"O crítico Ricardo Moreno me ligou antes de escrever, me perguntando o que eu usava na trilha sonora, já que ele desconhecia. Eu respondi que usava Morphine, The Gathering Field, etc. Aliás nem Tom Waits ele havia conseguido identificar. Aí ele escreveu a crítica (falou muito bem da peça, por sinal), mas ao final soltou a seguinte : "A obvia porém envolvente trilha sonora também exerce papel de peso no drama". Obvia? Mas se ele nem sabia do que se tratava. E como é que eles não querem que eu me divirta?"
Mestre Marião comenta sua relação com as críticas que recebe de suas peças. Sem rancor, ele mostra a tosquice que é a crítica de teatro no Brasil. É um problema que parece ser de personalidade. Não há nada mais ridículo do que fingir entender de um assunto. Como querer parecer inteligente sendo apenas um tagarela com referências, ou saber agrupar palavras de efeito. É a tosquice suprema. Particularmente, percebo que sou mais respeitado (pelas pessoas que mais admiro e que nunca imaginava ser relativamente próximo) pela quantidade de vezes que digo "não sei" do que por aquilo que relativamente sei. É uma experiência muito particular minha, que às vezes, como agora lendo o Marião, parece fazer algum sentido.