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Cão entre cães

"Raramente (a monogamia) foi honrada na prática; já-já sumirá mesmo como ideal. Não creio que a sociedade voltará à poligamia. Provavelmente nos mudaremos para uma concepção radicalmente diferente de relações sentimentais e amorosas. Nada impede uma pessoa de estar apaixonada por mais de uma pessoa ao mesmo tempo. (...) A realidade de vidas e parceiros múltiplos ficará aparente e a hipocrisia social será revelada. O contínuo aumento da liberdade individual vai mudar a moral sexual, assim como já o fez em outras áreas. Da mesma forma, saltos em expectativa de vida farão com que fique praticamente impossível passar toda a vida com uma única pessoa e amando apenas uma pessoa."

Pedro Dória postou uma análise de um consultor financeiro sobre o possível fim dos valores monogâmicos. A discussão é realmente boa, mas discordo. Creio que a tendência é exatamente o contrário, com a monogamia ganhando novas perspectivas e significados. Cada um que se divirta da maneira que mais lhe agrade, mas conseguir se tornar íntimo de uma mulher, conseguir estabelecer uma relação de confiança, em tempos onde isso é cada vez mais raro, é uma das coisas mais excitantes e prazerosas de um relacionamento.

Em uma primeira vista, a facilidade de se obter sexo casual pode parecer realmente uma maravilha. Mas depois de algum tempo, traz algumas conseqüências. Essa facilidade faz com que a voltagem sexual cada vez mais tenha sua carga enfraquecida, devido ao fim dos impedimentos eróticos que existem até que se ganhe o presente do sexo. Ao mesmo tempo, o mesmo sexo casual, a Aids, a publicidade, entre outros fatores contemporâneos, fazem com que possamos expandir nossa imaginação a respeito do que realmente pode potencializar nossa experiência de erotismo.

O que não falta são idéias simplistas para defender a poligamia. Dizer que o homem é um animal polígamo, cuja natureza é espalhar seus genes para obter o maior número de descendentes possíveis, é apenas comparar o homem a outro animal qualquer. Qualquer animal pode copular, mas só o ser humano pode experimentar a paixão sexual. Algo totalmente diferente do impulso biológico de obter sexo. Tartarugas e mosquitos podem copular, mas só o ser humano pode desafiar, instigar, transgredir, superar, amar: escolher.

Dizer que o amor é possessividade vem de uma mentalidade romântica que se nega a morrer. Uma relação amorosa, mais do que um sentimento de posse, tem muito mais a ver com cultivar boas qualidades. Por mais que se goste naturalmente de uma pessoa, amar requer dedicação. E se dedicar a cultivar boas qualidades requer energia. Amar mais de uma pessoa, no caso, torna-se quase impossível. Conversando com minha namorada sobre isso, ela usou uma ótima analogia para falar desse amor poligâmico: "É como cuidar de um canil inteiro". E completou: "É como aquele povo que passeia com cachorros por dinheiro e saí na rua com uns cinco de uma vez - eles não têm uma ligação mais especial com nenhum deles." Por essas e outras, bom mesmo é ser cachorro de uma dona só.