brasil-sil-sil.
Desde os 17 anos, eu tiro a sobrancelha no mesmo INSTITUTO. Já tentei me livrar disso de muitas maneiras: fui em outros lugares e tentei pegar a pinça com as próprias mãos. Tudo logo revelou-se falho, e de volta tive que ir nesse lugar do Centro que, além de ser fora de mão pra caramba, ainda tem mujeres que me hostilizam por eu não fazer o tipo que fala sobre cirurgias plásticas e novelas. O movimento de eterno retorno só tem um motivo: essa mulher é a melhor tiradora de sobrancelha da cidade.
Mas a coisa toda tem o seu preço. Se hoje me abstenho de participar de qualquer assunto, não posso deixar de ouvir o que é dito em volta, que é basicamente o que os meus companheiros do insanus chamariam de "merda pela boca". Sem parar. Na última vez que estive lá, foram tantas pérolas que achei que jamais me lembraria de todas. Me esforçando pra prender as frases na memória, percebi que o conjunto da obra formava o retrato mais fiel do BRASIL-SIL-SIL.

Brasil e a educação no seio familiar: "O padrasto dela [vira-se para a filha, de 15 anos que parece uma mulher produzida de 35] criou ela desde os 2 anos. Ele tem mais do que direito de xingar, ele tem direito de bater."

Brasil e a tolerância racial: "Lembra da fulana? [alguém que tanto a tiradora de sobrancelha quanto essa cliente-amiga conhecem]. A filha dela adora um neguinho. Coitada da fulana."

Brasil e a juventude esclarecida: "E tem mais. Parece que a filha da fulana gastou 2.500 de telefone, imagina! [a garota de 15 anos se vira e diz] Ai, guria idiota! Imagina quanta roupa eu podia comprar com 2.500 reais!"

Brasil e a crença na ciência: [tiradora de sobrancelha lembra de um amigo delas que morreu, ao que cliente-amiga responde] "Ele ficava me perseguindo logo depois que morreu, aí fui num centro espírita e passou. Agora ele aparece, mas fica quietinho num canto".

Brasil e o orçamento familiar tratado com responsabilidade: Mããeeee [a guria de 15 anos que parece 35], achei os óculos da M-I-N-H-A V-I-D-A. Custa o dobro do que tu tá pensando. 350 reais. Ai, mãe, me dá, é o óculos da minha vida. Passei três meses procurando ele. Me dá. Dá pra fazer em 10 vezes no cartão, naumdanada."

postado por Carol Bensimon as 22:56 | pitacos (7) | trackBack (0)

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