Samjaquimsatva | |
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Amigo vegetariano Ousada a nova campanha da MasterCard em parceria com alguma das principais churrascarias de São Paulo. Comendo segunda e quinta nesses restaurantes e pagando com o cartão, você ganha 50% de desconto. A peça publicitária é a foto de um prato de carneiro quase do tamanho de uma página inteira de jornal e em cima escrito: Carré de Cordeiro: R$ 36,00 Não ter nenhum amigo vegetariano: não tem preço O punctum da biografia de Barthes "O que caracteriza as sociedades ditas avançadas é que hoje essas sociedades consomem imagens e não crenças, como as do passado; são portando, mais liberais, menos fanáticas, mas também mais “falsas” (menos “autênticas”) – coisa que traduzimos, na consciência corrente, pela confissão de uma impressão de um tédio nauseabundo, como se a imagem, universalizando-se, produzisse um mundo sem diferenças (indiferente), donde só pode surgir, aqui e ali, o grito dos anarquismos, marginalismos e individualismos: eliminemos as imagens, salvemos o Desejo imediato (sem mediação)." Apesar de lançado há mais de 20 anos, o clássico “A Câmera Clara” de Roland Barthes ainda tem muito o que dizer sobre os dias de hoje. É um bom livro. É o lado digestível da semiótica, apesar de francês. Já tinha lido, mas tive que reler uma outra edição de um professor meu. E nessa edição, posso dizer que o punctum do livro é uma observação sobre a vida do autor na contra-capa. É quase impossível não achar muito engraçado, depois de permanecer ainda com a mente concentrada por causa do término da leitura de todas aquelas incríveis observações dos infinitos detalhes visíveis e invisíveis da fotografia, que, o autor, morreu, vítima, de um, atropelamento. Saci Pererê vs. X-Men Está em tramitação na Câmara um projeto de autoria do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) instituindo, no dia 31 de outubro, o Dia do Saci. Questionado sobre o projeto, o atual candidato do governo à presidência da Câmera, explicou: “O Saci é reconhecido como uma força da resistência cultural à invasão dos X-Men, dos Pokémons, os Railons e os jogos de guerra”. Esse merece substituir o Severino. Deu na coluna da Dora Kramer de hoje no Estadão. Ô Cride, wháááálá Durante o tempo em que o Roland Golias estava internado, ele comprava Telesena todo dia e distribuia pros pacientes do hospital. Fazia isso pra ajudar o Sílvio Santos. Só a RedeTV que está cobrindo seu enterro na Assembléia Legislativa de São Paulo. Triste ver ele no caixão, principalmente sem o bonezinho. Estranho também ver todos os humoristas tristes. Devia ser lei entre os comediantes de seus enterros nunca fossem tristes, que sempre tivesse um show com piadas e histórias engraçadas do morto que façam todo mundo rir. Que nem no velório do Graham Chapman do Monty Phyton. A única imagem engraçada que vi do velório foi uma foto do Pedro de Lara rezando, na galeria do Estadão. Outro mestre. Agora fecharam o caixão e todos estão saindo da Assembléia em direção ao Cemitério do Morumbi. Em sentido contrário, entra apressado na Assembléia o Sérgio Malandro, supostamente atrasado, olhando pra todos os lados, procurando o caixão. Bela homenagem ao grande Golias. Como disse o Marião, era um dos poucos comediantes que nos faziam parar para vê-lo. Plínio ainda crê em revolução Estadão: O sr. não vê nenhuma perspectiva de mudança no PT ? Plinio de Arruda Sampaio: Por dentro não. Já mudou a natureza da discussão. Quando a natureza é uma discussão política sobre o socialismo é uma coisa; agora, discutir com pessoas que têm outro objetivo, que não o socialismo, mas simplesmente o exercício do poder, não dá. Não dá pra saber quem é mais lunático dentro do PT. Bons tempos aqueles Eu e a Consuelo (minha esposa) depois de vermos o concerto da Orquestra da Universidade