Samjaquimsatva






Carta aberta para ninguém

Troquei a roupa de cama e coloquei o lençol branco que cheira Confort. Aquele calor todo foi embora e já é possível ficar plenamente feliz. Estava lendo debaixo das cobertas o medo e o delírio do thompson. Comecei ele esses dias e estou na metade, leitura rápida como um tiro. Apesar das drogas, a linguagem não é drogada, é precisa, sem exageros. Ele tem o controle completo do que está escrevendo em cada linha. Não esperava que fosse assim. Por isso mesmo gostando bastante. É o melhor livro dele, meus amigos disseram.

Às vezes paro no final de um parágrafo e penso no impulso de escrever. É gozado. Quando tenho vontade de escrever é só pra relembrar de alguma coisa. Daí quem sabe poder compartilhar alguma coisa a mais com alguma pessoa. Parece que às vezes acontece e sempre é legal saber disso. Mesmo sendo algo pessoal e sem nenhum grande objetivo, quando tenho o impulso de escrever, espero um tempo e ele logo some. Logo ele parece irrelevante e perda de tempo. Na verdade está começando a parecer um pouco agora.

Mas enquanto lia o medo e delírio, terminando um capítulo, levantei da cama com uma lembrança viva na cabeça. Sem querer, sem eu forçar, me veio quando esperávamos a hora de você embarcar e ir embora. Como nos divertímos alí. A criança e o goiano, hahah. Que engraçado foi. Me agradou também o fato de fingirmos que nada de ruim estava pra acontecer. E na despedida, um simples tchau, liga quando chegar, como se você fosse só pegar um ônibus e voltar pra casa.

Quando você foi, virei as costas e atravesse o aeroporto andando um pouco devagar. É meio contraditório, mas era boa a sensação de estar faltando alguma coisa alí comigo. Como a gente se acostuma rapidamente as novas situações tão rápido. Cheguei em casa e foi a mesma coisa enquanto guardava toda louça que você lavou enquanto eu dormia depois do almoço. Era ruim e bom ao mesmo tempo. Minha casa é pequena e parecia grande.

Alguns minutos já passaram desde que sentei com vontade de escrever e já estou achando irrelevante tem vindo gastar tempo aqui. Às vezes escrever é como sair para uma exploração. Onde no meio da coisa você vai fazendo novas descobertas. Este não parece ter sido o caso. Mas tudo bem. Vou desligar o som, voltar pras cobertas e continuar com a leitura.