essa é fácil.
Minha música favorita há uns sete anos é Estranged, do Guns & Roses. Toca e rapidamente sou levada a sobrevoar o passado ou fazer traminhas para o futuro. Nunca cansa, e toda a vez ou conforta, ou alegra, ou fortalece o que já tá feliz. Estranged lembra rua de paralelepípedo da Assunção e tudo que mostrei pra gente que tanto gosto (ou gostei): a igrejinha que guarda umas boas camadas de passado, a Vila Conceição em loucas noites maconhísticas vendo macumba se instalar, e cada uma daquelas praças que no fundo são a mesma, e o fato de tocar Estranged enquanto eu mudava - e mudava o(a) do banco ao lado - fez dela resposta pra tudo e pra toda hora, e que bom que dura nove minutos e cinquenta e dois.
postado por Carol Bensimon as 19:06 | pitacos (2019)
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delícia.
A Hershey's do Brasil lançou quatro barras de dark chocolat, com 60% de cacau, nos sabores menta, laranja, capuccino e tradicional. Imediatamente pulei na gôndola ao perceber a palavra "dark" numa barra de chocolate. Comprei o de menta e é sensacional. Para quem gosta de chocolate amargo (acho péssima essa "tradução") é uma boa pedida, já que aquele da Nestlé não vale nada. Aliás, acho que, além de boa, é quase a ÚNICA pedida do mercado brasileiro. Alguém sabe de mais algum que exista e que vale a tentativa?
postado por Carol Bensimon as 14:08 | pitacos (17)
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berlim.
Para saciar a curiosidade daqueles que me perguntam de Berlim, e pedindo desculpas antecipadas pela rima, Berlim não é para mim. Dormimos pela Alsácia e acordamos quase em Berlim. A experiência do trem noturno fora excepcionalmente divertida. Chegamos em Berlim e seguimos as instruções do site do albergue. Um bom albergue exalando coolzice. Algo bem Berlim. Rock tocando alto na recepção a partir das sete da manhã. Depois de um tempo, essas coisas tão mudeeerrnas começam a irritar, e eu ficava torcendo por uma toalha floreada no café da manhã, uma faxineira assobiando Frank Sinatra, mas nem. O tempo estava cinza e chuvoso, não mais cinza do que Paris em alguns dias - o problema lá é que não há nada que COMPENSE o cinza, do tipo uma simpática boulangerie ou uma fila interminável de prédios art nouveau. Em silêncio pensando no quanto sou old fashioned - porque não há nada pior do que ser uma companheira de viagem reclamona - fomos em direção à Alexanderplatz. Nada melhorou. Há supostamente uma fonte lá que merecia uma visita. Não merecia coisa nenhuma. E havia muitos buracos, guindastes, barulhos. Entramos numa loja de departamento e compramos coisas mudeeerrnas. Saímos e continuamos turistas, passamos por grandes avenidas, ou pedaços do antigo muro, ou prédios novos de vidro, ou prédios que choravam e cartazes de festas com música eletrônica e grafites e muito pouca gente, impressionantes pouquíssimas gentes mesmo onde se espera encontrar grande quantidade, como numa estação importante de metrô. Então há esse grande número de restaurantes e bares que parecem não receber ninguém. Estranha impressão, e caminhávamos por uma rua que me foge o nome, supostamente Champs-Elysées de Berlim, e eu pensava Onde é que se meteram todos?, e que talvez fosse ainda um tipo de hábito criado pela guerra ou sei lá. Nesse dia visitamos o Topografia do Terror, uma espécie de museu a céu aberto onde antes a SS estava concentrada. Saí de lá pesada e quieta.
Cadê o centro dessa cidade? Obviamente não há. Nos divertimos em seguida tentando compreender os anos de muro. Fomos ao Checkpoint Charlie, um dos pontos de passagem de um lado para o outro da cidade, e que é agora um museu desorganizado, mas interessantíssimo, sobre histórias de fuga para berlim ocidental e coisas do gênero. Ficamos lá um bocado de tempo e sem querer roubamos dois mapas, que achávamos ser gratuitos. Decobrimos horas depois as etiquetas com os preços e ficamos mais leves e criminosas.
