Samjaquimsatva






Capote

Philip Seymour Hoffman interpretando Truman Capote é parecidíssimo com Daniel Mojo Pellizzari. Muitos trejeitos são idênticos. Impressionante. Tive dificuldade pra permanecer quieto e concentrado nos primeiros dez minutos do filme por causa da voz fina que Hoffman faz. Espasmos de risada escapuliam em momentos inesperados ao menor "thank you" que fosse. Foi bom ter ido sozinho. Assim isso não potencializou e passou bem rápido.

O filme é uma obra-prima. Trata do processo de pesquisa que o jornalista e escritor americano Truman Capote realizou para escrever seu livro de maior sucesso, "A Sangue Frio". A obra é um dos maiores clássicos do jornalismo literário e fez Capote o escritor mais famoso dos Estados Unidos nos anos 70. A história é sobre o assassinato de uma família inteira em uma cidade pacata no interior do estado de Kansas.

O que era pra ser apenas um artigo para a revista New Yorker sobre como um crime desses afeta uma pequena população rural do interior dos Estados Unidos toma as proporções de um grande livro quando Capote faz amizade com um dos assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr). Passa a ajudá-lo arranjando um bom advogado que consegue ganhar vários adiamentos para a sentença de morte por enforcamento. Capote tem a ousadia de humanizar um assassino cruel, e faz isso naturalmente, depois de reconhecer várias semelhanças entre suas vidas. Como se eles tivessem morado em uma mesma casa, sendo que um saiu pela porta da frente, outro pela de porta dos fundos. É o revolucionário do livro.

Philip Seymour Hoffman, além dos incorporar os maneirismos e a voz de Capote, expressa muito bem a contradições dos sentimentos do escritor, de postura sempre muito quieta e delicada, contrastando com seus sentimentos complexos. É o que dá uma enorme carisma ao personagem. Hoffman já era reconhecido como um bom ator, mas sempre em papéis coadjuvantes no estilo do anti-herói americano. Agora ele dá um salto pra muito além disso. Pra mim é indiscutível: o Oscar de melhor ator desse ano vai pra ele.

“A Sangue Frio” foi o último livro que Capote escreveu. O trabalho foi tão desgastante e perturbador que ele não conseguiu produzir mais nada depois. A atuação de Hoffman produz uma sensação ilusória comparável com essa. É como se, depois de "Capote", ele também ficasse incapaz de realizar outra atuação tão forte e marcante novamente.