Samjaquimsatva


 

Iluminação passo-a-passo
Nos tempos líquidos de hoje, e mais do que nunca, todos precisamos das mãos amigas de companheiros leais, de companheiros “até a morte”. Mas compromissos “até a morte” são também assustadores. Compromissos eternos limitam e frustram os movimentos que o desconhecido e o futuro exigem de nós. Contudo, sem compromissos firmes e sem sacrifício pessoal, o amor verdadeiro é inimaginável. A esperança para quem desiste das relações estáveis é a de que a quantidade substitua a qualidade. Toda relação amorosa é frágil, então é melhor ter muitas relações amorosas porque assim sempre terei alguém em algum lugar que estará disponível para me dar a mão, para me compreender e para simpatizar comigo. Eis porque muitas pessoas tentam, hoje, reprimir seus sentimentos. Mas os sentimentos são teimosos, eles não são fáceis de apagar como, por exemplo, os contratos jurídicos.

Leiam a entrevista do sociólogo polonês Zygmunt Bauman ao No mínimo.





NYT 10 Best Books

Lista dos 10 melhores livros de 2005 do New York Times.

Joan Didion e seu Year of Magical Thinking mais uma vez aparecendo pra mim. Um dia eu compro. Estou curioso pra conhecer alguma coisa da Zadie Smith. Alguém já leu? Não consigo lembrar qual foi o último livro escrito por uma mulher que eu li. Vocês lembram?





That Was the Worst Christmas Ever

Três EPs de músicas natalinas de uma das grandes revelações da música folk atual: Sufjan Stevens Christmas Album.

Quem não conhece, aconselhor o disco Illinois.





Tudo se Ilumina

Comprei sem nenhuma indicação, sem ler resenhas, sem saber do que se tratava. Confiei nos elogios que via em todo lugar ao Jonathan Safran Foer, 28 anos, catapultado entre os maiores novos autores norte-americanos em seu livro de estréia, Everything is Illuminated, traduzido pela Rocco. Os elogios fazem por merecer. Tudo se Ilumina tem uma narrativa extremamente inovadora. Nunca tinha entrado em contato com nada parecido. No começo estranhei um pouco, achei confuso, não conseguia saber quem estava narrando, achei que não iria entender e que ficaria complexo demais. Mas se estranha só no início. Depois que acostuma tudo fica maravilhoso, simples e iluminado - de uma maneira que nunca tinha imaginado relacionar com essa palavra. E só melhora com o passar das páginas.

A história é simples. Mistura de não-ficção com ficção, Jonathan Safran Foer, apaixonado pela história de seu avô, decide viajar até à Ucrania em busca de uma mulher que o salvou dos nazistas, a fim de desventar melhor a figura de seu avô e a história de sua família. Para encontrar essa mulher, Foer conta com a ajuda de uma foto, o jovem interprete Alex, o seu avô Boris e o cão Sammy Davis Junior Junior. A história dessa jornada é contada por Foer e Alex, totalmente entrelaçadas. Em paralelo é contada a história da família Foer no século passado, a origem dos tatara-tatara-vós dos avós, as histórias de amor, os conflitos, etc. E ainda tem as cartas de Alex para Foer comentando os trechos do próprio livro enquanto estava sendo escrito. Pode parecer confuso, mas o brilhantismo do autor faz com que essa forma seja usada como uma maneira única para tratar de alguns temas como memória, insegurança, medo, paixão, amor, contendo os principais ingredientes da alma humana que reunidos dão a impressão de que absolutamente nada ficou de fora.

Agora estou curioso para ver como adaptaram o livro pro cinema. Especificamente como fizeram com as diferentes vozes narrativas. O filme já estreiou nos Estados Unidos, com Elijah Wood fazendo o escritor. O segundo livro de Foer, Extremely Loud & Incredibly Close, já está sendo traduzido pela Rocco, aos cuidados do Galera. Não aguentei e comprei em inglês. Tá só R$ 41 na LIvraria Cultura, mais barato que livro nacional. Chegou e deu dó de começar de tão bonito que é. Cheio de fotos, letras de criança com giz de cera colorido, grifos de caneta vermelha e vários outros mimos gráficos. Tomara que a Rocco capriche na edicão. Capricharam no Tudo se Ilumina, um dos melhores livros que li esse ano.





Me add que ti add tbm

Nemo Nox: "Você conhece o primeiro sujeito pessoalmente, ele é simpático e bom de conversa. Aí vai ler o weblog que ele escreve e descobre horrorizado que é também semi-analfabeto, colecionador de erros de ortografia e agressor das normas da boa gramática."