Católica do Valparaiso, no Chile, em 2002. Hes good at aw Nova Patricinha Título da matéria do Caderno2 do Estadão sobre o show da Avril Lavigne em São Paulo: "Talentosa, Avril comanda coro de milhares de Lurdinhas no Pacaembu" Não conhecia esse ótimo termo pras meninas que usam roupa de skate e muita maquiagem preta nos olhos. Lurdinha. Hahah. Beep "I tell him I have heard he has six different voices on his synthesizer and that one is a woman's. Hawking lowers his eyes and starts responding. After five minutes of silence the nurse sitting beside me closes her eyes and appears to go to sleep. I look around. On the windowsill are framed photos stretching back through Hawking's life. There are photos of one of his daughters with her baby. I notice Hawking's hands are thin and tapering. He is wearing black suede Kickers. Another five minutes pass. There are pictures of Marilyn Monroe on the wall, one of which has been digitally manipulated to feature Hawking in the foreground. I see a card printed with the slogan: "Yes, I am the centre of the universe." I write it down and turn the page in my notebook. It makes a tearing sound and the nurse's eyes snap open. She goes over to Hawking and, putting her hand on his head, says, "Now then, Stephen," and gently wipes saliva from the side of his mouth. Another five minutes pass. Then another. Hawking's assistant, who sits behind him to see what is going on on his screen, nods slightly. Here it comes: "That was true of one speech synthesizer I had. But the one I use normally has only one voice. It is 20 years old, but I stick to it because I haven't found better and because I'm known by it worldwide." That's it? The fruit of 20 minutes' effort? This man is a Hercules." Guardian Books conseguiu entrevistar o Stephen Hawkings sobre seu novo livro, mesmo ele só conseguindo mexer sua bochecha direita. Nunca li um livro dele - Zequinha leu e disse que são ótimos - mas todas suas raras entrevistas são imperdíveis. Como a do New York Times de dezembro do ano passado. Alberto Roberto Cavalheiro Medusa Porn e sociedade: nenhuma relação? Cisco, li o link que me mandou das três mulheres da Slate que criticam os livros que procuram mostrar os efeitos da pornografia na sociedade. Elas oferecem mais perguntas do que respostas, o que parece sensato nessa discussão. Das três, achei mais interessante a opinião da Laura Kipnis. Contra o Photoshop O Ministério da Saúde da Suécia está cansado da artificialidade e da crescente erotização nos meios de comunicação. Lançaram uma campanha publicitária chamada "Girl Power" que ataca as imagens photoshopadas e a repetição dos clichês estéticos pela mídia. No site da campanha, vale a pena ver os comerciais feitos pra tevê, que alguns canais se negaram de passar. O mais engraçado é o que imita um videoclipe de rapper americano. O outro é mais realista e tapa na cara, deixa o telespectador com vergonha. Já a peça da campanha pra internet mostra uma imagem de uma capa de revista antes e depois de passar pelo Photoshop. (via Tiago Dória) Essa campanha me lembrou da palestra de um dos diretores da editora Abril na faculdade, alguns anos atrás. Ele estava falando da Playboy. Já contei isso um tempo atrás mas vale relembrar, porque acho que nunca mais vou ver tanta mulher junta explodindo em palmas de alegria e satisfação depois que o diretor disse em alto e bom som: "Nenhuma das mulheres da Playboy realmente existem". Xocante Liguei a tv agora de manhã e em 5 minutos tirei a conclusão: Xuxa Meneguel é o Michael Jackson brasileiro. Nada na televisão brasileira é capaz de perturbar mais. Nada. O monopólio dos idiotas “Hoje, só há platéia para o idiota. É preciso ser idiota indubitável para se ter emprego, salários, atuação, influência, amantes, carros, jóias etc. etc. (...) E, de fato, eles explodem por toda parte: são