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Um país de analfabetos

O Estadão do dia 8/9 publicou uma pesquisa do Ibope sobre analfabetismo funcional no Brasil que estranhamente não teve nenhuma repercussão. O resultado da pesquisa é que 75% da população brasileira não consegue ler nem escrever satisfatoriamente. Sabem ler e escrever palavras, mas não sabem seu significado, não conseguem entender um texto. Seguindo essa porcentagem, dos 170 milhões de brasileiros, 130 milhões vivem na mais completa e profunda ignorância.

A procuradora do Ministério Público de São Paulo, Luiza Nagib, relembra hoje dessa pesquisa na página 2 do Estadão, num dos primeiros comentários que li sobre o tema. Comentários desgastados, já muito repetidos, mas que em uma pesquisa com resultados desse nível precisam ser ditos novamente. Além de listar o prejuízo de se ter uma população com uma educação tão baixa por todo artigo, ela questiona quantos desses supostos 40 milhões de alfabetizados de verdade gostam de ler? Qual seria a porcentagem?

Tanto na época da publicação da pesquisa quanto agora no artigo da procuradora, lembrei do post do Nova Corja onde o Walter comenta que a democracia brasileira é a mais representativa do mundo. O que alguns achavam um exagero, uso de um recurso hiperbólico, se mostra que não é tão absurdo assim. Walter abre seu texto dizendo: "Cerca de 5% (estou sendo otimista) da população brasileira consegue ler – e entender -, por exemplo, 10 páginas de algum livro do Machado de Assis." E mostra que políticos como o Severino não são uma anomalia, são exatamente o retrato fiel de nossa sociedade.

Dá para perceber as conseqüências de dados como esse em toda sociedade. Ter 75% da população analfabeta funcional afeta todo mundo, ninguém escapa ileso. Do ensino básico até a universidade, dos professores da escola pública até os mais renomados acadêmicos, todos tem uma marca dessa gigantesca ignorância brasileira. Por conseqüência, os estudantes são educados da forma mais porca possível, com uma didática feita para analfabeto funcional. Mas nem é preciso falar falar dos outros. Eu mesmo percebo a enorme dificuldade que tenho para conseguir escrever qualquer coisa que faça sentido pra quem lê.

Até um tempo atrás eu achava que ler não era algo tão importante assim. O importante era ser bom, não importa se letrado ou iletrado. Existem pessoas assim, claro, mas na grande totalidade da população, a influência da ignorância é profundamente negativa. E educação sem livros é impossível. Mas como fazer alguém gostar de ler? Chega a ser um mistério, para não dizer impossível, num país onde não há sequer as condições mínimas de boa educação para que seu povo consiga ler e entender uma frase.

Com sua imensa população vivendo na mais completa ignorância, fica difícil imaginar o Brasil vivendo outra realidade que não essa escancarada atualmente. Com a população sendo uma eterna vítima de uma classe de políticos corruptos em uma escala estratosférica. E corrupção tem tudo a ver com ignorância. Como lembra a procuradora: “a maioria dos nossos governantes provêm dessa camada iletrada da população.” A falta de educação e corrupção andam de mão dadas. Walter disse tudo, não para de ecoar em minha mente: A democracia brasileira é a mais representativa do mundo.