"This is my attempt to make sense of the period that followed, weeks and then months that cut loose any fixed idea I had ever had about death, about illness, about probability and luck, about good fortune and bad, about marriage and children and memory, about grief, about the ways in which people do and do not deal with the fact that life ends, about the shallowness of sanity, about life itself."
Guardian Books publica um trecho do livro The Year of Magical Thinking de Joan Didion. É um relato de como foi perder seu marido depois de 40 anos juntos, numa época em que sua filha estava internada com uma doença grave, e entrar em contato com um mundo até então desconhecido.
Às vezes me pego pensando além da conta em situações de perdas. Mulheres de 50 anos que perdem o marido, avós que perdem netos, filhos que perdem pai e mãe ao mesmo tempo. Quase sempre tenho vontade chamar essas pessoas pra conversar em um canto. E perguntar um monte de coisas. Nunca faço, óbvio, no máximo o que acontece é alguma delas pedirem para se abrir. Dou a autorização e as escuto. Situações de perdas acontecem o tempo todo mas nunca se banalizam. O que me atrai nessas situações é que elas e somente elas parece poder despertar algo brutal das profundidades de nossa mente. Uma fragilidade tão grande que estava alí e nunca tinha se mostrado. É o medo que me atraí, o medo desse desconhecido.
Um tempo atrás eu pensava que podia entrar em contato com essa força sem precisar passar pela experiência. Apenas não fugindo e evitando, ela simplesmente daria as caras. Então eu poderia me prevenir, já que a iria conhecer antes do tempo. Poderia chorar a perda de todo mundo antes de acontecer. Andaria de braço dado com a morte, veria ela nos momentos mais felizes e nos momentos mais triste. Veria a morte atacando os momentos felizes, deixando-os tristes e atacando os momentos tristes, deixando-os felizes. Me contaminaria de tal forma que sua toda essa escuridão perderia sua força.
Demorou tempo pra eu perceber que por mais que eu me visse aberto para isso, minha vontade não tinha poder algum sob o desconhecido. Eu não poderia emular situações. Me envergonhei quando reconheci o tamanho da infantilidade dessa minha suposição. Então resolvi esquecer disso tudo e respeitar a vez que cada um vai ter. Deixei tudo pra trás – foi um alívio – e resguardei minhas energias pra quando realmente vou poder olhar com atenção para dentro dessa escuridão. Não vou encontrar nada lá, mas creio que vou poder olhar com mais igualdade para todas as pessoas.