Samjaquimsatva






Asilo dos Imortais

Todo fim de ano entrego sabonetos no asilo a pedidos da minha vó. Fiz isso hoje. Ninguém gosta muito da tarefa, de ter que entrar lá, acham triste. Pior que enterro, já ouvi. Eu já não ligo. Minha vó sabe disso, então só pede pra mim.

A maioria dos idosos que vi ano passado estavam lá hoje. Até os mais fracos, que eu imaginava ter pouco tempo de vida. O mais triste no asilo são os idosos conscientes. A grande maioria já perdeu todo o interesse pela vida, de conversar, de levantar o rosto. Os idoso sãos, não. Ainda estão cheio de vida e contrastam naquele meio. É como se algum de nós estivesse alí.

Desejei paz a todos e fiquei um pouco entre eles. Uma senhora puxou conversa. Na verdade, fez uma observação: Veio aqui para ver o que é a tristeza. Respondi: Que tristeza? Ela apontou para as outras colegas. Faz parte da vida, mas senhora ainda está bem, com a cabeça boa. Estava lá há dois meses: Uma cabeça boa para ver todos os dias no que vou chegar, né? As mais novas, conscientes, cultivam uma enorme esperança de voltar pra casa. Chega a ser o passa-tempo delas. É cruel.

É uma experiência e tanto ir entregar os sabonetes no asilo. A cidade depois fica cheia de vida. O que me perturba é imaginar que, no próximo ano, quando eu for entregar mais sabonetes, eu encontre a senhora que conversei por lá. Mas vou me esquecer disso tudo em menos de vinte minutos.