« junho 2006 | Principal | agosto 2006 »

villa dall'ava.
Porque muitos sabem que os personagens do meu romance moram numa casa, hm, fora dos padrões estéticos mais óbvios do que é de fato um lar, tenho recebido referências interessantes para construir a tal da narrativa. Casal Sapo e Dani F. por exemplo me emprestou o livro S, M, L, XL sobre os projetos do arquiteto Rem Koolhaas, um desses grandes e bonitões de tirar a respiração (o livro. Não há foto do arquiteto por enquanto). Interessante que, pelo que vi rapidamente, ele se propõe também a discutir um pouco o papel da arquitetura hoje. Mas foram sobretudo as fotos da Villa Dall'Ava que chegaram como um presente para esta um-dia-quero-ser-escritora-de-verdade que já está se afeiçoando por essas casinhas que fazem a maioria torcer o nariz. Se eu soubesse dela antes, teria visitado quando estive na França. Se é que se pode visitar. De qualquer maneira, só vê-la de longe entre um monte de casas do século XIX causaria o estranhamento que estou gostando de sentir.

Villa dall Ava_praes.jpg

postado por Carol Bensimon as 15:57 | pitacos (611) | trackBack (0)

me canta o faroeste caboclo.
Outro dia uma garota estava cantando QUALQUER música que tocasse no seu ipod, e isso que eram muitas mesmo. Ela sabia todas de cor. Fiquei pensando que essa garota certamente é uma exceção dos tempos mudérrnos, onde as pessoas não tem mais cedês com encartes e sobretudo onde as pessoas escutam coisa demais porque é fácil ter acesso a qualquer troço e há realmente muitas bandas surgindo (sem contar todas aquelas antigas que tu acha que deveria conhecer e aí vai ler a respeito no wikipedia e fica pulando de link em link até abrir mil tabs e achar mais mil bandas. Ai, que canseira, jesus). Bem, o que estou dizendo é que me deu saudade de doer desse tempo que a gente sentava no quarto pra ouvir o tal do cedê e ficava acompanhando cada verso, depois podia sair pelo colégio cantando com o walkman ou encarar uma rodinha de violão.

postado por Carol Bensimon as 15:17 | pitacos (7) | trackBack (0)

o buquê.
Saí para comprar flores pra vizinha. Hahaha, não. É só porque ela está se formando, nos conhecemos desde muito pequenas, a imagem dela e da irmã falando um espanhol ensandecido (são uruguaias) quando se comunicavam entre elas é uma das boas memórias da minha infância. Agora cortamos o cabelo com a mesma pessoa.
Saí para comprar flores pra vizinha e sempre fico meio insegura com as misturas. Deixo que tentem as pessoas especializadas e fico dizendo sim ou não. A moça fez com muito bom gosto. Ah, sim, é na Padre Chagas. Paguei e segurei o buquê. Nossa mãe, foi lindo. Veja bem, porque não era uma CESTINHA ou essas coisas. Era eu e os talos. E o celofane para suavizar. Na balbúridia mental, o buquê instaurou um clima docinho delicioso. Ninguém vai me entender, nem eu mesma. Sei que respirei mais leve e andei mais bonito com aquele buquê na mão. Pena que o carro estava tão pertinho, e agora são só mais oito andares para subir e fim.

postado por Carol Bensimon as 17:41 | pitacos (5) | trackBack (0)

nunca mais vou me recuperar.
Correio do Povo hoje, página 27, primeira frase da notícia cujo título é "Materazzi irá depor hoje na Fifa":

"A Fifa fazerá uma acareação entre Zinedine Zidane e Marco Materazzi(...)"

Todos os pelinhos do braço em pé.

