Liguei a televisão e caiu em um canal mexiano de videoclips. Começava a passar um clip da Britney Spears. Câmera lenta. Ela e o namorado dentro de uma limosine. Cada um em seu canto. Ela no celular. Ele olhando na janela. Do lado de fora, uma multidão de paparazzos se acotovelam. A câmera continua lenta. A música também é lenta, baixinha, minimalismo artificial. Ela sai do carro, os seguranças não conseguem segurar os paparazzos. Eles avançam pra cima dela. Tiram fotos com caras e bocas de maus. Tudo em câmera lenta. Um fotógrafo bate a câmera no boné vermelho que ela usa. Ela um vestido de seda muito curto e salto alto. O namorado dela briga com os paparazzos. Ela entra pelos fundos de algum galpão grande. Ele vai atrás. Ela está indignada e triste em câmera lenta. Seu namorado fica do lado dela. Ela briga com ele por causa de sua atitude com os paparazzos. Eles entram em um quarto. Ela ainda está braba. A música é baixa, não muda. Ele tenta fazer as pazes. Não consegue. Tenta de novo. Força um abraço reconciliador, mas ela o empurra pra longe. Ele pega o vaso de flor mais próximo que decoro o quarto e taca num espelho enorme. Gesticula indignado e vai embora. Chega em casa, senta em frente a televisão. Ela sente em frente o espelho, com uma quantidade de maquiagem absurda na cômoda. Ela pega um pote e taca no vidro. O vidro quebra. Ele chuta a mesa de vidro que fica entre o sofá e a televisão. Vidros estilhaçados por toda casa em câmera lenta. Ela quebra mais coisas. Ele quebra mais coisas. A música é romântica, artificialmente triste. Ela tira o vestido, penumbra. Ele tira a camiseta em câmera lenta no sofá. Nua, mas sem aparecer nada, ela entra na banheira de hidromassagem, cansada. Ele fica no sofá, cheio de raiva. Mudo de canal. Vou subindo e caio de novo no canal mexicano de videoclips. Está no fim do clip ainda, mostrando o rosto da Britney molhado em um fundo branco. Espero o novo clip. Entra a Avril Lavigne. Ela está em seu quarto. De calcinha grande e camiseta. Apesar de linda, está nem um pouco sexy. Com uma maquiagem toda cinza e preta. Entra a música, ela levanta da cama e começa a quebrar o que encontra pela frente, jogando tudo na parede, com muita raiva. Ela olha pra câmera exibe sua raiva. Ela canta, mostra sua raiva e quebra objetos de seu quarto. Quase largo um cagalhão nas calças por entrar em contato com essas duas avanlanches de merda ultra super produzidas. Tento mas não consigo imaginar nada mais abominante em toda cultura pop. Penso na legião de meninas que vão fazer o mesmo. Penso no hype dos anti-depressivos. Na constante propaganda que essas pessoas fazem de sua depressão. Fico com muito pavor e em dúvida se tudo isso é falta de cinta ou de amor.