moleskine.
Sempre olhei torto para as cadernetas Moleskine. Para quem não conhece, são uns caderninhos pretos e compactos com um elástico. Os modelos variam entre abertura na horizontal ou na vertical, páginas com linhas, quadriculadas ou sem nada, e outros pormenores. Mas a essência se mantém, e agora já é tempo de dizer o que há afinal com os Moleskines que fizeram a sua fama e meu inicial desgosto: Hemingway usava-os, e também Picasso e Van Gogh e Sartre e Apollinaire. Então os Moleskines desapareceram em algum lugar do século XX e ressurgiram faz uns dez anos, e muito quero-ser-escritor-cool começou a carregar o seu, como se esse ato por si só os permitisse entrar num panteão de artistas geniais. Pelo menos essa era a minha opinião mal-humorada.
Agosto 2007 em Paris e é justamente aí que venço o preconceito, mudo de opinião e viro apenas mais uma entre aqueles que criticava: compro um Moleskine. Um mês depois, ganho outro de presente. Vinte dias depois, peço que o Walter me traga o terceiro na sua volta para o Brasil, porque É PRECISO TER ESTOQUE E NÃO DEIXAR FALTAR (e traz um para o meu namorado também, que vou iniciá-lo no Moleskine, obrigada).
Eis o que diz minha nova opinião: continuo achando um pouco enganação quando alguém me diz que usa Moleskine porque é BOM; porque cabe no bolso, porque de excelente qualidade etcetera etcetera. É claro que tudo isso é verdade, mas não só. Duvido que alguém que use um Moleskine consiga ignorar a tradição do negócio, e duvido inclusive que essa não seja uma bela de uma motivação na hora da compra. Agora já não acho, como crítica chata que fui, que usar Moleskine é tentativa vergonhosa de comprar identidade artística. Mas acredito fielmente que anotar minhas coisas num me dá uma sensação de estar inserida numa linha histórica contínua de pessoas tendo idéias. E não só idéias geniais, ou idéias de gênio (que não necessariamente são a mesma coisa). Além de Hemingway ou Picasso, também outros anotaram seus segredos ou projetos. Gente anônima que se foi e deixou um pouco de si nos caderninhos pretos. Senti isso mais intensamente ainda quando vi os Moleskines do Gabriel. É estranho dizer isso, mas, desde que tenho um Moleskine, venho tendo mais idéias, e isso acontece porque tenho VONTADE de ter idéias, algo um pouco como um dever, uma homenagem àqueles que já as tiveram.

postado por Carol Bensimon as 14:36 | pitacos (11) | trackBack (0)

arquivos

insanus



Kongo.gif