Isso é foda. Blog entrega. Fico imaginando se os empregadores usam isso para julgar alguém.





Homem de família
The oddest feeling of all was after the death of my mother, Lucille, 10 years ago. My father had already died, but I always had some attachment to our big family while she was alive. She was from the previous generation, which kept us all going. She was always interested in all of us and would pass on all the news from various uncles and aunts. But when she died, I felt bereft. It seems strange to say now that I felt so lonely, yet I did. It was as if her passing put me into the same category of a kid who was an orphan. Crazy. And this is from a man in his 40s. Truth be told, I feel like shedding a tear here and now just talking about it.

Perfil do Bill Murray no The Guardian.





Pepino ao sugo

Vai ser acirrada a disputa do Bad Sex in Fiction Award desse ano. Alguns dos grandes nomes que irão disputar o prêmio mais temido da literatura mundial são: John Updike, Salman Rushdie, Paul Theroux e Gabriel Garcia Marquez. Ano passado Tom Wolf levou o troféu. Dia 1º de Dezembro sai o novo vencedor. Vale a pena ficar ligado, diversão garantida com os trechos premiados.

E a Nerve continua escolhendo a cada mês a melhor cena de sexo nos lançamentos em inglês no The Henry Miller Award. Ótimos exemplos de como não cair no ridículo dos constrangedores chavões descritivos. I want nookie.





Nosso amigo Woody

JP Coutinho sintetizou, sem deixar nada de fora, tudo aquilo que me faz adorar todos os filmes do Woody Allen. O título do texto, "Meu amigo Woody", remete exatamente à sensação que tive quando vi pela primeira vez os principais filmes dele (graças ao meu amigo Pinheiro). A sensação que sobrepunha todos as outras ao acabar de ver os filmes era simplesmente: Queria ser amigo dele. Chega a ser patético de tão juvenil, mas era inevitável. Era tão agradável, divertido e me deixava tão feliz quanto uma boa conversa com um grande amigo (e grandes amigos que se prezam se encontram poucas vezes durante o ano). Creio que o Coutinho sentiu algo parecido também. E depois que vi "Manhattan" não tive dúvidas de colocar no altar o Woody ao lado de Fellini e Bergman.





Brod
Isso é amor, pensava ela, não é? Quando você percebe a ausência de alguém e odeia essa ausência mais do que qualquer coisa? Mais até, do que ama a sua presença?

Tude se Ilumina, pág. 168





Ruído Branco

Em uma busca rápida na internet sobre o escritor americano Don DeLillo logo se descobre que seus livros são famosos por investigar e retratar tão bem o lado obscuro da cultura norte-americana. É mais um daqueles casos onde o mundo assustador e absurdo criado dentro de um livro acaba se tornando, num futuro próximo, um relato preciso da nossa realidade. Não é raro esse tipo de previsão dos tempos através da ficção. Os mais famosos e citados por suas obras visionárias talvez sejam George Orwell e Aldous Huxley, com 1984 e Admirável Mundo Novo.

Ruído Branco de Don DeLillo pode ser incluído nesse time. Escrito no início da década de 80, prevê a explosão da indústria farmacêutica e das pílulas que prometem alívio para as dores da alma e ao horror do vazio existencial da modernidade. Prevê também uma certa paranóia norte-americana com a contaminação tóxica e armas biológicas. A história é narrada por Jack Gladney, um professor de um curso sobre Hitler em uma pequena faculdade. Gladney se vê exposto a uma área contaminada devido a um acidente tóxico cujo gás pode ser letal. Fica obcecado com a idéia de morte que só se intensifica e o perturba. Em meio essa confusão interna, descobre que sua mulher Babbete (ótimo nome) está tomando uma pílula de nome Dylar, um remédio experimental para eliminar o medo, mais especificamente, o medo da morte. De crítico a esse tipo de medicamento, Gladney passa a querer experimentá-lo para conseguir algum alívio, mas suas tentativas para conseguir algumas pílulas o faz mergulhar em questionamentos sobre ética, compaixão, violência, em um total embaralhamento caótico de seus significados que refletem em acontecimentos em sua vida.

Na primeira parte do livro a narrativa flui muito bem, tem as melhores características: pegada e impacto do conto e lirismo de poesia. O resto do livro, particularmente a segunda parte, achei um pouco enfadonho, aquela coisa de não sair do lugar e isso não servir pra nada. O que me fez continuar lendo com prazer é que é extremamente bem escrito – e traduzido pelo Paulo Henrique Britto. No mais, os discursos que giram em torno do tema da morte são apenas caóticos e sem rumo, sem profundidade ou clarões de discernimento. Como a ironia hoje tende a contaminar todo e qualquer tipo de comunicação, pode-se pensar que todo o falatório mirabolante e aleatório sobre a morte serve apenas para mostrar o ridículo que é ser tão obcecado por ela. Se bem que não creio que essa foi a intenção do autor. Mas reconheço que essa ambigüidade só é possível dentro de um bom livro.