Enfim, fizemos mais do que isso, mas não convém ficar relatando detalhe por detalhe. Ainda quando estava lá, li um amigo comentando aqui mesmo no blog: conhecer Berlim é um mal necessário. A frase se encaixou um pouco com o que eu estava sentindo, e virou meio que o mote daqueles dias. Dois dias atrás, no telefone, um outro amigo que esteve recentemente lá me perguntou E aí, que achou? Disse que não gostei. É, ele disse, é uma cidade sem alma. Um clichê absolutamente verdadeiro (ele também é judeu, o que talvez explique parcialmente as nossas opiniões).
Há duas razões bem claras para eu não ter gostado de Berlim. Em primeiro lugar, não conseguia me desligar dos pensamentos a respeito da Segunda Guerra. Confesso que, toda a vez que via uma pessoa idosa, pensava, ahá, você estava lá. O fato de não haver quase imigrantes na cidade aumentava consideravelmente o meu desconforto. Em segundo lugar, Berlim é uma cidade para um tipo de gente o qual não me incluo. Eu sou o tipo de sentar no parque com um livro, com gosto por um pouco de provinciano e sobretudo pelo antigo. Por isso Praga me caiu tão bem, e claro que Paris. Old fashioned, é o que disse lá no começo. Berlim é pra quem está absolutamente integrado na contemporaneidade.
Memorial aos judeus mortos no Holocausto.
postado por Carol Bensimon as 17:19 | pitacos (8)
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turistas.
Tempos atrás, escrevi um post chamado "hiperdocumentação". Lembro que o termo pegou por alguns meses no meu grupo de amigos. "Hiperdocumentação" referia-se à ânsia incontrolável de tudo documentar em imagens - coisa que tornou-se possível com as câmeras digitais. Creio que eu questionava que consequência isso traria nas nossas memórias e recordações (sim, eu sei que eu poderia procurar o post agora, mas há casos em que prefiro a dúvida às consultas).
Volto a falar disso porque cheguei de viagem ontem com uns temas de post anotados no caderninho. Um deles era "turistas", e me parece hoje impossível falar em turistas sem passar obrigatoriamente para a relação deles com suas máquinas digitais. A coisa há muito já ultrapassou o clichê "turistas japoneses". Todo mundo enlouquece com as suas câmeras. As câmeras digitais são os olhos do turista, e não há nenhum momento de contemplação sem o intermédio do aparelho: a cena passa direto para ser memória, nunca é presente. Ninguém OLHA a Notre-Dame, apenas tiram fotos. E o que fazer quando não se pode tirar, como na Capela Sistina? Burla-se. Mas porque ter uma foto tremida da Capela Sistina, se tenho a memória do que vi, e, caso eu queria ver a imagem, vou num guia de viagem ou na Internet e revejo? É uma obsessão. Me parece que devemos voltar a uma questão aqui, que é Qual a função de uma fotografia? Para o turista-médio,a fotografia, mais do que uma lembrança para si, é dizer aos outros "eu estive aqui". Sem o registro, é como se o momento não houvesse existido. E o que deve ser fotografado pelo turista-médio, já sabe-se antes mesmo que a viagem comece.
Cada cidade traz as suas obrigações, e é preciso muito culhão para desviar-se delas. Eu, por exemplo, fugi do Louvre e do Champs-Elysées no ano passado, mas dessa vez, sucumbi. A Monalisa é o maior exemplo dessa bóias que o turista-médio precisa alcançar. Eu sabia o quão decepcionante seria. Lembro da tela ser menor do que o imaginado e etc, enfim, lembro de ter quatorze anos e ter sofrido a grande decepção que todos sofrem, porque a realidade nunca poderia mesmo ser maior do que o mito. E de novo fui, mas eu tinha um plano, que era filmar e fotografar os turistas contemplando a Monalisa. Quero dizer, os turistas SEM OLHAR para a Monalisa, apenas tirando fotos compulsivamente, e assim em todos os hits do Louvre. Enquanto há uma sala vazia cheia de esculturas gregas, a Vênus de Milo está sendo devorada pela multidão fazendo pose ao lado da mulher sem braço. O que ela tem que as outras não tem? Impossível determinar, sendo uma amadora. Acontece por acaso e ponto. Mas aí volto à Monalisa, e sinto, além de uma tristeza profunda, um embaraço por toda a humanidade.
Turistas diante da Monalisa. Exceto a menina deficiente física, quem está interessado em olhar sem a câmera?
postado por Carol Bensimon as 17:06 | pitacos (11)
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