"Literatura feminina" é o tipo de termo que gera um incontável número de piadas internas na minha vidinha. Desde que entrei no mestrado então, isso se tornou mais engraçado ainda. Em primeiro lugar porque, no meio acadêmico, me parece difícil que alguém pense em analisar o texto da uma autora sem tocar na questão do feminino, como se ser MULHER determinasse todo o sentido de uma obra. Depois, o feminismo como teoria literária é pura enganação, nunca se sustenta, e em geral acaba caindo para uma leitura psicanalítica ou marxista. O mais estranho contudo é quando tentam discutir se existe "escrita feminina", uma prosa mais intricada, subjetiva, simbólica e todas essas coisas. Pensando então que Hemingway é texto de macho, fica fácil dizer que Joyce ou Cortázar são mulherzinhas, e essa afirmação basta para percebermos que um tipo de análise dessas não faz mesmo o menor sentido.
Mas o problema, infelizmente, não se restringe à academia. Tá certo que tem mulher que escreve texto que cheira a sutiã queimado, e disso prefiro passar longe, mas me parece que o grande nó está na recepção: por que, quando uma mulher escreve sobre filhos ou trabalhar ou administrar a casa ou traição ou infelicidade amorosa, ela está retratando a sua "condição de mulher" e, quando um homem escreve a mesma coisa, está simplesmente sendo HUMANO?
Me lembro de um livro que li sobre Paris, no qual um escritor americano reclamava que a cidade não tinha uma livraria especializada em literatura homossexual (ele era, obviamente, gay). Isso me marcou por ser uma das coisas mais bobas que já ouvi. Que papo é esse de literatura gay, literatura negra, literatura feminina? A literatura tem que valer por si só, e não porque está representando um grupo ou outro. Por isso, quando escrevo, não penso nada em gêneros e não tenho nenhum problema em usar tanto narradoras femininas quanto narradores masculinos. Os confiltos são humanos e podem caber em qualquer um. Até porque, na minha vida e na das pessoas que me cercam, os papéis dos gêneros não são tão estanques assim. Além disso, fora com o professor de tênis, não tenho grandes contatos com machismos e assemelhados, e por isso não vejo nenhuma necessidade em usar literatura como meio para afirmar "identidade feminina" ou qualquer bobagem dessas.
Mulheres, me chicoteiem, mas é o que eu acho.
postado por Carol Bensimon as 16:31 | pitacos (26) | trackBack (0)