Gravity Fanatic


Pintura da jovem e excelente artista Dana Schutz. Vejam toda a galeria. Artigo e comentários em Edward Winkleman.





Chomsky, Michael Moore e Che Guevara

Quem quiser entrar na casa do JP Coutinho agora tem que passar por um pequeno questionário de bons modos.

E Guilherme Fiuza vai em direção a minha opinião de que a militância anti-Bush consegue ser mais imbecil que o próprio Bush.





Tchekov's Fuck You
Não é a escritura em si mesma que me dá náusea, e sim o entorno literário, do qual não é possível escapar e que te acompanha a todas as partes, como à terra a sua atmosfera. Não creio em nossa intelligentsia, que é hipócrita, falsa, histérica, mal educada, ociosa; não acredito nela nem sequer quando sofre e se lamenta, já que seus perseguidores procedem de suas próprias entranhas. Creio nos indivíduos, numas poucas pessoas espalhadas por todos os lugares -- sejam intelectuais ou camponeses -- neles está a força, ainda que sejam poucos.

Outros conselhor de Tchekov no Hotel Hell.





Chumbawamba

Pitchfork apresenta As Piores Capas de Discos de Todos os Tempos. Valeu, Dani Bananinha.

Compre a tradução da Rocco do livro de estréia do Jonathan Safran Foer, Tudo se Ilumina. Vamos ver.

Acompanhar mulher por uma tarde toda em lojas de roupa é a maior prova de amor possível.

Amanhã vou pra casa. Não posso esquecer de comprar o pão gigante pra minha vó.

Coisa que preciso fazer sem falta quando chegar em casa: jogar tênis.

Agora preciso deitar por uma hora pra tentar ir no Pizza Hut mais tarde.





Remember The King

O Estadão de domingo sempre vem mais recheado e divertido na tentativa de alegrar nosso domingo. No meio do primeiro caderno de hoje traz uma matéria sobre o recente casamento de mintirinha do Collor. Repercutem com críticas da sua ex-mulher, Rosane, que acha que tudo foi feito para atingí-la. O melhor de tudo, no entanto, são as retrancas com entrevista com dois empregados da família. Uma decidiu ficar do lado de Rosane, o outro ao lado do nosso ilustre ex-presidente. Inspirado nos pilares do jornalismo buickiano, tomo a liberdade de reproduzir as duas entrevistas abaixo:







Aquietando o facho

O Will Oldham, o Bonnie Prince Billy, um dos maiores letristas da música folk atual, lançou um disco ao vivo chamado Summer in the Southeast. Como eu previa, não é bom. Tem a qualidade de ser espontâneo e descompromissado. Dá a impressão de que foi gravado no rancho do Oldham, durante um churrasco com os amigos. Ele ao vivo é meio selvagem, uiva e imita cachorro durante a “Wolf Among Wolfes”. Mas perde sua melhor característica, o intimismo. O que faz parecer que seus discos em estúdio na verdade foram gravados em sua casa, em um dia especial em que ele conseguiu impregnar sua voz com tanta energia, sinceridade e ternura de tal forma que parece impossível de se reproduzir igual uma outra vez. Nos discos os arranjos são perfeitos, abraçam as letras da músicas. Ao vivo rola um descompromisso na base do jam session. Prefiro o Bonnie Prince Billy Sings Greatest Palace Music, onde ele regrava músicas de toda sua carreira em estilo country. Mas é o mestre, então é bom ter.

No mais, tenho postado pouco esses dias. Nada que ando topando me parece interessante ao ponto deu querer compartilhar. É fase, me disseram. Crise por fazer parte da sociedade da informação. Pode ser. Mas parece que cada vez mais é importante saber aonde e no que gastar nossas energias. Tô meio cabreiro com essa agenda dos blogs de serem um lugar de atualização constante. Cada vez mais a internet se parece com a televisão, onde ficamos zapeando os canais por horas sem parar em nenhum lugar. Tenho fugido um pouco desse zapear e me refugiando mais nos livros, onde toda a energia gasta gera uma satisfação instantânea e duradoura. É uma troca de uma mente obsessiva, dispersa, viciada em superficialidade e inquietação por concentração, profundidade, estabilidade, paciência e sensação de relevância. Relevância, palavra complicada. Mas a verdade é que cada vez mais sinto como a literatura é enriquecedora e traz ótimas qualidades embutidas. É contraditório, porque supostamente ela não serve pra nada. Quando tento listar suas qualidades, acabo não encontrando nenhuma, é como se elas se afugentassem. Talvez isso que a faça interessante. Os detalhes escondidos e as menores observações talvez seja o que faz toda a diferença, nos livros e na vida.

