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domingo no germânia.
Num domingo de sol transbordante, eu e a trupe do acordeon fomos pro Parque Germânia tomar uma cor e assistir umas manobras de Le Parkour do nosso único amigo elástico. O contraste matou-nos para que depois gargalhássemos: creio que as calças de meus meninos eram as únicas calças que não tinham os fundilhos no joelho e suas cabeças as únicas sem um boné levemente inclinado; minhas meninas eram as únicas sem calça de cotton com pernas de elefante e de duas cores. O que quero dizer é que nessa uma hora e meia de convivência com os extratos sociais da Zona Norte porto alegrense, vimos sim famílias bem-estrutruturadas cujos membros riam um para o outro, mas também garotos de quatorze anos com toda a malandragem do morro dando "voadeira" nos outros.
Na saída, uma centena de pessoas do outro lado da rua fez a ruiva acreditar que a aglomeração era uma inocente parada de ônibus. Nada. Pessoas em estágio avançado de envolvimento corporal, funk, dois SEM CALÇAS e daí pra menos. Tanto foi o temor dessa trupe que, quando um senhor se virou abruptamente portando um algodão doce (barbe à papas), a ruiva saltou em desespero nunca visto.
Essa foi a nossa experiência num Germânia dominical que nem era passe-livre nem nada. O suficiente para depois discutirmos com o superficial conhecimento que a faculdade nos deu: bem, antes de mais nada, tu sabe do que tô falando? O Parque Germânia fica do lado do Iguatemi e foi um "presente" da Goldzstein para a prefeitura de Porto Alegre, para compensar os danos ambientais que eles estão causando com a construção do tal bairro planejado, o Jardim Europa, que pretende atingir a classe A. O Parque Germânia é gradeado, aberto ao público e tem segurança privada (os carros do Jardim Europa ficam passando de tempos em tempos). O Jardim Europa ainda está em construção e em vendas, mas são dezenas de torres cujo centro é o Parque Germânia. Bem, o que quero dizer é que, depois daquele domingo, estou bastante segura pra fazer uma previsão de que a construção desse parque como compensação ao dano ambiental, política de boa vizinhança e agregador ao produto Jardim Europa já vai claramente para os caminhos de
maior tiro no pé da história. O futuro já é claro: menos famílias, mais gurizada medonha e com isso a inevitável desvalorização do Jardim Europa. O tipo da coisa que era tão óbvia de acontecer que me assusta não ter sido cogitada antes pelos marketeiros. Já tentei pensar em que tipo de saída poderia a Goldzstein criar pra uma situação dessas, mas me parece, uma vez que o parque pertence agora à prefeitura, que é caos e não tem jeito. Eu é claro que estou me rindo toda aqui.
postado por Carol Bensimon as 15:18 | pitacos (15)
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como construir um clímax.
Eu não vi, mas contaram, que o professor Charles Watson disse certa vez (em livre adaptação minha): se você, criador, está preso na mesmice de sua idéia, coloque no meio da obra uma galinha. A galinha obviamente simbolizando o inusitado e, a partir disso, uma nova linha de raciocínio.
O mesmo parece fazer sentido na vida. Se você está preso na mesmice de sua vida, insira já a galinha. Um acordeon na beira de um lago, por exemplo, nas condições ideais de temperatura e pressão (a saber: ruiva transtornada, garoto com pinta de saltimbanco e outros personagens igualmente ricos em bizarrices), é quase a ficção de tocar violino de longo no meio do trigo, como já dizia esse post
aqui.
postado por Carol Bensimon as 20:53 | pitacos (3)
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fifties.
To be loved, do Brian Setzer, é a música favorita da semana por aqui. Provavelmente estou quase sozinha nessa, mas morro um pouquinho de cada vez com cada coisa que soa
fifties. O Brian Setzer, praqueles que não sabem, é o ex-vocalista do Stray Cats, coisa que me foi apresentada ano passado por um companheiro RETRÔ. Brian Setzer aqui é adorado pra caralho: fez rockabilly, doo wop e também posou de big band (The Brian Setzer Orchestra). Até dueto com a Gwen Stefani fez ("You're the Boss". Claramente enxergo os gângster e a loira fatal já nos primeiros acordes. Genial). To be loved é um doo wop nos moldes clássicos, coisa fina. Dá até vontade de fazer uma festa só pra curtir esse tipo de som se balançando do lado da mesa do ponche e esperando os garotos se aproximarem com os cabelos engomados.
postado por Carol Bensimon as 18:28 | pitacos (2)
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lei que proponho.
