Fui ver a Orquestra Filarmônica de Israel ao ar livre na praça Arauto da Paz aqui em Campinas. Foi o único concerto gratuito da filarmônica em sua turnê pela América do Sul. Nunca tinha visto. O negócio é grandioso. Muitas texturas, sobreposições de violinos tocados em ritmos diferentes e os sempre crescendos de volume. Mesmo nos momentos de quase absoluto silêncio, dava pra ouvir os vários detalhes tocados baixinhos. Devem ter um regente só pra poder microfonar tão bem aquilo tudo, ainda mais ao ar livre.
Fiquei com vontade de rever o espetáculo num teatro fechado, de médio porte, sem precisar microfonar os instrumentos e ouvindo tudo muito mais alto e limpo. Quando entram os metais, depois que todo mundo já está tocando o terror, a grandiosidade beira uma apoteose apocalíptica. Em alguns momentos, imaginei uma tropa de cavalaria chegando, com generais e suas espadas empunhadas esquartejando a multidão, que corria aflita, enquanto a orquestra continuando a tocar de maneira impecável, sem se alterar. Mil imagens possíveis de invadir a cabeça. É hipnotizante ficar observando os movimentos do regente e diretor musical vitalício do grupo, Zubin Mehta.
Mas de tudo, o que mais me chamou a atenção mesmo, foi o silêncio em que a multidão permanecia durante as peças. Duravam uma média de 20 minutos cada. A maioria era gente muito simples. Na minha frente tinha uma turma com camiseta dos Racionais. Ficaram lá quietos durante as duas horas de apresentação. O que me fez lembrar daquele discurso de que o povo não é burro. De que quando tem opção, ele sabe escolher e apreciar, do seu jeito, algo de qualidade. O Zubin Mehta se deliciava com a quantidade de palmas. Parecia um papa, todo pomposo, acenando para o povo que de maneira muito respeitosa não parava de aplaudir.