, instrumento usual no campo e tradicional entre os gaúchos. Mas até com paus e pedras se mata no pampa, embora o revólver continue sendo a arma preferencial.
Nas cidades, a maioria dos homicídios está obviamente ligado ao narcotráfico, e daí as armas de fogo prevalecem. Aí dizem:
A maioria da população não convive com homicídios por não ter perfil belicoso, tampouco se envolve com o submundo das drogas. Nem por isso o enfrentamento a esse crime pode ser desprezado pelas autoridades.
Bem, mas grande parte da classe média está a fim de desenvolver um perfil belicoso, não no sentido de matar vizinhos por causa do barulho do salto, mas de achar que vão salvar a família se carregarem uma arma daqui para lá e etc, o que, como eu já devo ter dito na época do referendo, é um pouco de pretensão achar que tu, homem de negócios, vai se dar melhor quanto estiver metido num western com um sujeito que tem a arma de fogo basicamente como instrumento de trabalho. Era o que estávamos conversando, imagina, na universidade, porque tenho um colega que veio claro que do Direito com adesivos de escolas de tiro na pasta, e também um Chega de tanto imposto (sobre o qual falarei provavelmente no próximo post). Perguntei ao colega: quantas pessoas tu conhece que reagiram a um assalto e se deram bem? Ele disse: olha, eu conheço algumas. Desconfiei. Mas tudo bem, mesmo que conheça algumas, isso não parece justificar qualquer tentativa de reagir numa situação dessas. Quando o teu erro tem boas chances de te levar à morte, bem, então eu acho melhor ficar QUIETO.
Acontece que esse dia da conversa no bar, com o colega do Direito, estava ainda o papo do massacre da Virginia nas conversas. E o sujeito, sofrendo da cegueira Charlton Heston, sugeria que o massacre só tinha acontecido porque havia uma lei que proíbe o porte de armas dentro das universidades. Se ele entrasse num restaurante na Virginia, disse o colega, ele seria trucidado em cinco segundos, porque todos lá estariam com as suas armas. Mais tarde eu vi que esse argumento já estava correndo pela cabeça dos americanos. Parece mais fácil do que pensar que há algo de errado com a sociedade. A última Carta Capital traz uma matéria interessante sobre isso.
Mas só para fechar a reportagem essa da Zero Hora, gostei de ver um coronel falar assim:
- Uma das saídas é recolher armamentos - diz o coronel Paulo Roberto Mendes, subcomandante da Brigada Militar, que neste ano já retirou 2,2 mil armas de fogo de circulação no Estado.
Mas certo que se continuassem dando a palavra ao coronel, falaria sobre a diferença entre "bandidos" e "cidadãos de bem". Ai ai.
postado por Carol Bensimon as 10:25 | pitacos (10) | trackBack (0)