Nesse tempo, comecei a ler o Infinite Jest, o mamute de quase 1.100 páginas do David Foster Wallace. Comprei porque tem que ter, nem ia ler, mas já passei da 100. O que me deixou bem feliz. Pensava que seria impossível. O vocabulário é muito rico, as sintaxes bizarras e a narrativa sofisticada demais. O segredo é ir com calma. Ter paciência quando se empaca em algum parágrafo tendo que consultar o dicionário a cada frase. Mas em outros trechos a leitura flue numa boa. Até agora tem sido incrível como ele é capaz de sustentar uma escrita extensa e detalhista tão interessante. Se for assim até o final, se não tiver partes tediosas, que pareçam enrolação ou exibicionísmo enciclopédico sem sentido, vou começar a entender a dimensão da genialidade do David Foster Wallace. Comecei a ler em paralelo o Ruído Branco do Don DeLillo. Depois de passar pelo Ulisses e agora encarar o Infinite Jest, parece que aumentei meu fôlego de leitura. É como na natação, e é bom igual. Comecei o Ruído Branco ontem e parei na 60. Parece ser uma boa alternância de leitura, só que vai acabar bem mais cedo.

Bons livros sempre dão a impressão que chegam no momento certo. Comecei a ler o Infinite Jest com essa dita fase anti-busca-incessante-por-informação. O que é interessante porque a matéria-prima da genialidade do DFW é a própria fragmentação e excesso de informação da sociedade contemporânea. A diferença é que ele transforma absolutamente tudo isso, que seria prolixo e sem valor, em experiência relevante. Através do absurdo do vazio existencial e da incapacidade de seus personagens de sentirem algum tipo de satisfação, ele aponta para o que vale a pena. O que mostra como nada deve ser evitado e tudo é experiência reveladora. Ele é mestre também em sustentar descrições gigantescas do fluxo de pensamentos de pessoas depressivas, viciados em droga, viciados em entretenimento, pessoas transtornadas em geral. Ter entrado em contato com essa forma microscópica de observação do nosso mundo, comecei a notar que cada vez o tédio anda dominando a experiência de vida das pessoas.

Comecei a ver o tédio em todos lugares. É meio desesperador. Ontem na Fnac a mulher do caixa me deu “boa tarde” como uma intonação que quase foi capaz de estragar meu dia. Na faculdade foi surreal perceber o tédio que há por trás da relação professor-aluno. O próprio professor se acostumou a dar aula com ninguém prestando atenção. Ele nem se abala mais com isso, vai dando a aula como um robô até dar o horário. A conversa paralela denuncia a vontade dos alunos de não estarem ali. O tédio. No conteúdo das conversas paralelas, tédio. Uma amiga confidencia: Estou esgotada do meu ambiente de trabalho, não suporto mais, e ainda tenho que vir aqui perder meu tempo. E pede desculpas pelo desabafo. Respondo: Se tá tão ruim, larga, procura outro coisa. Ela: Mais se eu largar vai ser difícil de achar outra coisa, daí o que vou ficar fazendo durante os dias? Disse isso como se o tempo livre fosse a maior das opressões. Trabalho, tédio, tempo livre, tédio. Com os livros é o contrário. Boa literatura é como uma injeção de vida. Apesar de se estar parado, aquilo tudo faz com que a freqüência da pulsação da vida mude, nos enche de interesse e boa vontade para toda e qualquer forma de experiência, não priorizando apenas o que nos atrai e deixando de lado a que não nos interessa.

Acho que continuarei nesse ritmo. Se eu tropeçar em com alguma coisa coisa massa venho aqui compartilhar. Mas preciso vir rápido, senão passa um tempo e já acho que não merece. Que nem ontem quando vi duas velhinhas bem parecidas, de óculos redondor iguais, dentro de um Honda Civic, passando pelo drive-thru do McDonalds, pegando um monte de sacolas de lanches e tentando ajeitá-las em cima do painel do carro. Em plena 22h duas velhinhas sozinhas dentro de um Honda Civic se abastecendo de lanches do McDonalds. Apesar de estarem agindo como se nada estivesse acontecendo de diferente, pareciam ser as pessoas que mais se divertiam em toda a cidade.





ASFTIWNDA

Renato Parada says:
ATTACHÉ

Daniel Galera says:
W/R/T