O jornal israelense Haaretz aproveitou que David Remmick, editor da New Yorker, estava em Jerusalém para escrever um artigo sobre a vitória das eleições parlamentares pelo Hamas e tentou desvendar a fórmula do sucesso da revista.
Considerada a mais inteligente e elegante publicação cultural do planeta, a New Yorker faz sucesso mantendo-se fiel à linha editorial desde sua criação, em 1925. Houve alguns tropeços: em 1980, com o auge da cultura televisiva e em 1990, quando a editora Tina Brown não foi muito feliz na tentativa de colocar a revista em pé deixando-a mais hollywoodiana.
David Remmick foi o editor responsável por colocá-la de volta ao seu eixo de sucesso. Conseguiu, tanto que recentemente superaram a marca de 1 milhão de leitores. Isso sem matérias de celebridades, sem muitas fotos, sem textos curtos. Não buscando se adaptar às tentativas dos grandes jornais de angariar novos leitores, principalmente os mais jovens, produzindo textos mais leves e com menos profundidade, característico da maioria dos grande portais da internet.
O sucesso da revista, segundo Remmick, tem mais a ver com milhares de pequenos detalhes do que com um fato isolado. Houve certo corte nos gastos, aumento de assinantes e, conseqüentemente, melhoria nos anunciantes. Nada de muito especial e revelador. O editor parece responsabilizar mesmo o sucesso pelo conteúdo de seu produto.
Um desses “pequenos detalhes” é a insistência em fazer uma boa checagem dos fatos, o que Remmick considera uma marca registrada da revista. Lá, quando alguém é entrevistado, é submetido às perguntas duas vezes. Uma pelo repórter e outra pelo fact-checker, um funcionário responsável para checar cada informação passada pelo entrevistado.
“Quando eu vou entrevistar, por exemplo, Sheikh Naif Rajoub, um dos líderes do Hamas, vou com um tradutor, porque não falo árabe. Não gosto de gravar, porque isso é trabalho dobrado. Escrevo bem rápido e sei o que omitir. Isso não é um problema. Porque depois, no escritório, nossa fact-checker árabe – uma mulher líbano-americana muito talentosa - irá ligar para Sheikh Rajoub e interrogá-lo, fato por fato. Ela vai perguntar, ‘Você disse que nunca irá reconhecer Israel – é verdade?’ E ele irá confirmar ou refutar. ‘É verdade que você nasceu em 1948? Que você tem três filhos?’ Todo fato que se encontra em meus artigos são checados e confirmados.”
O que não significa que sempre que uma fonte negue o já dito torne sua declaração automaticamente inválida.
Remmick também não perde o sono tentando supôr o que seus leitores querem. Não encomenda pesquisas sobre novas tendências nem mede o grau de satisfação de seu público. “Faço o que eu quero, o que interessa a mim e a um pequeno grupo de editores que influenciam o estilo da revista”, diz, deixando claro que não está sendo arrogante.
O ponto forte da New Yorker – e seu maior mérito e mistério – é a capacidade de proporcionar a seus escritores os elementos para poder produzir matérias dos mais variados temas com grande profundidade, quantidade de detalhes, reunindo no texto vários olhares diferentes sobre um mesmo assunto. Algo que necessita de tempo para que o repórter se familiarize com o tema a ser retratado. O que faz com que alguns jornalistas possam trabalhar em um único artigo com um deadline de até seis meses.
O mistério da New Yorker não é muito bem respondido por Remmick. Como ela sobrevive assim? Indo contra todos os cortes e apertos que os grandes jornais submetem seus funcionários e conteúdo na briga para não perder leitores para a televisão e internet. Algo que prejudica o caráter investigativo do jornal, o primeiro a ser deixado de lado, já que esse requerer de tempo e dinheiro. Será a estratégia dos jornais a errada? A formação de seus jornalistas? Lembrando que todos seus funcionários são assalariados; poucos são freelancers. E salários bem generosos. “Espero em troca trabalhos bem profundos pelos bons salários”, diz Remmick.
Qual o segredo do sucesso da New Yorker? Talvez por ter um time excelente, com os melhores profissionais do mundo reunidos para tratar de temas com a profundidade e elegância que a revista propõe e alcança com primor. Sendo a mais especialista e famosa nisso, tem o reconhecimento de um considerável número de leitores em todo mundo. Simples assim.