Ontem num desses documentários que me ajudam a dormir, o narrador disse que a Espanha é o segundo país mais montanhoso da Europa. Com base nessas coisas inconvenientes que despertam meu lado mais obsessivo, proponho uma lei deste tipo: toda a vez que algum documentário disser que tal coisa é a segunda maior do mundo ou que tal pessoa foi o segundo a fazer sei lá o que, é obrigatório, de agora em diante, citar o que ou quem diabos é o primeiro.
postado por Carol Bensimon as 18:50 | pitacos (9)
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zuzu angel.
Fui ver Zuzu Angel. O resultado só não é um lixo completo porque a história tem, em sua origem, todos os elementos para um filme interessante e que produz no espectador um alto grau de empatia com a mãe em questão. Só que obviamente o diretor desperdiçou tudo e não fez um bom filme. Ao final, um pensamento não me saía da cabeça: se tivesse sido feito por um cara foda, poderia ser um dos melhores filmes de todos os tempos.
Eu tenho passado longe das produções nacionais e só fui nesse porque acima disso me interessava a temática. Encontrei o que já desconfiava: aquele ranço insuportável das telenovelas. Nada diz que estamos no cinema. A linguagem indica que é sobretudo uma minissérie: pelo ritmo, pelos planos fechadíssimos, pelo maniqueísmo dos personagens e suas falas desgraçadamente artificiais (por que diabos ficar dizendo ESTÁ ou PARA O?). Durante todo o filme, deu pra derramar uma única lagriminha: na cena final, que alguma poesia teve, mas olhe lá. E veja que a história tem potencial soluçante, ora. Que bela coisa mal aproveitada.
Ah. E, se o mais emocionante do filme são os créditos (Chico Buarque cantando Angélica), é sinal de que algo deu muito errado.
postado por Carol Bensimon as 10:31 | pitacos (2)
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seleção do mestrado.
Estou precisando com urgência de três livros que estão esgotados na editora. Se alguém tiver algum deles e quiser fazer a caridade de emprestá-lo para uma copiazinha rápida, agradeço do fundo d'alma. São eles:
GARDNER, John. A arte da ficção. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.
PIGLIA, Ricardo. O laboratório do escritor. São Paulo: Iluminuras, 1994.
EIKEHENBAUM, B. et al. Teoria da literatura: formalistas russos. Porto Alegre: Globo, 1971.
postado por Carol Bensimon as 14:58 | pitacos (12)
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oh, mão na testa.
Hohoho, que tristeza ler o Vermelho e o Negro e descobrir que meus problemas são sooooo século XIX. Isso que eu pensava que quem tinha estragado toda a espontaneidade era a psicanálise:
"O amor intelectualizado tem mais espírito, sem dúvida, que o amor verdadeiro, mas só conhece instantes de entusiasmo; conhece-se em demasia, julga-se sem parar; longe de extraviar o pensamento, só é construído à força dos pensamentos."
E veja que até os freqüentadores do Bell's e o comportamento artê em geral aparece ali também:
"O ar triste não pode ser de bom tom; o que é preciso é o ar entediado. Se está triste, é que alguma coisa lhe falta, alguma coisa com que não teve êxito. É
mostrar-se inferior. Se, ao contrário, se mostra entediado, é que lhe é inferior aquilo que procurou em vão que o divertisse!"
postado por Carol Bensimon as 15:25 | pitacos (3)
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vous avez l'heure?
Cada vez mais fica evidente que sou uma das poucas pessoas do mundo que (ainda) usa relógio. Não é excentricidade, mas dependência extrema. Sinto arrepios só de pensar que o tempo me escapa e que já não sei mais por onde ando. Quando outros chegam pra se vangloriar da sua aparente despreocupação com o saber as horas, sério, fico muito sem entender que diferença brutal pode haver entre nós a ponto de me fazer escrava do relógio, enquanto eles, ao se darem conta do adiantado da hora, no máximo vão ensaiar uma interjeiçãozinha sem muito entusiasmo dizendo: nossa, já.