professores, sociólogos, poetas, magistrados, cineastas, industriais. O dinheiro, a fé, a ciência, as artes, a tecnologia, a moral, tudo, tudo está nas mãos dos patetas. (...) Hoje, até o gênio se finge imbecil. Nada de ser gênio, santo, herói ou simplesmente homem de bem. Os idiotas não os toleram.” Oráculo Nelson Rodrigues, Os idiotas confessos, in A cabra vadia: novas confissões. Não sabia que ele era bonzinho assim. Escutando o silêncio de todos os objetos "This is my attempt to make sense of the period that followed, weeks and then months that cut loose any fixed idea I had ever had about death, about illness, about probability and luck, about good fortune and bad, about marriage and children and memory, about grief, about the ways in which people do and do not deal with the fact that life ends, about the shallowness of sanity, about life itself." Guardian Books publica um trecho do livro The Year of Magical Thinking de Joan Didion. É um relato de como foi perder seu marido depois de 40 anos juntos, numa época em que sua filha estava internada com uma doença grave, e entrar em contato com um mundo até então desconhecido. Um país de analfabetos O Estadão do dia 8/9 publicou uma pesquisa do Ibope sobre analfabetismo funcional no Brasil que estranhamente não teve nenhuma repercussão. O resultado da pesquisa é que 75% da população brasileira não consegue ler nem escrever satisfatoriamente. Sabem ler e escrever palavras, mas não sabem seu significado, não conseguem entender um texto. Seguindo essa porcentagem, dos 170 milhões de brasileiros, 130 milhões vivem na mais completa e profunda ignorância. A procuradora do Ministério Público de São Paulo, Luiza Nagib, relembra hoje dessa pesquisa na página 2 do Estadão, num dos primeiros comentários que li sobre o tema. Comentários desgastados, já muito repetidos, mas que em uma pesquisa com resultados desse nível precisam ser ditos novamente. Além de listar o prejuízo de se ter uma população com uma educação tão baixa por todo artigo, ela questiona quantos desses supostos 40 milhões de alfabetizados de verdade gostam de ler? Qual seria a porcentagem? Tanto na época da publicação da pesquisa quanto agora no artigo da procuradora, lembrei do post do Nova Corja onde o Walter comenta que a democracia brasileira é a mais representativa do mundo. O que alguns achavam um exagero, uso de um recurso hiperbólico, se mostra que não é tão absurdo assim. Walter abre seu texto dizendo: "Cerca de 5% (estou sendo otimista) da população brasileira consegue ler – e entender -, por exemplo, 10 páginas de algum livro do Machado de Assis." E mostra que políticos como o Severino não são uma anomalia, são exatamente o retrato fiel de nossa sociedade. Aquilo rosa Fakerfakir fez uma excelente cobertura gonzo da festa do lançamento do perfume da Paris Hilton na Daslu. Confiram. Tarja preta para levar a vida O Estadão de ontem trouxe uma matéria sobre a disseminação dos remédios controladores de humor. Angélica Santa Cruz abre seu texto citando os personagens da crise política como reflexo de toda sociedade. Todos eles encararam os depoimentos a base de muito Rivotril, Lexotan, Frontal, Lexapro, entre outros remédios famosos. Depois são dados exemplos de um um corretor de bolsa de valores, uma escritora, um jornalista e um artista – sem esquecer das comunidades criadas por jovens no Orkut. Na sauna — Boa noite. — Boa noite, seu Rubens. Tudo bem com o senhor? — Não tão bem quanto sua juventude, mas estou bem. — Que isso, sua experiência vale muito mais que minha juventude. — Eu trocaria minha experiência pela sua juventude. Jacinto Lamas Tossi uma calabresa ao ver no Jornal Nacional que o suplente do Roberto Jefferson se chama Fernando Folgado. O olho do fotógrafo é o dedo O mito da pós-modernidade Boa análise de Naomi Wolf sobre os efeitos da pornografia