postado por Carol Bensimon as 14:25 | pitacos (16) | trackBack (0)

california
Esses dias eu quase dormindo e o Red Hot Chili Peppers começou a tocar na tevê uma música chamada California qualquer coisa. Anthony Kiedis cantava e se travestia de Marilyn Manson, Kurt Cobain e outros. Eu queria mesmo ter capturado todas as referências, mas não foi possível. Sobretudo no final fiquei meio em dúvida, ele de bermudão e gravata vermelha, não sei se era pra ser a Avril Lavigne ou se ele próprio.
Mas depois fiquei é pensando "porra, mais uma música com California no nome", a mítica é mesmo forte. Tem Joni Mitchell falando que está em Paris e louca pra voltar pra California, depois temos garotas com flores no cabelo (Led Zeppelin) e até gente que diz que nunca chove num pedaço lá da California. Tá bem, o Rufus Wainwright detona na sua California. E muitas outras obras tratam do lugar como um grande engodo: Pergunte ao Pó, Sunset Boulevard, Crash, a lista nunca termina.
E tem o Dia do Gafanhoto, a novela de Nathanael West. Ele morreu num acidente de carro em 1940 e por isso não publicou muita coisa. A wikipedia diz que ele era um péssimo motorista. O Dia do Gafanhoto é um ótimo livro e um bom filme. A cena final parece funcionar melhor no filme, é chocante. Curioso é que (e pouca gente sabe) um dos personagens do Dia do Gafanhoto, um homem com algum dinheiro e totalmente pobre de espírito, ou talvez com um certo retardamento mental incluso, chama-se Homer Simpson. É ele que vai surpreender no desfecho. Fica aí com um pedaço do livro no qual ele fala sobre os aposentados que lotam a California. Um perigo atingir os desejos.

"Haviam passado a vida matando-se de trabalhar em algum emprego monótono e cansativo, atrás de escrivaninhas ou balcões, no campo ou à frente de máquinas repetitivas de todos os tipos, contando tostões e sonhando com o lazer a que teriam direito quando tivesse economizar o bastante. Finalmente chega o dia esperado. Já podem ter uma renda semanal de dez ou quinze dólares, e não há lugar melhor para onde ir do que a Califórnia, terra de sol e de laranjas.
Quando chegam lá, descobrem que o sol não basta. Enjoam de laranja, até mesmo de abacate e maracujá. Não acontece nada. Eles não sabem o que fazer com o tempo livre. (...) Então se mataram de trabalhar por tanto tempo só para poderem fazer um piquenique de vez em quando? Vêem as ondas quebrarem na praia em Venice. A maioria deles veio de lugares onde não há mar, mas quem já viu uma onda já viu todas. Isso acontece também com os aviões em Glendale. Se de vez em quando um avião caísse, e eles pudessem ver os passageiros sendo consumidos num 'verdadeiro holocausto', como diriam os jornais... Mas os aviões não caem.
O tédio que eles sentem se intensifica. Percebem que foram tapeados, e ardem de ressentimento. Diariamente, durante toda a vida, eles leram jornais e foram ao cinema. Os filmes e os jornais lhes encheram a cabeça de linchamentos, assassinatos, estupros, explosões, naufrágios, adultérios, incêndios, milagres, revoluções, guerras. Essa dieta diária tornou-ou sofisticados. O sol é uma piada. As laranjas não podem estimular seus paladares embotados. Nada é violento o suficiente para retesar as mentes e corpos flácidos. Eles foram enganados e traídos. Mataram-se de trabalhar e economizaram dinheiro à toa".
(The Day of the Locust, Nathanael West)

postado por Carol Bensimon as 13:17 | pitacos (13) | trackBack (0)

zizou.
Impressionante como o episódio Zidane simplesmente ocultou a vitória da Itália. Parece até premeditado. A Globo, na sua leitura labial, falou que a ofensa tinha algo a ver com a irmã. Tua irmã é prostituta ou algo assim. Deu até no Le Monde. Mas ontem o Guardian também usou seus especialistas e leu outra coisa, relacionada a muçulmanos terroristas etc e tal. E o jornal da TV5 mostrou a cena de outro ângulo - de frente - e lá pôs todo o suposto texto. Materazzi já saiu lascando que é ignorante demais e que nem sabe o que quer dizer terrorista. Ahã. Enquanto isso, correm boatos numa revista alemã de que, caso se comprove o racismo, a Itália pode perder a taça (duvido), e que do outro lado Zidane pode perder o prêmio de melhor jogador da Copa. Ok, tudo isso tu já sabe, estou só dando um panorama, bem. Fato é que hoje às 19h (horário de Paris) o Zidane vai falar sobre o episódio no Canal Plus. Eu não me admiraria se esse problema futebolístico ainda venha a inflamar, e muito, a questão da imigração na Europa e tudo o mais, e que queimem pizzarias nas periferias francesas.

postado por Carol Bensimon as 14:33 | pitacos (7) | trackBack (0)

algodão doce.
Quero descobrir como se diz "algodão doce" em várias línguas. Aceito inglês, espanhol e italiano. Pra começo está bom assim. Ninguém vai saber mesmo em russo.

postado por Carol Bensimon as 00:33 | pitacos (21) | trackBack (0)

correio do povo, 7 de julho.
meus negritos.

