O Estadão de domingo sempre vem mais recheado e divertido na tentativa de alegrar nosso domingo. No meio do primeiro caderno de hoje traz uma matéria sobre o recente casamento de mintirinha do Collor. Repercutem com críticas da sua ex-mulher, Rosane, que acha que tudo foi feito para atingí-la. O melhor de tudo, no entanto, são as retrancas com entrevista com dois empregados da família. Uma decidiu ficar do lado de Rosane, o outro ao lado do nosso ilustre ex-presidente. Inspirado nos pilares do jornalismo buickiano, tomo a liberdade de reproduzir as duas entrevistas abaixo:
'Ele bate nos empregados'
Terezinha Oliveira, criada da família, ficou do lado de RosaneA empregada doméstica Terezinha Francisco Meloni de Oliveira trabalha para os Collor há 14 anos - entre idas e vindas. Já deixou o emprego e voltou por quatro vezes. Na separação, ficou do lado de Rosane. Hoje trabalha para a patroa, na mansão de Maceió. Diz que foi agredida pelo ex-presidente - mas ainda assim gosta dele.
Por que você ficou do lado de Rosane Collor?
Voltei a trabalhar aqui por causa dela. Eu gosto do "seu" Collor. Mas ele é muito nervoso. Agredia a gente. Já perdeu o controle comigo.
Como assim ?
Sabe aqueles lustres que são também ventilador de teto? Uma vez ele mandou eu ligar o daqui. Eu mexia no interruptor, mas não conseguia. Pois o homem levantou, agarrou a gola do meu uniforme e saiu me puxando pelo pescoço da sala até o terraço. Eu chorei muito, fui embora, mas aí ele mandou me buscar. Quando eu cheguei, me deu um abraço e falou: "Me perdoe se eu fiz alguma coisa que lhe magoou." Dona Rosane estava para Miami e ele pediu para não dizer nada a ela. De outra vez, ele saiu de casa por volta das 11 horas e mandou eu abaixar o toldo do terraço. Como choveu, eu não abaixei, para a água não pegar nas coisas. Ele chegou e começou a gritar. Dizia assim: "Você quer me ver nervoso? Pois eu estou nervoso!"
E por que você continuou a trabalhar com ele e não denunciou?
Ôxe, e você acha que acontece alguma coisa com esse povo? Para esse pessoal, não existe lei, não. Mas eu também não dava mole para ele. Saí e voltei várias vezes. Também não quero ficar jogando pedra porque tenho o que agradecer. Uma vez, quando eu nem estava trabalhando aqui, liguei pra ele em São Paulo. Ele veio resmungando, dizendo que eu só ligava quando precisava de alguma coisa. Eu disse que a minha filha tinha um problema de tireóide, de ficar desmaiando, e estava tomando soro de pé num hospital público de Maceió. Ele mandou o motorista ir buscar e levar para um hospital particular. Ele tinha essas coisas. Mas batia em empregados.
Bateu em quem?
No Cleverson, que faz as compras e é motorista. Foi num domingo de manhã. O seu Collor ficou com raiva porque não tinha pãozinho de seda. Bateu nele com uma cadeira, que está aqui quebrada até hoje. O Cleverson agora trabalha de novo para ele. Já isso eu não fazia. Nesse caso, eu ia embora. (Procurado pelo Estado, Cleverson Silva disse que prefere não falar sobre o assunto. "Não quero comentar isso", disse.)
Na separação, você torce por quem?
Eu trabalho para dona Rosane, né? Mas os ricos são assim. Daqui a pouco eles se entendem de novo. Mas voltei para cá porque era para ficar com ela.
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'Ele me maltrata. Mas eu gosto'
Miguel Stam, o mordomo, torce pelo ex-presidente na separaçãoMordomo da mansão do ex-presidente Fernando Collor de Mello em São Paulo há cinco anos, Miguel Stam tomou as dores do patrão na batalha conjugal com a ex-primeira-dama. A pedido de Collor, Miguel contratou uma transportadora para mandar as roupas da ex-patroa para Maceió. E decorou pessoalmente a igrejinha de Alagoas para o casamento com a nova mulher.
Por que, nessa separação, você fica com o ex-presidente?
A separação fez muito bem a ele. Está parecendo um garoto de 15 anos, muito apaixonado e sem tomar todos aqueles remédios que ele tomava para se controlar. A dona Rosane ficava o tempo todo trancada na parte de cima da casa, com nariz empinado. Quando teve depressão, eu fiz o que pude. Tentava levar para tomar banho de sol, levava a comida. Depois ela ficou boa e voltou a ser como antes. Aí um dia o doutor Fernando me mandou empacotar as coisas dela e despachar para Alagoas. E hoje ela me odeia mais do que à própria Caroline.
Rosane Collor diz que o ex-marido não devolveu as jóias dela...
Perguntei ao doutor Fernando o que fazer com elas, porque a transportadora pede um seguro à parte. Ele mandou guardar. Fiquei cuidando das jóias, mas dia desses ele veio aqui e levou tudo. Fiquei aliviado. É muita responsabilidade cuidar de coisas assim. E eu já cuido dos quadros e dos tapetes.
É verdade que o ex-presidente agride empregados?
Olha, eu trabalho há anos para gente da sociedade. Asseguro que não existe um que não se altere com os empregados. Eles ficam mais com a gente do que com os filhos, é muito tempo! Então a agressividade deles com a gente é válida. E quem ama maltrata mesmo.
E ele já te maltratou também?
Ah, claro. Quando não maltrata, eu sinto falta. Eu gosto, adoro bronca. Já trabalhei para muita gente importante e famosa em São Paulo, sou considerando um bambambã em termos da minha profissão. Mas também erro. E aí alguém tem que mostrar. O doutor Fernando é duro, maltrata assim: olha firme, fica vermelho, bate na mesa, mostra os dentes, dá um grito. Fala assim "puuu...", mas não termina o palavrão. Comigo, nunca passou disso. Com outros, já não sei.
O que você acha da nova patroa?
Ela é muito linda e muito meiga. Como sou homossexual assumido, fui com ela comprar lingeries da loja Fruit de la Passion, nos Jardins. Nada melhor do que um homossexual para essas coisas... Ela é uma pessoa alegre. Diferente da dona Rosane, que podia ser muito insuportável, incompreensível. Às vezes eu procurava ficar semanas sem ver. Eu arrumava a bandeja e dizia para a arrumadeira: "Toma, leva lá pra madame." Ah, não dá, né?
(O ESTADO DE S. PAULO Domingo, 13 de Novembro de 2005, A14)