como parte da cultura mainstream. O artigo é de outubro de 2003, pra New York Metro. Resumindo, ela diz que a invasão da pornografia está sendo responsável por um enfraquecimento da libido masculina com relação às mulheres de verdade, ou seja, que não aparentam ser atriz pornô. Sua conclusão não é novidade, mas faz sentido: quanto maior a quantidade desses estímulos, menor é a verdadeira capacidade dos homens se conectarem eroticamente com uma mulher. A crítica vai exatamente contra às idéias feministas do anos 80 de que os homens ficariam mais violentos com as mulheres por causa da pornografia. É o contrário, ficam impotentes. As mulheres também seriam vítimas, vendo que é impossível competir com esses ideais pornôs. Mas como sempre, a culpa é do homem. Mas só consigo ver essas supostas vítimas como jovens que ainda não experimentaram muito bem o sexo e apenas consomem esses produtos - e que potencialmente podem virar apenas consumidores de sexo. Talvez daqui um tempo esse efeito da pornografia nas pessoas chegue a se auto-destruir. Pelo simples fato que fotos ou filmes das porn-stars cada vez mais serem algo inofensivo, sem a menor capacidade de causar algum estímulo. Apesar do contato físico, a pornografia se parece cada vez menos com sexo. A indústria pornô na verdade sempre foi muito artificial e tosca. O que ela se tornou hoje é apenas uma deformação dessa sua artificialidade. Muito se diz da falta de sentido na sociedade pós-moderna, sobre as pessoas estarem cada vez mais perdidas, sem perspectivas, sem escolhas e até mesmo sem saberem do que gostam – já que só sabem aceitar aquilo que lhes é oferecido. Por outra perspectiva, a artificialidade ao nosso redor é tamanha que faz com que hoje seja a melhor época para se estar vivo. Os exemplos de frustração são tantos que fica cada vez mais fácil saber o que vale a pena fazermos de nossas vidas, para não passarmos por ela apenas como colecionadores de experiências vazias, e percebendo, mais cedo ou mais tarde, que nunca deixamos de estar marcados pela mais absoluta solidão. Barbada do Mellão Ontem o Träsel deu a barbada do American Heritage na Livraria Cultura. Hoje dou outra. O jornalista João Mellão Neto, meu comentarista predileto da A2 do Estadão, está enviando sem custo algum seu livro "O Pensamento Liberal Moderno". Não que eu goste do assunto, mas o estilo e a clareza de pensamento dele valem a pena. Quem se interessar, me mande um email que eu passo o contato. Ô loco, meu Vocês viram ontem que linda a Fernandinha D'Umbra lendo um texto no Faustão? Que sorriso, que leveza. Me ligaram pra avisar. Quando acabou fiquei torcendo pro Marião entrar bêbado e apavorar, mas apareceu o Gumercindo e larguei mão de acompanhar. Impressões sobre a contemporaneidade Renato: Ontem fui ao cinema. Única pessoa que não estava acompanhada. Tive até a impressão de que olhavam desconfiados pra mim. Nara: Hahah, impressão sua. Provavelmente você era a pessoa menos solitária ali. Insignificâncias sobre a violência Nunca fui assaltado. O máximo que aconteceu comigo foi quase ter um boné roubado, quando tinha 15 anos, mas descobriram que eu era amigo de um integrante da gangue. Já corri de ladrão de tênis, na praia, e só. Mesmo assim, quase toda semana ouço notícias de algum amigo que teve o carro roubado, que teve uma arma apontada na cabeça. Me assusta o fato de cada vez mais isso ser contado e ouvido com tanta naturalidade. Celso Opa, saiu pela Cia das Letras a tradução do livro novo do Philip Roth: Complô Conta a América. Tem que ter. Vou ter que decidir se compro ele ou A Mão Esquerda do Fausto Wolf, que me foi altamente indicado. Outro que estou na espera pela tradução é o Saturday, do Ian McEwan, cujo personagem principal é um neurologista. Não li e já gostei. Bing Bing Bang Belo filme de boxe esse A Luta Pela Esperança (Cinderella Man) com Russel Crowe, Renée Zellweger e o grande Paul Giamatti. Do diretor Ron Howard, o mesmo de Uma Mente Brilhante. Conta a história do boxer Jim Braddock, que passou por maus momentos durante a grande depressão norte-americana nos anos 30 e acabou se tornando um símbolo de esperança para as pessoas da época. Bela história e belas atuações. Gostei da cinematografia, a textura e o uso de pouca luz. Foi bom pra tirar a má impressão de filme de boxe deixado pelo pastelão do Menina de Ouro. Não é grandioso como Touro Indomável, mesmo assim vale a pena ver a dobradinha Crowe-Howard funcionando mais uma vez. Install a beak in the heart that clucks time in arabic A banda mais interessante que descobri nos últimos tempos foi a 65 Days of Static. Ainda não vi resenhas do disco "The Fall of Math" nas grandes revistas, mas parece ser a melhor colaboração da música eletrônica para o post-rock. É uma combinação perfeita de samples e batidas eletrônicas quebradas com guitarras carregadas de distorções. Vem pra quebrar o preconceito de que música eletrônica, feita em computador, é não é música de verdade. Lembra um pouco M83, que é bem mais lento e lúdico, com seus sintetizadores contaminando tudo. 65 Days of Static é bem mais agressivo, mais ácido, caótico e ainda mais bonito. Manejo florestal "Tá certo que agrônomo lida com plantas, mas daí permitir que ele faça manejo florestal cursando só a disciplina Silvicultura é dose. Pois não é isso que a Decisão Normativa 77 do Confea oficializa ?!! Acho muito ruim as justificativas do conselho para permitir isso. Então eu me fodo todo para ser um bom manejador cursando "todas" as disciplinas e vem um zé, faz uma, e já pode sair por aí manejando. Não sei, mas desconfio que eles tem uma inveja dos florestais pelo tamanho dos nossos paus, em comparação com as espiguinhas de milho deles." Lente de ver o mundo, belo blog sobre ecologia. Notícias mais relacionadas com o Estado do Pará. Pena que é um post por mês. Cão entre cães "Raramente (a monogamia) foi honrada na prática; já-já sumirá mesmo como ideal. Não creio que a sociedade voltará à poligamia. Provavelmente nos mudaremos para uma concepção radicalmente diferente de relações sentimentais e amorosas. Nada impede uma pessoa de estar apaixonada por mais de uma pessoa ao mesmo tempo. (...) A realidade de vidas e parceiros múltiplos ficará aparente e a hipocrisia social será revelada. O contínuo aumento da liberdade individual vai mudar a moral sexual, assim como já o fez em outras áreas. Da mesma forma, saltos em expectativa de vida farão com que fique praticamente impossível passar toda a vida com uma única pessoa e amando apenas uma pessoa." Pedro Dória postou uma análise de um consultor financeiro sobre o possível fim dos valores monogâmicos. A discussão é realmente boa, mas discordo. Creio que a tendência é exatamente o contrário, com a monogamia ganhando novas perspectivas e significados. Cada um que se divirta da maneira que mais lhe agrade, mas conseguir se tornar íntimo de uma mulher, conseguir estabelecer uma relação de confiança, em tempos onde isso é cada vez mais raro, é uma das coisas mais excitantes e prazerosas de um relacionamento. Em uma primeira vista, a facilidade de se obter sexo casual pode parecer realmente uma maravilha. Mas depois de algum tempo, traz algumas conseqüências. Essa facilidade faz com que a voltagem sexual cada vez mais tenha sua carga enfraquecida, devido ao fim dos impedimentos eróticos que existem até que se ganhe o presente do sexo. Ao mesmo tempo, o mesmo sexo casual, a Aids, a publicidade, entre outros fatores contemporâneos, fazem com que possamos expandir nossa imaginação a respeito do que realmente pode potencializar nossa experiência de erotismo. O que não falta são idéias simplistas para defender a poligamia. Dizer que o homem é um