Samjaquimsatva






Política é entretenimento

Uma jornalista, um taxista chamado Paraíba e um carregador de malas comentaram comigo de livre e espontânea vontade sobre as últimas pesquisas realizadas pelo IBOPE sobre a aprovação do presidente Lula, que permanece inabalável. A jornalista tudo bem, mas estranhei o comentário surgindo do nada do taxista e do carregador de malas. Ambos estavam indignados com os resultados, dizendo que a pesquisa fora comprada. O taxista fez uma relação das dívidas da Globo com supostos benefícios por parte do governo. O carregador de mala não acreditava como era possível o grau de aprovação continuar muito alto.

Não creio que a pesquisa foi comprada. Lula conseguiu se blindar dos fatos, mesmo sendo impossível ele não saber de tudo. A oposição também ajudou um pouco nessa blindagem. O governo fez laços fortes. Lula não é um Collor, acuado e sozinho dentro do congresso. Também parece que os brasileiros não querem deixar de acreditar no Lula, na sua imagem bem construída de uma esperança. Em quem essas pessoas iriam acreditar depois dessa? Acredito que sua popularidade ainda está em alta.

Mesmo assim tenho a sensação de que Lula não irá se reeleger. Mesmo ele estando muito acima de todos os outros possíveis candidatos, segundo as pesquisas. Até ser eleito, os petistas sempre votavam no PT. E o Lula nunca ganhava. Quando ganhou, teve os votos desses mesmos petistas de nascença. Minha teoria então é que a classe média que elegeu Lula.

Creio que depois desses escândalos que não têm fim, a situação ficou um bocado diferente. Vejo vários petistas totalmente descrentes, não vão votar em ninguém nas próximas eleições. Não têm coragem de votar mais no Lula, e muito menos em algum tucano. A militância está envergonhada, escondida, não sai de casa, choram, que nem corinthianos após uma derrota. Então muitas pessoas que votaram a vida toda no PT não irão votar mais. Já a classe média não está sofrendo muito com a crise. A economia continua estável, mesmo estando estagnada há um tempo. O que considero um avanço para o país, tendo uma economia se aguentando em meio a uma crise. Mas a classe média tem noção do que representou essa crise, do que ela implica. Só que agora ela está descrente. O que foi prometido antes da posse não aconteceu. Os juros continuaram altos. Nada mudou.

Por isso eu acho que o Lula não irá conseguir se reeleger. Se conseguir, será por falta de opção. Acho burrice o PSDB tentar lançar Serra como candidato. Muita falta de carisma para um presidente. FHC não dá mais. Alckimin surge como uma possibilidade. Mas a pesquisa do IBOPE mostra ele empatado com o, pasmem, Garotinho. É complicado imaginar o futuro do país. Mas como adolescente, fico pensando até quanto isso afeta nossas vidas. Quando entrevistei uma famosa vendedora de cachorro quente de Campinas, que banca o estudo de duas filhas na PUC, ela me disse que desde criança ela ouviu falar em crise. Ouvia pessoas reclamando do governo. E que isso não faz diferença alguma pra ela. Ela resolveu esquecer disso e trabalhar com empenho. Conseguiu vencer, ela reconhece.

Por isso às vezes parece que discutir política é que nem discutir futebol. E que acompanhar a crise é que nem acompanhar uma novela. E que na verdade ninguém fica realmente muito preocupado com isso tudo.