"O experiente zagueiro da França, Lilian Thuram, que atua no futebol italiano, considera a Itália a melhor equipe do Mundial da França."

"Para esse jogo, a Alemanha não poderá contar com o zagueiro Per Mertesacker, que terá o calcanhar esquerdo operado ontem."

postado por Carol Bensimon as 12:15 | pitacos (4) | trackBack (0)

tocando violino no trigo.
Eu estou ficando esclerosada e talvez comece a me repetir. Senti vontade de contar o que posso já ter contado. Mas vou lá.
Há muitos e muitos meses, no meio do reino glamouroso da publicidade, um nome foi roubado para servir a fins quase hippies. Eu roubei, se chama “momento vida” e, com um pouco mais de motivação, teria potencial para virar a razão da existência ou um livro de auto-ajuda.
Para chegar na explicação, temos que dar umas voltas. Começa assim: diretor de criação de agência lê um texto, atribuído a um cientista, sobre a percepção que nós temos do tempo. Segundo ele, ações que fazemos de forma repetida, como dirigir para o trabalho, por questão de “economia de memória”, só são armazenadas como UMA ÚNICA experiência. Isso explicaria o fato de que, quando estamos dentro da rotina, o tempo parece passar voando. Por outro lado, em situações novas, todos os sentidos estão ligadíssimos e registrando memórias, e portanto temos a impressão de que o tempo passa mais lento. O melhor exemplo disso é uma viagem. Três dias no lugar e temos a nítida sensação de que faz já muitas semanas.
Ciência vira então publicidade em tradicional comercial de fim de ano da RBS. Aquele que consagrou o jingle VIDA (vida é um grito de gol, é inverno ou verão e etc). Na versão 2005/2006, a argumentação que paira é: engane o tempo. Para deixar a vida maior, faça coisas diferentes (com palavras um pouco mais belas do que uso agora, hein). O áudio transgrediu o jingle original e mudou a letra para o novo propósito. As imagens mostram amigos correndo num campo, pessoas tomando chuva, e atingem seu ápice numa loira de vestido longo tocando violino no meio do trigo. Depressão instantânea cada vez que ele passa (idéia que acabei adotando pro conto de verão que saiu na ZH). Eu quero. E daí, nas conversas de reclamar-se da vida via msn, estava cunhado o nome: momento vida.
Não temos muito, claro. Mas o fato d’eu ter dado esse nome para uma sensação antiga acabou apurando minha percepção: em algumas situações bastante raras em que estou com PESSOAS e fazendo ALGUMA COISA, cria-se uma misteriosa – e temporária – ligação com esse grupo, subitamente todos estão felizes e motivados, há risadas e paz, quase um filme, ou melhor, quase a vida atingindo o irreal da publicidade, que por instantes se torna alcançável.
Como cartesiana incorrigível, já tentei mapear as condições nas quais isso tende a acontecer. Vejo como indispensável que exista a companhia de alguém, em geral de mais de uma pessoa, mas grupos grandes (mais de 4 ou 5) parece impossibilitar o momento vida. Me parece contudo que o fator de peso mesmo é a natureza da situação. Situações insólitas geram momentos vida. Não precisa ser tanto quanto tocar violino no meio do trigo e de longo vermelho, mas alguma coisa diferente do BAR DE SEMPRE ajuda. Sábado passado, por exemplo, ir para a Zona Sul a uma da manhã procurando uma festa junina cuja única referência era um endereço (rua desconhecida, obviamente) deu em momento vida. Atente aqui para o fato de que o objetivo nunca foi atingir o objetivo (chegar à festa, entrar, beber, rir), mas sim a busca.
Ah, sim. Estradas dão momentos vida. Tanto quanto podem ser entediantes. É, não deu pra criar uma fórmula. Bem, tem que viver.

postado por Carol Bensimon as 21:01 | pitacos (4) | trackBack (0)

arquivos

insanus



Kongo.gif