animal polígamo, cuja natureza é espalhar seus genes para obter o maior número de descendentes possíveis, é apenas comparar o homem a outro animal qualquer. Qualquer animal pode copular, mas só o ser humano pode experimentar a paixão sexual. Algo totalmente diferente do impulso biológico de obter sexo. Tartarugas e mosquitos podem copular, mas só o ser humano pode desafiar, instigar, transgredir, superar, amar: escolher. Dizer que o amor é possessividade vem de uma mentalidade romântica que se nega a morrer. Uma relação amorosa, mais do que um sentimento de posse, tem muito mais a ver com cultivar boas qualidades. Por mais que se goste naturalmente de uma pessoa, amar requer dedicação. E se dedicar a cultivar boas qualidades requer energia. Amar mais de uma pessoa, no caso, torna-se quase impossível. Conversando com minha namorada sobre isso, ela usou uma ótima analogia para falar desse amor poligâmico: "É como cuidar de um canil inteiro". E completou: "É como aquele povo que passeia com cachorros por dinheiro e saí na rua com uns cinco de uma vez - eles não têm uma ligação mais especial com nenhum deles." Por essas e outras, bom mesmo é ser cachorro de uma dona só. Top Spin Adoro passar a manhã de feriado lendo Equação Santa Páz Cego do olho Cortando o centro da cidade, por questão de segundos evitei que um cego batesse de cara em um poste de ferro fincado bem no meio da calçada estreita. Quase não parei de andar enquanto segurei e desviei ele. Que agradeceu e continuou andando. Dois quarteirões depois, uma amiga da faculdade encosta o carro do meu lado e me chama pelo sobrenome. Ela viu a cena e me elogiou pela atitude, achou bonito. Ofereceu carona e convidei pra almoçar, mas já tinha comida esperando por ela. No meio da refeição, olho através de dois casais e vejo o cego sentado sozinho numa mesa de dois lugares, de frente para o canto da parede. Observo ele comer. Ia espetando o garfo nas saladas e levava até a boa. Muito lentamente repetia esse movimento. Ninguém notou ele alí. Passei a comer mais devagar. Fiquei curioso em observar ele. Repeti três vezes e não pesou na barriga a comida do restaurante vegetariano. Ele agora comia esfirras de espinafre com queijo, purê de batatas, legumes cozidos, arroz, de tudo. Quando espetou a casca dura da borda da esfirra, pegou ela com a mão e deu uma mordida. Comi a sobremesa. Quando ele acabou, um garçom conversou com ele e voltou com uma taça de salada de fruta e outra de gelatina colorida. Já tinha terminado e fiquei descansado alí. Ele acabou e ficou descansando também. Sentado com a coluna ereta. Usava roupa muito simples, mas estava muito bem arrumado, camiseta pra dentro, tudo muito bem ajustado. Tênis com laços bem firmes e largos, quase encostando no chão. Ele acabou de comer e ficou quieto, com as mãos cruzadas na mesa. Parecia rezar. De repente, assobiou. Por poucos segundos e voltou a ficar em silêncio. Prestei atenção, assobiou de novo e consegui ouvir. O som veio na forma de uma paz avassaladora. O que contrastou com o resto das pessoas no restaurante, que agora pareciam apressadas e inquietas. Vi um adolescente mordendo uma esfirra ainda na fila da comida. A bengala do cego estava dobrada no canto da mesa. Vendo sua imagem e ouvindo seus curtos assobios, fiquei com os olhos mais hidratados que o comum. Não de pena ou compaixão por ele. Não sentia nada disso. Mas por causa paz e calma que ele emanava. Na verdade, acho que não consegui absorver com naturalidade como ele era capaz de parecer tão bem e tão plenamente feliz sendo daquele jeito. Levantei e fui pagar a conta. Ele ficou lá mais um pouco, descansando. Fiquei pensando se tivesse deixado ele bater de cara no poste de ferro fincado bem no meio daquela calçada estreita. Se o nariz dele chegaria a sangrar. |
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