Deixa eu te contar uma coisa. Sonhei que estava fazendo amor com você. Ao contrário de você, sabe como é difícil essas coisas acontecerem comigo. A gente tava na cozinha. Foi totalmente imprevisto. Você estava começando a fazer o almoço, vestida com aquela sua saia que eu gosto, e eu estava sentado batendo as unhas na mesa, só de short. A gente conversava amenidades, então você despejou o macarrão na água fervendo e veio me dar um beijo. Era pra ser um beijinho só, rapidinho, só que durou um pouco mais de tempo. Eu te segurei, na verdade, e você ficou. Então durou um bom tempo. E foi indo até... uau, nem vou me por a detalhar. Seria meio que crueldade comigo mesmo.
Fazia tempo que eu não tinha um sonho tão real. Enquanto olhava pra você em cima de mim na cadeira, conseguia sentir o cheiro da água esbranquiçada borbulhando com o macarrão dentro. A carne moída borbulhando, fazendo ploc-ploc-ploc junto com o molho vermelho. Quando eu olhava pro lado dava pra ver a fumaça da panela saindo. Ploc-ploc-ploc o molho borbulhava cada vez mais rápido e a água do macarrão começava a respingar pra fora da panela. Foi quando vi que os dois fogos estavam no máximo e quando voltei pra olhar o seu rosto você falou Meu amor, a comida vai queimar. Não, não vai – eu disse. Mesmo sabendo que iria. Não era problema nenhum que nosso molho à bolonhesa ploc-ploc-ploc começasse a secar e a queimar. Não vai, eu repetia. Vai sim – você disse meio que sorrindo. Segurei firme no seu pulso e disse – não, não vai – meio rindo. Você me deu um beijo, saiu, se arrumou rapidinho e foi tirar a panela do molho do fogo.
Fiquei imóvel, ali, com o short na canela, te vendo de costas mexendo e colocando mais água no molho. Gostei tanto da cena que minha frustração de ter parado no meio quase desapareceu por completo. Não falei nada. Estava entretido demais em observar minha respiração voltando ao normal. Então você virou e começou a rir de mim. Subi o short na seqüência e fui pegar um gole da cerveja que esquentava na pia. Te abracei de leve por trás e topei meu nariz na sua nuca – saí logo porque vi que estava atrapalhando. Vou ao banheiro, falei e me arrependi achando que era uma informação inútil a ser dada. Quando voltei você não estava na cozinha. Fui na sala e as panelas estavam na mesa, com os pratos e talheres colocados. Tinha sido muito rápido. A mesa estava com a toalha colocada, guardanapos, copos com gelo, toda arrumada. E você sorria pra mim sentadinha. Fiquei em pé parado tentando entender. Que foi? - você disse. E acordei.