Samjaquimsatva






Saber não é poder

"Saber, segundo essa mentalidade, é acumular micro-informações específicas e, copiando em geral algum pensador estrangeiro da moda, embrulhá-las e enrolá-las como se fossem papiros sagrados, para num futuro distante quem sabe entregar aos leigos como frases prontas. A intelectualidade brasileira não assimilou até hoje o espírito do ensaísmo, do ensaísmo nascido com Montaigne e Francis Bacon, não à toa contemporâneos da transformação urbana das sociedades e da explosão dos dogmas religiosos pelas descobertas científicas. Os acadêmicos pátrios não prezam pela linguagem experimentada, em tom de conversa, que duvida das verdades estabelecidas e preza a transparência como recurso para contestar o senso comum. Vêem seu acesso a idéias importadas e termos empolados, em suma, como instrumento de poder. Por meio de seu código restrito, controlam as relações sociais ao seu redor. Se não podem comandar o mundo, ao menos determinam as regras no departamento da sua universidade, como quais livros o orientando deve fazer constar da bibliografia – ou seja, por quais deuses deve rezar.

Tome como exemplo dois dos intelectuais brasileiros mais respeitados: o tucano José Arthur Giannotti e a petista Marilena Chauí, ambos da Universidade de São Paulo. Tente ler seus livros sobre Marx, Heidegger, Spinoza, Lyotard. Veja-os falando no Roda Viva da TV Cultura. A maioria não entende nada! E os poucos que entendem, entre bocejos, não encontram rigorosamente nada de novo."

Belo texto do Daniel Piza.