Tive muitos relógios, pelo menos uns dez. Uma vez até do clube da Swatch eu fui, e ganhei por isso um modelo especial só para sócios. Cheguei a trocar de relógio todo o dia baseado em tons de roupa, mas agora uso sempre o mesmo. Quem chegou suficientemente perto de mim sabe que meu tic-tac está SEMPRE ali, até nas horas mais incômodas (isso mesmo). Um pouco tipo o crocodilo do Peter Pan.
Em casa mesmo eu já uso o meu relógio, coloco junto com a roupa, embora cada peça aqui do apartamento me informe a hora por algum aparelho eletrônico ou objeto decorativo. E por aí todos tem os pulsos nus, seguros de que o mostrador do celular dá conta. Dizem alguns que esse foi mesmo o fim do relógio de pulso, o celular. Mas que trabalho ficar tirando da bolsa toda a hora, como podem? Além do mais, no pulso, o tempo parece me pertencer um pouco mais.
postado por Carol Bensimon as 13:28 | pitacos (9)
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stendhal.
É uma pena que as moças não se ruborizem mais como se ruborizavam nos romances do século XIX.
postado por Carol Bensimon as 13:20 | pitacos (7)
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guilherme giordano is the winner.
Correio do Povo de domingo pergunta aos candidatos ao governo do Estado algumas coisas inúteis, pero que talvez digam algo afinal de contas: praia preferida, cartão postal do RS, ditado gaúcho que mais gosta, três últimos livros que leu e etc. Diversão à beça, bolds meus:
Qual sua praia preferida?
Germano Rigotto: Torres
Olívio Dutra: Rainha do Mar
Yeda Crusius: Capão da Canoa
Alceu Collares: Torres
Francisco Turra: Rainha do Mar
Beto Grill: São Lourenço do Sul
Roberto Robaina: Rainha do Mar
Edison Pereira: Torres
Guilherme Giordano: Matadeiro, SC
Pedro Couto: Imbé
Ahn, embora a pergunta não delimitasse qualquer limite territorial, eu acho que fica POUQUINHO chato citar uma praia de Santa Catarina. Sigamos.
Qual o ditado gaúcho que mais gosta?
Rigotto: "Não podemos nos entregar para os homens."
Olívio: "Quem corre por gosto, não sente canseira."
Yeda:
"Não tá morto quem peleia."
Collares: "Mais faceiro que guri de bombacha nova".
Turra:
"Não tá morto quem peleia."
Grill:
"Não tá morto quem peleia."
Edison:
"Não tá morto quem peleia."
Robaina: "Buenas, que me espalho. Nos pequenos dou de prancha, nos grandes dou de talho."
Giordano: "O que menos corre pega avestruz de tamanco".
Couto:
"Não tá morto quem peleia."
Bem, só essa ânsia incontrolável de falar-se em bravura já segurou minha risada por um bom tempo, mas o diabo do jornal ainda vem dizer que com os anos esse ditado ficou PELA METADE. A princípio era: "Não tá morto quem peleia, dizia uma ovelha no meio de dez cachorros". O que, convenhamos, deixou tudo muito mais ridículo.
E alguém entendeu o papo do avestruz? Eu achei meio gay demais.
Bem, quanto aos três últimos livros que leu, estou sem paciência de digitar. Vale apenas dizer en passant que alguns candidatos só conseguiram citar dois. Fim do mundo. E que Rigotto leu O código da Vinci. E Giordano:
"No corredor da Morte", de Mumia Abu-Jamal; "Programa de Transição", de Leon Trotski; "O Manifesto do Partido Comunista", de Karl Marx e Friedrich Engels.
Apenas ME PARECE que tudo o que Trotski, Marx e Engels escreveram já deveria ter sido lido e COMPLETAMENTE ASSIMILADO por um carinha do PCO.
postado por Carol Bensimon as 19:51 | pitacos (6)
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