O The Guardian pediu para a Royal Society of Literature nomear os 10 melhores livros para crianças na fase escolar. Não especificaram a idade. Supõe-se que sejam crianças entre 7 e 15 anos. Publicaram a lista e haviam obras como “A Odisséia” de Homero, “Dom Quixote” de Cervantes e até “Ulisses” de Joyce. Desde então está rolando uma discussão no Culture Vulture sobre a escolha desses livros. Não estariam superestimando essas crianças demais? Não há um exagero em querer que elas leiam esses livros?
Me pergunto até que ponto esse tipo de indicação pode ser um problema. Ou seja, causar o efeito inverso do desejado, afastando as crianças dos livros. Me esforço para lembrar que tipo de influência meu profesor de literatura no colégio, Menalton Braff, teve ao indicar Machado de Assis e Guimarães Rosa quando tínhamos 15 anos. Aquilo foi útil a alguém? Alguém entendeu? Ele poderia indicar e ensinar outras coisas?
É complicado querer apontar culpados nesse tema, mas considero um erro a indicação dos grandes clássicos da literatura brasileira a jovens de 15 anos. E essas listas de livros para vestibular. E provas sobre livros, valento nota. Parece que vai contra a própria literatura, contra o processo de formação do leitor. Um processo lento, gradual, sem forçar a barra, e, além de tudo, divertido, prazeiroso. Se não for assim, tem como ser de outro jeito?
Por outro lado, penso que poderia ser pior se nem a grande literatura fosse indicada. Nossa cultura televisiva também tem um forte impacto nisso. Ela evita a reflexão e profundidade a qualquer custo. Uma idéia de entretenimento tão pobre e aprisionante que pequenos momentos de reflexão, ficar em silêncio ou sem nenhuma distração é sinônimo de tortura para nossa geração.
O Láudano comentou em post recente a preocupação que tem com a formação escolar de seu filho. Ele promete falar mais sobre o assunto, mas já previne os pais almejam uma educação normal para seus filhos: “Se você, pai de guri(a) de 5 a 8 anos não se munir de MUITA paciência e meter a colher nos estudos do seu filho, pelo menos nas férias, ele vai, com quase toda certeza, se tornar um analfabeto funcional.”
Acho que o Láudano não quer forçar seu filho desde pequeno a ser um leitor assíduo ou um devorador de livros. Quer apenas que ele consiga ler um texto e entendê-lo. Que isso não seja uma tarefa extremamente difícil e alienígena. Daí pra querer o filho leia “Ulisses” ou qualquer literatura feita para adultos, é como um matemático querer que seu filho logo cedo fique íntimo de cálculo integral.
Para dar um fim a discussão, o editor do Culture Vulture pede aos leitores que façam suas listas dos 10 melhores livros para crianças de 15 anos. Não faço idéia de como seria minha lista. Não seria nada politicamente correta, com JK Rowling e JRR Tolkien. Seria mais na linha de Henry Miller. Já que foi a primeira coisa que li altamente impactante no quesito de estabelecer uma comunicação direta. Mas é complicado indicar essas coisa. Se tratando de literatura, de como o gosto acontece, chega a ser algo quase esotérico: ou o click acontece ou não acontece. E não há nada de especial ou glamoroso em torno disso.